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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Parlamentarismo Neo-pentecostal: subvertendo Liberdade de Culto em Crime de ódio.



Neste sábado, 30 de março de 2013, o Deputado Pastor Marco inFeliciano disse em um culto em uma Igreja Evangélica na cidade de Passos-MG, que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados esteve sob o comando de Satanás durante a legislatura passada – perigo que, segundo o mesmo incauto, foi vencido com sua entrada e posse na Presidência da Comissão.

Como era de se esperar de qualquer pessoa com um mínimo de senso crítico – embora a interlocutora a seguir não o apresente em muitos momentos – a Deputada Federal Antônia Lúcia (PSC-AC), também evangélica, colega de partido, amiga pessoal há 12 anos e atual vice-presidente da CDHM, manifestou publicamente sua indignação com a afirmação escabrosa do moço pastor. Na fala de repúdio, anunciou sua renúncia (posteriormente revogada) ao posto de vice-presidente da Comissão e cobrou explicações sobre o ocorrido.

Assombrada com a fala do colega e com as acusações de satanismo que também a atingem diretamente, uma vez que a Deputada era membra da Comissão na antiga legislatura, Antônia Lúcia afirmou que as falas e posturas do colega têm passado do aceitável, e afirmou contundentemente que acredita na separação entre religião e política, de modo que o reiterado recrutamento das opiniões políticas dos fiéis não pode continuar.

Quando informada sobre a decisão da Deputada e questionada sobre a fala de Pastor, sua Assessoria de imprensa limitou-se a dizer que as falas do Deputado não foram feitas na Câmara, mas sim na Igreja, que traduziam seu posicionamento religioso e espiritual e que, portanto, não as comentaria no Parlamento.

Simples assim, o Deputado tenta nos convencer de que no espaço da Igreja ele pode falar o que bem entender e não ser responsabilizado pelas falas levianas que fizer!

Percebe-se, meus caros, que não há apenas uma coesa – e sombria – mobilização desta Bancada Evangélica para cooptação de opiniões políticas e sociais favoráveis a seus temas desrespeitosos aos Direitos Humanos e à plena Cidadania e Democracia, sempre mobilizados em desandar ou embarreirar qualquer ação que vá contra os ideais mortíferos destes pseudo-cristãos. Há também uma tentativa de subverter as justas liberdades de culto previstas em nossa Carta Magna em uma válvula de escape para opiniões criminosas.

Todos os dias me pergunto como os reiterados ataques públicos que este senhor fez e faz à população negra e à população LGBT não lhe causaram grandes constrangimentos judiciais, nenhum pedido oficial de retratação, "pouquississíma" ou quase nenhuma defesa institucional dos órgãos e Ministérios engajados com as causas sociais. Aliás, Ministérios estes que só foram criados graças às muitas lutas dos movimentos sociais das pautas e eles relacionados. Ministérios estes que, hoje, diante de sérias crises políticas e de gestão, encontram mais apoio e legitimidade junto aos seus amparados e apoiadores da Sociedade Civil do que entre os próprios colegas do primeiro escalão...

Me pergunto também em que momento o país entendeu que a diversidade religiosa existente em seus território quase continental – e que portanto abriga uma infinidade de cultos, práticas religiosas e entendimentos sobre religiosidade – deveria polarizar segmentos religiosos em segmentos políticos.

Afinal, qual o arranjo político que justifica tamanha onda retrógrada em um Governo que, embora seja apenas supostamente esquerdista, tem se mostrado fortemente conectado à democracia e à diversidade?

Para além das respostas a estas dúvidas, nós, cidadãos sãos, temos que nos engajar pela ruptura dessa movimentação estranha que tem nos cercado e roubado nossos direitos. Não podemos voltar ao estado de indignidade e desrespeitos que as minorias simbólicas sempre sofreram nesse país.

Enquanto nenhum dos Três Poderes recobram o juízo e decidem sair de cima do muro, nós, o Quarto Poder, o Poder soberano criado pelo e para o Povo, deve continuar manifestando sua indignação e cobrando a retirada deste Pastor do Congresso, a total ruptura entre política e religião e o sepultamento definitivo dos discursos de ódio voltados às minorias simbólicas negras e lgbt’s.

Eu reclamei hoje. E você? 

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