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terça-feira, 8 de março de 2016

Nossos Passos Vêm de Longe: Mulheres Negras em Marcha no Brasil

Um legado de luta, foi isso que, nós, mulheres negras apresentamos na Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver realizada no dia 18 de novembro de 2015. Foram mais de 50 mil mulheres negras dos quatro cantos do país, quilombolas, jovens, trabalhadoras rurais, domésticas, lésbicas, trans, mães, irmãs, filhas, netas denunciando com suas bandeiras num só eco o sistema e a lógica de racista, sexista, intolerante, homolesbofobica que impera neste país, além da subalternidade, marginalização e opressão a que as mulheres negras são submetidas, sustentando ao longo da história o modelo excludente e desenvolvimentista do Brasil. Foi o momento de gritar contra o impacto negativo que as desiguais raciais e de gênero provocam na vida das mais de 49 milhões de mulheres negras desse país.

Foto: Mariana Leal/MEC

Denunciamos o genocídio da juventude e da população negra; O mercado de trabalho racista, porque ainda temos menor renda e vivemos em situação precária de trabalho; O racismo institucional, que nos atinge na saúde, educação, moradia, lazer e no acesso a preservação da cultura; Contra o Racismo Religioso; Contra a criminalização dos movimentos sociais; As violências provocadas pela lesbofobia/homofobia; A negação da participação dos corpos negros nos espaços de representação política; e pela nossa liberdade.

Nas relações trabalho marchamos junto com as trabalhadoras domésticas para reafirmar que o trabalho doméstico ainda é um campo de análise que nos ajuda a enxergar a realidade de exclusão que vivenciamos na sociedade brasileira.


De acordo, com o Observatório Brasil para Igualdade de Gênero, as mulheres negras são as que têm pior condições de trabalho (baixas remunerações, precariedade de garantia de proteção social e trabalhista), apesar das mulheres negras representar a maioria no trabalho doméstico, quando se tem o trabalho doméstico legalizado (com carteira assinada) as mulheres brancas (29,3%, 2009) tem maior percentual e negras (24,6% no mesmo ano), reforçando o caráter estruturante da discriminação racial e do racismo que permanece e é fruto do regime escravocrata. Mesmo com o avanço das leis trabalhista sobre o trabalho doméstico (PEC das Domésticas), se apresenta um cenário negativo com o aumento do desemprego na categoria.

O legado de liberdade fez com que diversas lutas, cores e gerações marchassem para manter vivo o sonho de transformação com a força e a vitalidade das mulheres negras no intuito de apresentar diferentes caminhos para seguir, como em uma encruzilhada, um novo caminho negro e feminino.

O caminhar das mulheres negras é como um pássaro Sankofa, que segue em frente sempre olhando para trás com o horizonte na ancestralidade como traduz nosso legado de resistência. Na Marcha das Mulheres negras afirmamos para o mundo que “os nossos passos vêm de longe” e as nossas mais velhas abriram o caminho como uma grande irmandade - Geled​és, Ialodês e Boa Morte.

Esse Legado de resistência, nos guiam e abrem os caminhos para criar estratégias, dentro e fora do espaço religioso, alimentando nossa alma, nossos corpos e nossas vidas, como fazemos com as árvores. Mulheres anunciadoras de uma nova cosmovisão de fazer e viver mundo! Na Marcha das Mulheres Negras anunciou-se um novo tempo construído em todos os lugares e com todas as vozes.

O legado de Matriz Africana no Brasil é das mulheres negras e os novos tempos serão anunciados, por nós, movimento de mulheres negras. Somos nós, as Geled​és, Ialodês e Boa Morte, que vai apontar as encruzilhadas para fortalecer a luta de enfrentamento ao racismo e a construção de uma sociedade forjada no Bem Viver. Um caminhar contra hegemônico, onde a liberdade, a ancestralidade e a resistência reescreverão os caminhos da história.

Um Novo Mundo é Possível com as Mulheres Negras na condução deste processo. É nisso que acreditamos.

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