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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Crise de Representatividade


Por Nailah Neves Veleci,
Se pros brancos que são 44% da população brasileira está tendo crise de representatividade (segundo eles) nesse governo, imagina pros negros que são 55% da população e não são nem 10% dos Tribunais Superiores (chega nem a 20% levando o judiciário todo segundo o Censo do Poder Judiciário), nem 30% do Congresso e que em Assembleias Legislativas do Acre, Amazonas, Alagoas, Goiás, Sergipe não tem nenhum negro? No Executivo nós nem comentamos, a elite desse país sempre foi branca.

Agora pense, os brancos ñ estão se sentindo representados mesmo tendo branco de direita, de esquerda, de centro. Branco pobre, branco rico, branco do norte ao sul, branco ambientalista, branco banqueiro, branco sindicalista, branco ruralista, branco evangélico, branco católico, branco professor, branco jovem, branco velho, branco LGBT.... Os brancos falam de crise de representatividade mesmo eles estando em tudo. E nós negros que somos maioria, que impomos órgãos, que impomos nossas candidaturas, que impomos cotas (nada foi dado por governo nenhum), que impomos políticas temos pouquíssimos representantes e esses representantes tem que dar conta da maioria da população brasileira, que é negra. Dar conta dos jovens, velhos, crianças, quilombolas, afro-religiosos, evangélicos, LGBT. Tem que discutir educação, saúde, trabalho, transporte, demarcação de terra, segurança. Discutir todas as questões que atingem negativamente a população negra (ou seja, discutir tudo).

Me perguntam qual o problema de um Presidente da Fundação Cultural Palmares, que é responsável pela demarcação dos quilombolas e pela promoção da "interação cultural, social, econômica e política do negro no contexto social do país", não acreditar que existe racismo no Brasil. Bem a resposta é simples: pra você presidir um órgão que representa 55% da população num país com essa estrutura, você precisa ser 30x melhor que os outros ministros pra compensar a ausência da questão negra na pasta deles. E se você não acredita nem no básico que é o racismo (comprovado e reconhecido nacional e internacionalmente, até em leis), você não tem competência técnica pra presidir um órgão cuja lei de criação exige que seja antirracista.

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