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quinta-feira, 3 de março de 2016

Enegrecendo o YouTube: fazendo o que a TV nunca fez


A televisão está perdendo cada vez mais espaço para Internet e para nós negros isso pode ser uma grande oportunidade de reverter a ausência da diversidade em veículos de comunicação que ainda persiste em pleno século XXI. Vivemos num pais negro, e apesar dos desinformados de plantão insistirem, não somos a minoria. A mídia nacional – e tradicional – está concentrada nas mãos (alvas) de pessoas que construíram a imagem do Brasil como o que eles gostariam que fossem, se inspirando em países de maioria branca, por racismo ou complexo de inferioridade ou os dois. Com 65 anos, a TV brasileira ainda não reflete a sua população e seus maiores consumidores.

Globo ironizando as críticas à sua programação excessivamente branca

A preguiça intelectual e limitação cultural (daqueles grupo que acha que somos minorias), não vê o enegrecimento da mídia, como bonito. Associa a negritude à pobreza, violência e hipersexualidade. Ninguém melhor que os próprios negros para reconstruir a representatividade negra e mostrar os talentos que o racismo impediu de florear. E a Internet é o caminho.

Com custo relativamente baixo, dependendo do tipo de produção, mas munido de criatividade e dedicação, qualquer um pode usar sua câmera do celular e criar um canal no YouTube, plataforma que permite o compartilhamento de vídeos, gratuitamente.

O Mundo Negro recentemente publicou um texto sobre as vlogueiras negras, que são as meninas que usam o YouTube para compartilhar seus conhecimentos sobre beleza negra. Assunto que merece destaque vez ou outra na TV, mas que interessa a pelo menos 51% da população. O canal de vloggger PH Côrtes que fala sobre história negra de uma forma muito original virou notícia em dezenas de veículos de comunicação no Brasil. Há demanda.

Apresentadores, jornalistas, mãe, crianças, comediantes, atrizes, produtores, historiadores e músicos negros. Timidamente, mas de forma crescente, pessoas negras estão fazendo sua própria revolução por meio do maior site de vídeos do planeta.

Qualidade técnica, conteúdo nerd e criatividade da periferia 

Apesar da maior parte dos produtores de conteúdo do YouTube, não somente os negros, mas em geral, sofrerem com limitações técnicas, que resultam em problemas de iluminação e som, a gente pode encontrar vídeos dignos de horário nobre na TV, como é o caso do canal recém lançado Bola 8oito.

“Lazaro Gianecchini e Tais Dieckmann, estão fazendo um trabalho até que bonito para sua raça”. Essa é a fala de Paulo Lumumba, celebridade fictícia representada pelo ator Eduardo Silva no vídeo “O que não vi da Vida”, uma versão sarcástica e de forte crítica racial com o formato visual semelhante ao quadro do Fantástico “O que vi da vida” . Esse é o primeiro trabalho do canal.


”A exigência é em primeiro lugar é pela qualidade audiovisual. A referência de ficção em YouTube hoje é Porta dos fundos. É ali que devemos nortear nossa qualidade. A ideia de compor a equipe de cada vídeo com profissionais negros da área audiovisual é mostrar que estamos aí e temos outras competências além de carregar a van”, explica Newman Costa, 30, Diretor Audiovisual de São Paulo e responsável pela direção e fotografia do canal. O roteiro do primeiro filme é de Rogerio Ba-Senga, a produção de Issis Valenzuela. Thiago Domingos é responsável pelo som e edição e arte é de Sil Elis .

Para Costa o corpo negro não é” senso comum” e até o YouTube acaba sendo um dos desafios para produtores negros. “. É aquele racismo que já impregnou no DNA por conta da defasagem de referências de negros sendo representados como pessoas normais ”, explica o diretor, em relação as dificuldades em emplacar projetos protagonizados para afro-brasileiros na plataforma.

“Esse universo da cultura pop ou nerd como alguns chamam, é pouco acolhedor as minorias. Há poucos negros, poucas mulheres falando sobre o assunto. Eu, por exemplo, não conheço nenhum YouTuber negro que fale sobre cinema, quadrinhos e games”, alerta Betina Costa, 22, estagiária em TI em Porto Alegre (RS) e apresentadora do canal Claquete 16, que fala sobre filmes, seriados e cultura pop. O canal está no ar desde de 2013, feito inicialmente em parceria com um amigo. Depois de uma pausa, ela retomou o canal sozinha no final do ano passado.


Betina posta novos vídeos toda a primeira terça-feira do mês. O longo intervalo entre as publicações, vale a pena, pois todos os vídeos mostram a pesquisa tanto de texto como de imagens da jovem gaúcha que tenta conciliar o trabalho do canal com outras atividades.

“Normalmente eu escolho um tema e pesquiso sobre ele, às vezes é algo “aleatório” como o vídeo sobre traduções e em outras um tema muito falado no momento, como por exemplo, o Oscar. Depois eu faço um roteiro combinando o conteúdo com um pouco de humor, gravo (com a ajuda de um amigo para facilitar, quando possível), realizo a edição e público no Canal”, relata Betina sobre o processo de produção.

O Esquenta da Globo pode se proclamar o programa das periferias, mas quem faz vídeos divertidos e gravados direto da laje é Valtinho Rege, do canal Energia Positiva. O nome do canal mostra como o jovem paulistano superou as agressões sofridas por ser negro, gay e pobre (ele relata em um dos vídeos que perdeu os dentes de leite, aos seis anos, apanhando de colegas que o achavam muito afeminado) em vídeos divertidos e muito bem editados. O espaço além de ser usado pelo vlogger para omitir sua opinião sobre diversos assuntos, ainda inclui entrevistas com artistas e pessoas da comunidade. No vídeo abaixo ele viajou para o Rio de Janeiro para mostrar como o funk contribui para a autoestima dos moradores das favelas no RJ.


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Prestigie as produções negras no YouTube:

Bola Oito

Claquete 16

Energia Positiva:

Fonte: Mundo Negro.

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