Dados recentes mostram que, no Brasil, o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3%, enquanto o de jovens negros aumentou 32,4%
Por Maíra Streit,
Cerca de 300 pessoas se reuniram na tarde desta sexta-feira (22) na praça Zumbi dos Palmares, em Brasília, para a 2ª Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro. O evento surgiu na Bahia por iniciativa da campanha “Reaja ou será morto (a)” e se espalhou por 18 estados brasileiros e 15 países ao todo. Entre as pautas defendidas durante o protesto, está a luta contra a violência policial, a tolerância religiosa e a valorização da mulher negra na sociedade.
Ao som de percussionistas e palavras de ordem, os manifestantes caminharam com cartazes e cruzes nas mãos, simbolizando um pedido pelo fim da violência. A estudante Mariana Barreto, que integra o Fórum de Juventude Negra do DF e esteve à frente da Marcha, conta que a ideia é chamar a atenção para temas pouco debatidos pela população. “O índice de mortalidade negra é muito alto e boa parte vem da Polícia Militar. Quando morre um jovem, morre toda uma família por trás”, ressalta.
Além da capital do país, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Manaus e Vitória também receberão a Marcha, na tentativa de alertar as autoridades para a necessidade de políticas públicas específicas para o combate à desigualdade racial.
Dados
O levantamento Mapa da Violência, realizado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, mostra que morreram proporcionalmente 146,5% mais negros do que brancos no Brasil, em 2012. E entre 2002 e 2012, o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3%, enquanto o de jovens negros aumentou 32,4%.
As vozes da Marcha
Alex Ulhoa, 24 anos
Professor de Educação Física
“As opressões à população negra começam desde a infância. Nas lojas, por exemplo, só vemos bonecas loiras. Defendo as cotas raciais, que muitos não entendem por falta de esclarecimento. O Brasil tem uma dívida eterna com os negros. Ainda somos a maioria nas estatísticas de mortalidade no país”
Layla Marisandra, 31 anos
Educadora social e membro do Fórum Nacional da Juventude Negra
“Estamos aqui para dizer que, apesar de tudo, nós, mulheres negras, ainda estamos vivas! Somos invisibilizadas desde uma entrevista de emprego até a nossa afetividade. Quanto mais escura, quanto mais crespo o seu cabelo é, mais invisibilizada se torna pela sociedade”
José Antônio Ventura, 62 anos
Coordenador da Frente Nacional Quilombola
“Nasci e fui criado em um quilombo da região do Alto Paraíba, em Minas Gerais. Vim porque precisamos despertar nas autoridades novas políticas de proteção à população negra. Precisamos lutar juntos pelo direito à educação, saúde de qualidade, além da valorização e preservação da nossa cultura”
Mãe Baiana, 53 anos
Presidente do terreiro Ilê Axé Oyá Bagan
“A nossa luta é pelo combate à intolerância e ao preconceito. Acham que ainda somos escravos? Pois levamos chibatadas todos os dias. E, quando a gente se junta, a gente diz: ‘aqui está a nossa força’. Queremos ter o direito de criar nossos jovens sadios, sem vê-los mortos ou presos no camburão da polícia”
Fotos: Maíra Streit
Fonte: revistaforum
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