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Zumbi dos Palmares: Há 324 anos morria o símbolo da luta abolicionista do Brasil
Homenageado
com o Dia da Consciência negra, Zumbi foi o maior e último líder
quilombola do Brasil. Sua biografia continua rodeada de controvérsias
Zumbi dos Palmares, por Antônio Parreiras - Wikimedia Commons
por Reinaldo Lopes, Em fevereiro de 1685, uma carta quase inacreditável cruzou o Atlântico e chegou a Pernambuco. Estava assinada simplesmente Rei. O texto dizia:
Eu
El-Rei faço saber a vós Capitão Zumbi dos Palmares que hei por bem
perdoar-vos de todos os excessos que haveis praticado, e que assim o
faço por entender que vossa rebeldia teve razão nas maldades praticadas
por alguns maus senhores em desobediência às minhas reais ordens.
Convido-vos a assistir em qualquer estância que vos convier, com vossa
mulher e vossos filhos, e todos os vossos capitães, livres de qualquer
cativeiro ou sujeição, como meus leais e fiéis súditos, sob minha real
proteção.
Mas
não sabemos se o “capitão” aceitou o convite. Na verdade, não sabemos
nem se a carta chegou um dia a ser entregue. Mas sabemos que o
destinatário, tratado nessa linguagem cheia de honoríficos e rapapés,
era mesmo o guerreiro Zumbi, um opositor quase mítico do domínio
português no Brasil.
Se
ele já era um mito no século 17, os debates e pesquisas tampouco
revelaram muito sobre o verdadeiro Zumbi. Isso se deve em boa parte ao
fato de que os relatos acerca de sua vida foram, sem exceção, feitos por
seus inimigos: os colonos e portugueses que se puseram a combatê-lo, a
soldo de senhores escravistas.
A incerteza sobre a vida do líder é
tão brutal que se estende até a forma do nome do líder palmarino – o
certo é Zumbi ou Zambi? A primeira forma é mais comum nos relatos lusos,
mas isso não quer dizer que seja a certa.
VERSÃO INIMIGA
Sabermos
tão pouco dele não deixa de ser, de certa forma, adequado. Em línguas
bantu, nzambi ou nzombi querem dizer algo como espírito ou fantasma. No
Congo, Nzambi a Mpgungu é o nome do deus - ou espírito - máximo.
Os
zumbis do cinema têm a ver com isso: no Haiti, há a ideia de que um
bokor, um feiticeiro, possa aprisionar a alma de alguém em seu próprio
corpo ressuscitado - e também, na versão que não foi parar em Hollywood,
numa garrafa: um zumbi astral.
E a imagem de Zumbi é um fantasma
criado por seus inimigos. Para valorizar o próprio esforço ou para
justificar os fracassos em capturá-lo, os primeiros relatos acerca dele,
feitos em sua maioria por militares portugueses, ajudaram a criar o
personagem que acabaria se tornando um fundador da identidade dos
descendentes de africanos no Brasil.
Um
homem forte, orgulhoso, inconformado com sua condição social, que
resolveu enfrentar seus algozes e libertar seu povo. Mas tampouco essa
imagem de um Zumbi revolucionário se sustenta em fatos. Sua biografia
está envolta em diversas dúvidas. Entre as mais elementares está sua
origem.
Era ele um chefe africano trazido à força para ser
escravo? Ou teria nascido no Brasil? Ou até mesmo: teria escravos ele
próprio? Sobre uma coisa, pelo menos, os especialistas concordam: ele
viveu e morreu em Palmares, um quilombo – ou seja, um reduto de
ex-escravos e seus descendentes.
VIDA EM PALMARES
Os
primeiros relatos sobre o quilombo de Palmares são desencontrados e
datam do início do século 17. Eles indicam que ele surgiu em fins do
século 16, no sul da então capitania de Pernambuco. Fugindo
provavelmente de um engenho de cana nordestino, um grupo de escravos
africanos deixou o litoral e foi para o interior – tentando evitar
caçadores de recompensa e soldados que, a mando dos senhores de engenho,
capturavam e matavam fugitivos.
Em Palmares, rituais e costumes africanos foram mantidos / Crédito: Acervo AH
A
jornada a pé, que pode ter durado até dois anos, levou os ex-escravos
para a serra da Barriga, região conhecida genericamente como os
Palmares: um pedaço de mata Atlântica coberto por palmeiras, encravado
no meio da zona da mata (atualmente território de Alagoas). Aquelas
terras tinham fama de ser férteis, mas a combinação entre mata fechada e
terreno íngreme fazia dela uma fortaleza natural.
Se os criadores
do quilombo realmente vieram de um engenho, a grande maioria deveria
ser homem, pois as fazendas abrigavam poucas mulheres. A proporção de escravos
nascidos no Brasil também devia ser muito baixa, uma vez que era raro
que africanos conseguissem viver o suficiente para ter sua própria
família. “Tudo indica que africanos do complexo angolano (região que
englobava, além de Angola, também parte do atual Congo) teriam tido um
papel determinante em Palmares”, afirma Mário Maestri historiador
brasileiro. Há, por exemplo, a tradição de que
eles chamavam seu reduto de Angola Janga, ou Angola Pequena. Se essa
ideia estiver correta, o povo original de Palmares era composto, em
grande parte, por gente do grupo linguístico bantu – um dos primeiros na
África a desenvolver a agricultura, a criação de animais e o uso do
ferro, tendo se expandido por boa parte de seu continente.
SOCIEDADE ALTERNATIVA
Já
nos primeiros anos de organização, o aglomerado de fugitivos se tornou
uma pedra no sapato dos portugueses. Os habitantes de Palmares,
periodicamente, invadiam engenhos para capturar escravos, roubar comida e
armas e raptar mulheres, artigo raro no quilombo em formação.
Mas
algo - outro consenso - precisa ficar bem claro aqui: uma coisa era ser
propriedade de um senhor português e ser forçado a trabalhar até a
morte. Outra era viver entre negros com uma forte possibilidade de
alforria - bastava atuar em outra incursão.
Em 1602, o então
governador geral do Brasil, Diogo Botelho, mandou uma expedição contra
eles – a primeira de 40, ou até mais de 60, de acordo com alguns
historiadores.
Depois de destruir cabanas e fazer alguns
prisioneiros, os portugueses pensaram ter acabado com a vila. Mas,
sempre que uma tropa aparecia, os palmarinos migravam para o mato,
deixando para trás roças e cabanas que eram destruídas e queimadas. Dias
depois, outras eram erguidas.
Esse modo de vida limitava o
crescimento do povoado. Mas, em 1630, a sorte sorriu para Palmares. Foi
quando os holandeses desembarcaram em Pernambuco, na tentativa de tirar
os lucros do açúcar das mãos de portugueses e espanhóis, então
governados pelo mesmo rei. A invasão colocou em polvorosa o Nordeste.
Com a vitória inicial dos holandeses, em 1645, parte dos
luso-brasileiros manteve uma espécie de guerrilha.
A vida no Quilombo dos Palmares / Crédito: Wikimedia Commons
Donos
de engenho alistaram seus escravos para a luta, o que facilitava as
fugas. Em meio à instabilidade, Palmares cresceu, recebeu milhares de
novos moradores e, quando enfim os holandeses foram expulsos, em 1654, a
vila tinha virado uma potência formada por vários aglomerados
populacionais.
Os dados sobre as dimensões de Palmares são
desencontrados. Documentos coloniais falam em 30 mil pessoas, número
provavelmente superestimado. O crescimento demográfico deu-se
principalmente pela chegada de novos moradores. Para alimentar a
população crescente, a economia local era composta por uma mistura de
caça, coleta e agricultura, em que se plantavam gêneros como mandioca,
batata-doce e feijão.
UM PAÍS DENTRO DO PAÍS
É certo que
também havia comércio com os vizinhos. “A ideia de que Palmares era um
refúgio isolado no mato pode até ser verdadeira para os primeiros anos
de assentamento. No entanto, após a metade do século, o relacionamento
entre os negros e seus vizinhos certamente já evoluíra para um intenso
intercâmbio com índios e até com brancos”, diz Flávio Gomes, pesquisador
do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
A presença de brancos em Palmares foi alvo de discussão,
mas sabe-se que isso ocorreu depois em quilombos de outras regiões.
Apesar da suposta hostilidade em relação aos brancos, há indícios de que
criadores de gado levavam seus rebanhos para pastar na região de
Palmares e mantinham comércio com os quilombolas, a ponto de serem
chamados, com desdém, de colonos dos negros.
Em relação aos
índios, o convívio parece ser mais evidente. Escavações arqueológicas
têm encontrado cerâmica indígena, provavelmente contemporânea ao
quilombo. “É tentador fazer essa associação e dizer que havia índios
dentro do quilombo, mas pode se tratar também de algum tipo de
comércio”, diz o arqueólogo americano Scott Allen, da Universidade
Federal de Alagoas.
Já segundo Pedro Paulo Funari, historiador e
arqueólogo que integrou a primeira equipe a fazer sondagens no local, a
cerâmica indica que havia índias em Palmares: “A produção de cerâmica
estava ligada às atribuições das mulheres. A presença desse material em
Palmares pode querer dizer que os ex-escravos tinham esposas indígenas”.
Coisa
perfeitamente consistente com a escassez de mulheres negras por lá. De
qualquer modo, a mestiçagem estava na ponta da língua dos palmarinos.
Seu idioma parecia ter uma base africana misturada a palavras e
estruturas tiradas do português e do tupi – os colonos precisavam de
intérpretes para falar com eles.
A consolidação do quilombo
culminou na criação de uma espécie de confederação entre os vários
povoados de Palmares. A população local escolheu como chefe um guerreiro
conhecido como Ganga-Zumba, que governava a partir de Macaco, a
principal vila do refúgio. Não se sabe se Ganga-Zumba seria nome próprio
ou um título dado ao líder. “A palavra ganga significava ‘poder’, ou
‘sacerdote’ em várias sociedades da África central”, diz Flávio Gomes.
GUERRA E PAZ
Para
a maioria dos especialistas, foi nessa época de relativa calmaria que
Zumbi teria nascido em Palmares. Um dos motivos para sustentar que o
líder nasceu ali mesmo e não chegou depois, fugindo da escravidão, é o
fato de que ele seria sobrinho de Ganga-Zumba.
Porém, o traço
familiar é também incerto. Para Mário Maestri, a designação de sobrinho
não deve ser entendida literalmente. “A trama de parentescos deve ter
sido sobretudo simbólica. As condições históricas não teriam permitido a
formação de um clã familiar que dominasse politicamente Palmares”, diz
Maestri. Assim, dizer que Zumbi era sobrinho de Ganga-Zumba equivaleria a
afirmar que ele era um protegido do chefe.
A origem de Zumbi
permanece controversa. Ter nascido ou não em Palmares determina se ele
foi ou não escravo. E caso ele tenha nascido livre em Palmares, onde,
como diz o professor Funari, a miscigenação entre negros e índios era
comum, não se pode afastar a chance de que ele próprio fosse mestiço de
pai africano e mãe índia. Dá para imaginar o tamanho da polêmica em que
estamos nos metendo aqui? “Não se pode dizer o quanto essa possibilidade
é confiável. Mas que é possível, é”, diz Funari.
Busto de Zumbi, no Rio de Janeiro / Crédito: Wikimedia Commons
Se
a origem de Zumbi é incerta, a infância é definitivamente lendária.
Décio Freitas, historiador gaúcho, escreveu um texto clássico sobre
Palmares, em que dizia ter descoberto um relato da captura de Zumbi
ainda bebê por uma expedição portuguesa ao local.
Ele teria sido
vendido ao padre Antônio Melo, que o teria criado para ser coroinha. Aos
15 anos, no entanto, Zumbi teria fugido. “Essa é uma versão fantasiosa,
mas não impossível”, diz Flávio Gomes. “Décio jamais mostrou o
documento em que apoiava essa biografia de Zumbi. E, além disso, ele
ficou conhecido por romancear sistematicamente sua produção”, diz
Maestri.
Exceto pelo texto de Décio, não há outro relato sobre a
juventude de Zumbi. Ele deve ter crescido num período anterior à guerra
que os portugueses moveram contra o quilombo, impulsionados pela falta
de mão de obra nos engenhos. Nessa época, a vida social em Palmares era
um arremedo daquilo que seus habitantes conheciam dos antepassados na
África, talvez com elementos indígenas e até portugueses incorporados ao
seu cotidiano.
Seus líderes, a exemplo de Ganga-Zumba, deviam ser
guerreiros e guias religiosos. Não sabemos se Zumbi se casou ou teve
filhos (embora a carta do rei de Portugal, reproduzida no início desta
reportagem, sugira isso). Zumbi é geralmente descrito como guerreiro
porque os relatos sobre ele aparecem num período de guerra. Mas não é
difícil imaginar que, em tempos de paz, Zumbi plantasse mandioca e
caçasse porcos-do-mato.
GENERAL ZUMBI
Foi num relatório do
comando militar da capitania de Pernambuco, escrito por volta de 1670,
que o nome Zumbi aparece citado pela primeira vez. O documento atribui a
ele o sucesso dos ex-escravos fugidos nos combates com colonos nas
cercanias da serra da Barriga. Zumbi seria o homem de confiança do chefe
Ganga-Zumba, uma espécie de general dos exércitos de Palmares.
Outros
documentos da mesma época destacam a capacidade militar de Zumbi. Um
deles diz que, ao enfrentar uma expedição liderada por Manuel Lopes
Galvão, Zumbi levou um tiro na perna que o teria deixado manco, mas não o
impedira de continuar lutando.
Sob ataques constantes, Palmares
se tornou uma fortaleza, com diversos povoados cercados por muralhas
reforçadas de pau a pique. Na encosta que levava até a vila de Macaco,
os quilombolas cavavam buracos, colocavam estacas no fundo e as cobriam
com folhas secas. Isso era tão comum que o local entrou para os mapas
dos soldados coloniais com o apelido de Outeiro dos Mundéus (mundéu, ou
mundé, é justamente o nome dessa armadilha).
E os palmarinos
também partiam para a ofensiva. “Diversas expedições quilombolas
atacaram, entre 1660 e 1670, os povoados de Serinhaém, Porto Calvo,
Penedo e Alagoas, principalmente para capturar armas e munição, mas
também para saquear fazendas e estabelecimentos comerciais”, escreveu
Décio Freitas em seu Palmares – A Guerra dos Escravos.
Por volta
de 1675, as comunidades atacadas financiaram uma grande expedição
militar sob o comando de Fernão Lopes Carrilho, que já tinha enfrentado e
vencido índios e escravos rebeldes em outros cantos do Nordeste. Ele
aprisionou ou matou vários dos principais chefes do quilombo, feriu o
próprio Ganga-Zumba e quase capturou a mãe do líder. Carrilho chegou a
anunciar que tinha destruído Palmares de vez. Não era verdade, mas, pela
primeira vez em décadas, a situação forçou Ganga-Zumba a negociar.
Em
1678, uma missão enviada pelo rei de Palmares, como foi anunciado,
adentrou o Recife. Um cronista escreveu: “Notável foi o alvoroço que
causou a vista daqueles bárbaros. Porque entraram com seus arcos e
flechas, e uma arma de fogo, corpulentos e valorosos todos”.
O
acordo de paz previa que os nascidos em Palmares ficariam livres,
ganhariam terra para cultivar, direito de comercializar com seus
vizinhos e a condição de vassalos de Portugal. Parecia ótimo, não fosse o
fato de que os escravos libertados (e talvez o próprio Zumbi, de acordo
com aqueles que defendem a tese de ele nasceu escravo e fugiu para
Palmares) teriam de voltar para seus senhores.
Ganga-Zumba decidiu
aceitar as cláusulas e se mudou com algumas centenas de seguidores e
seu irmão Gana-Zona para a localidade de Cucaú. Zumbi se recusou a ir e
declarou ser o novo líder de Palmares (Ganga-Zumba morreu logo depois e
as histórias da época dão conta de que Zumbi teria mandado envenená-lo).
Seguiu-se uma guerra entre partidários de Zumbi e de Gana-Zona que
levou à intervenção dos portugueses e à extinção do “quilombo livre” de
Cucaú.
SEM ACORDO
As autoridades coloniais e o próprio rei
de Portugal tentaram repetidas vezes oferecer ao novo chefe um acordo
semelhante ao que fizeram com Ganga-Zumba, mas Zumbi nunca aceitou. No
início da década de 1690, o bandeirante Domingos Jorge Velho foi chamado
e recebeu a missão de liderar uma expedição para caçar e exterminar de
vez os focos de resistência em Palmares.
À frente de mateiros
experientes e conhecidos pelos métodos particularmente sanguinários,
Jorge Velho não escapou de tomar algumas sovas dos guerreiros de Zumbi.
Em 1692, num combate de três semanas, sua tropa de cerca de mil homens
foi reduzida pela metade, antes de fugir e se perder no mato. Dois anos
depois, Jorge Velho voltou. Tinha sob seu comando um incrível exército
para a época: 9 mil homens – e alguns canhões.
A resistência de
Palmares dependia de manter a artilharia inimiga longe das muralhas de
Macaco. Depois de um cerco que durou semanas, no entanto, Jorge Velho
conseguiu se aproximar com seus canhões. Zumbi liderou pessoalmente um
ataque desesperado para evitar a destruição das barreiras, mas falhou.
Os bandeirantes mataram centenas de guerreiros e invadiram a capital palmarina. Zumbi fugiu.
Estátua de Zumbi dos Palmares / Crédito: Wikimedia Commons
O
último ano da vida do líder foi marcado por ataques esparsos, ao lado
de um punhado de companheiros, que tentavam manter viva a rebelião
escrava. Foi por meio de um membro desse grupo, Antônio Soares, que os
homens de Jorge Velho chegaram a Zumbi. Capturado e torturado, Soares
aceitou levar os bandeirantes em sigilo até o esconderijo rebelde.
Lá
chegando, ele mesmo teria matado Zumbi com uma traiçoeira punhalada. De
posse do corpo do líder, os mercenários arrancaram-lhe um dos olhos e
cortaram-lhe a mão direita. O pênis de Zumbi foi decepado e enfiado em
sua própria boca. Já a cabeça foi salgada e levada para Recife, onde
apodreceu em praça pública.
A LENDA
Curiosamente, a história
acima sobre a morte do líder permaneceu esquecida durante muito tempo.
Tudo em nome de uma versão mais, digamos, épica: “Até o início dos anos
1960, a historiografia dizia que Zumbi e outros tantos em Palmares
tinham cometido suicídio em 1694, ao se atirar dos penhascos da serra da
Barriga”, diz Flávio Gomes. Para reforçar ainda mais a aura lendária, a
narrativa do suicídio coletivo tem paralelos com o que teriam feito os
judeus que defendiam a fortaleza de Massada, no século 1 (diante da
iminente derrota, eles preferiram se jogar das montanhas a cair nas mãos
dos invasores romanos).
Essa visão pode, portanto, ter sido
forjada por um cronista português cheio de histórias da Antiguidade na
cabeça. O fundo de verdade por trás disso é que Jorge Velho precisou
construir uma contramuralha, na diagonal em relação ao muro da vila de
Macaco, de forma a poder levar seus canhões perto o suficiente para
arrasar as defesas de Zumbi.
A obra avançou bastante, mas ainda
havia uma pequena brecha entre ela e um desfiladeiro quando os
palmarinos a descobriram. Zumbi, então, ordenou o ataque através da
passagem que restava. Os guerreiros de Palmares foram repelidos e cerca
de 500 deles acabaram rolando barranco abaixo, o que parece ter sido
interpretado, erroneamente, como suicídio. Mas de fato há relatos
de que, quando os soldados coloniais entraram em Macaco e nos demais
povoados, algumas mães palmarinas mataram seus filhos e a si próprias
para evitar a escravidão. Conheça mais sobre a história de Zumbi dos Palmares através dessas obras: Um Grito de Liberdade. A Saga de Zumbi dos Palmares, Álvaro Cardoso Gomes (2015) Link - https://amzn.to/2pBKMbq Zumbi dos Palmares - herói negro da nova consciência nacional, Eduardo Fonseca Júnior (2003) Link - https://amzn.to/33036bN Zumbi dos Palmares, Renato Lima e Graça Lima (2009) Link - https://amzn.to/2O4S80F
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