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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Nelson Inocencio tem a trajetória marcada pela luta contra o preconceito

O professor da UnB é um dos expoentes que ajudaram a dar forma ao movimento negro na capital

 
''A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado'', aponta (foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press) “Ser e tornar-se negro é ter a dimensão política do que é ser uma pessoa negra no mundo. Não é só a diferença de melanina.” Essa é a visão de Nelson Fernando Inocencio da Silva, 58 anos, professor do Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB). Filho de pais cariocas que vieram para o centro do país transferidos, Inocencio é um dos brasilienses que ajudaram a dar forma ao movimento negro na capital.

Com 17 anos, começou a participar de grupos que buscavam construir uma identidade negra no Distrito Federal. Por meio da arte, encontrou seu jeito de contribuir. “Eu entrei na universidade já com uma formação política, que o ativismo me deu”, relata. Como calouro, em 1980, Inocencio lamentava o fato de ser uma das poucas pessoas negras do ambiente.

“Era tão rara a presença de estudantes afrobrasileiros que, às vezes, vinham falar comigo em inglês ou francês, achando que eu era aluno do convênio do Brasil com os países africanos”, lembra. Para ele, ser o único negro em um local não era motivo de orgulho — como ouviu de muitas pessoas. “Isso não era algo para ser celebrado”, diz.

Esse cenário mudou, quando comparado com 40 anos atrás. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pela primeira vez, a população que se declara preta ou parda passou a representar mais da metade (50,3%) dos alunos de ensino superior da rede pública. “A paisagem do câmpus tem sofrido uma mudança. Ainda não é radical, mas é importante”, opina.

Como professor da UnB desde 1995, ele duvida da estatística. “É uma presença mais significativa do que no passado, mas não é majoritária.” E chama a atenção para o baixo número de professores negros. “É ainda mais diminuto na carreira docente. Nós não chegamos a 5% do total, talvez nem a 3%”, calcula.
 
Tabu
 
Uma das principais vitórias da luta contra o preconceito no Brasil, segundo Inocencio, é poder colocar o racismo em pauta como um dos temas de importância nacional. Para ele, houve um “adensamento” do debate, mas ainda é um tabu. “Sou de uma época em que o mito da democracia racial era algo muito forte no Brasil. Com muita dificuldade, se admitia o preconceito racial”, comenta.

No fim da década de 1970, em pleno regime militar, ele ingressou na vida ativista. “Nós ousamos falar de racismo quando o assunto era tratado como subversão. Fizemos um trabalho corajoso.” Na época, a questão racial não era preocupação das organizações. “Mesmo as mais avançadas não tinham convicção de que o racismo era um fenômeno extremamente danoso. Era quase um monólogo, poucas ouviam”, ressalta.

De lá para cá, a luta das entidades ganhou maior espaço. Mas Inocencio alerta: “Lutar contra o racismo não pode ser um compromisso só do movimento negro. Não fomos nós que inventamos o problema. O compromisso é da sociedade”. Na avaliação do educador, autor de três livros sobre o tema, a conjuntura política e social não é favorável para os movimentos sociais. “Estamos vivendo um retrocesso intenso, mas não vamos esmorecer. É um absurdo que um país como o Brasil, com a segunda maior população negra do mundo, a trate da forma como vem tratando”, critica.
 
“Artivismo”
 
Publicitário por formação, Nelson Inocencio sempre teve aptidão pelas artes. Foi o medo do curso de educação artística acabar que o fez pedir transferência para comunicação social, área em que também fez mestrado. Segundo ele, a parte midiática da luta é fundamental, porque há um vício histórico da sociedade brasileira de “sobrerrepresentação de brancos e uma subrepresentação de negros e indígenas”. É equivocado, contudo, na opinião do doutor em artes, dizer que o negro nunca foi representado. “A representação sempre existiu, mas sempre tendeu para o lado negativo: como caricatura, exótica e risível. Era a desumanização e não o reconhecimento”, argumenta.

Apesar de reconhecer a importância estratégica da comunicação para ampliar o debate racial, é pela arte que Inocencio mais manifesta seu ativismo — o qual resume como “artivismo”. “A arte pode ser transformadora, se ela tem intenção. Eu me comprometi com a arte de modo que o meu trabalho fosse engajado”, explica.

A arte tem a capacidade de sensibilizar, e essa é uma das funções da militância negra, de acordo com Inocencio. “Quando eu digo sensibilizar, falo de agir. O sentimento tem que se transformar em alguma coisa”, esclarece. Ele acrescenta que a sensibilização para transformar é tanto do negro em relação à sua consciência quanto dos outros membros da sociedade quanto à questão racial. “Todos nós precisamos nos responsabilizar, se a gente quer uma sociedade verdadeiramente democrática.”

Especial
Para marcar o Mês da Consciência Negra, a série Histórias de consciência é publicada ao longo de novembro e presta homenagem a mulheres e homens negros que ajudam a construir uma Brasília justa, tolerante e plural. Todos os perfis deste especial e outras matérias sobre o tema podem ser lidos no site: www.correiobraziliense.com.br/historiasdeconsciencia

Manifestantes "ocupam" prédio da Fundação Cultural Palmares, em Brasília, em protesto contra novo presidente

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Representantes de movimentos negros invadiram o prédio da Fundação Cultural Palmares na manhã desta sexta-feira (29), em Brasília. O grupo protesta contra a posse do novo presidente do órgão de promoção da cultura afro-brasileira – o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, que substituiu Vanderlei Lourenço.

O ato começou por volta das 10h30. Às 11h, o grupo com cerca de 30 pessoas entrou na sede da instituição e ocupou o sétimo andar do prédio, onde fica o gabinete do gestor (veja vídeo abaixo). Quatro seguranças tentaram impedir o acesso, mas os manifestantes ultrapassaram o bloqueio.

Manifestantes invadem prédio da Fundação Cultural Palmares, em Brasília

Servidores que preferiram não se identificar afirmaram ao G1 que Camargo estava no prédio no momento do protesto. Enquanto os manifestantes estiveram no gabinete, tentavam falar com o novo presidente.

A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Palmares para confirmar a informação, mas não recebeu posicionamento até a última atualização desta reportagem.

Manifestantes ocupam gabinete da Fundação Palmaresem protesto contra novo gestor

Por volta das 11h40, o grupo começou a deixar o prédio. Em seguida, eles se dispersaram.

O protesto, segundo os organizadores, é em referência a uma série de publicações, nas redes sociais, em que o novo presidente da Fundação Palmares relativiza temas como a escravidão e o racismo no Brasil (entenda abaixo).

"Como é que nós vamos aceitar, enquanto movimento social negro, que o presidente de um órgão que tem como obrigação estar certificando os mais de 5 mil quilombos que nós temos hoje no Brasil, negue a história da escravidão?", questionou a presidente da Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil, Waldicéia de Moraes Teixeira.

O grupo de representantes do movimento afirmou que o objetivo de entrar no prédio era o de conversar com Camargo.

"Viemos para dialogar com ele. No sentido de protestarmos contra o fato dele depreciar a luta do movimento social negro."

A Fundação Palmares integra a estrutura da Secretaria Especial da Cultura, o antigo Ministério da Cultura.

Pedido de anulação da nomeação

Na manhã desta sexta-feira, o grupo protocolou no Ministério Público Federal (MPF) um pedido de anulação da nomeação de Camargo. O documento recebeu 62 assinaturas, entre militantes de diferentes entidades e políticos de partidos de oposição.

A representação foi redigida por Marivaldo Pereira, advogado e militante do movimento Mova-se. Ao G1, ele afirma que a nomeação de Camargo é ilegal.

"O posicionamento dele é incompatível. Por lei, o Estado tem que enfrentar o racismo e implementar políticas de promoção da igualdade racial. Quando você pratica um ato para acabar com uma fundação que tem essa finalidade, você está agindo contra a lei. Fere a lei de improbidade administrativa".

O movimento destaca ainda que o Ministério Público Federal se manifestou contrário a outras nomeações do governo por incompatibilidade.

"Essa nomeação é para acabar com a Fundação Palmares. Essa é uma estratégia que o governo Bolsonaro vem utilizando para destruir outros órgãos, como fez na Comissão de Anistia, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e o MPF já ser manifestou pedindo que ele revogasse as nomeações".

Em uma publicação feita nas redes sociais antes de ser nomeado para o cargo, Sérgio Nascimento de Camargo classificou o racismo no Brasil como "nutella". "Racismo real existe nos Estados Unidos. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", afirmou.

Sobre o Dia da Consciência Negra, Sérgio Camargo escreveu que o "feriado precisa ser abolido nacionalmente por decreto presidencial".
 
Ele disse que a data "causa incalculáveis perdas à economia do país, em nome de um falso herói dos negros (Zumbi dos Palmares, que escravizava negros) e de uma agenda política que alimenta o revanchismo histórico e doutrina o negro no vitimismo".

No dia 3 de novembro, Sérgio publicou uma mensagem numa rede social na qual disse que "sente vergonha e asco da negrada militante. Às vezes, pena. Se acham revolucionários, mas não passam de escravos da esquerda", escreveu.
 
Fonte: G1 DF, Metropoles.

5ª Feira Cultural de Ceilândia/DF - 30 nov e 01 dez Casa do Cantador



 
Em novembro e dezembro, a Casa do Cantador do Brasil receberá a 5ª Feira Cultural de Ceilândia. Seguindo a tradição da cidade, conhecida por suas várias feiras populares, o evento propõe um ambiente cultural permeado pela diversidade musical, cultura popular, poesia e barraquinhas com produtos artesanais e da gastronomia popular. Esta 5ª edição será realizada nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, sábado e domingo, compondo uma extensa programação com artistas locais como GOG, Teresa Lopes, Viela 17, Paraibola, Marcelo Café, André Freitas e Adriano, Lília Diniz, Mamulengo Fuzuê e muitos outros. A Feira reúne diversos artistas e gêneros artísticos, com o forró, o samba, o rap, o sertanejo, o teatro e a poesia, celebrando a diversidade cultural da cidade. As apresentações começam a partir de 16h, indo até o fim da noite de cada dia.

Mais sobre a Feira
Idealizada pela Artecei, a Feira Cultural de Ceilândia tem a proposta de se firmar como um evento anual e impulsionador da formação de público, criando um espaço de forte interação entre espectadores e artistas expoentes da periferia. Se destaca como uma grande feira que valoriza a economia criativa e a diversidade artística e cultural ceilandense e nacional, reunindo artistas e brincantes da música, poesia, repente, hip-hop, palhaçaria, teatro de bonecos e outras manifestações da cultura popular. Em cada dia de feira são diversas atrações para todas as idades e públicos.

Ceilândia e a Casa do Cantador
Ceilândia tem a maior população urbana do Distrito Federal. São quase 490 mil habitantes, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), realizada em 2015. É também uma das Regiões Administrativas mais atuantes no campo cultural e uma das cidades que mais têm moradores nordestinos fora do Nordeste. Não à toa, é lá que está a Casa do Cantador do Brasil, único monumento de Oscar Niemeyer construído em uma cidade satélite fora do Plano Piloto. Na Casa do Cantador, poetas repentistas, cordelistas e violeiros do Nordeste e do Brasil se encontram, são acolhidos e fazem suas cantorias. Ceilândia é assim, um celeiro de várias expressões culturais, berço de grandes artistas.

SERVIÇO
Feira Cultural de Ceilândia - 5ª edição
Quando: 30 de novembro e 01 de dezembro, sábado e domingo
Horário: 16 às 00h
Onde: Casa do Cantador do Brasil - QNM 32 Área Especial, Ceilândia Sul
Entrada: Franca
Classificação: Livre

www.artecei.com.br

Programação:

>>30 de Novembro - Sábado<<
16h- André & Adriano
16h50 - Mamulengo Fuzuê
17h40 - Som de Classe
18h30 - Margô
19h20 - Marcelo Café
20h10 - Fuzuê Candango
21h - Teresa Lopes
21h50 - Caco de Cuia
22h40 - Viela 17

>>01 de Dezembro - Domingo<<

16h - André Freitas e Adriano
16h50 - Lília Diniz
17h40 - Mamulengo Fuzuê
18h30 - Du Amaral
19h20 - Gerson De Veras
20h10 - Taleta de Bambu
21h - Paraibola
21h50 - GOG

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Sérgio Sai, Palmares Fica ! (29/11)


Crise de Representatividade


Por Nailah Neves Veleci,
Se pros brancos que são 44% da população brasileira está tendo crise de representatividade (segundo eles) nesse governo, imagina pros negros que são 55% da população e não são nem 10% dos Tribunais Superiores (chega nem a 20% levando o judiciário todo segundo o Censo do Poder Judiciário), nem 30% do Congresso e que em Assembleias Legislativas do Acre, Amazonas, Alagoas, Goiás, Sergipe não tem nenhum negro? No Executivo nós nem comentamos, a elite desse país sempre foi branca.

Agora pense, os brancos ñ estão se sentindo representados mesmo tendo branco de direita, de esquerda, de centro. Branco pobre, branco rico, branco do norte ao sul, branco ambientalista, branco banqueiro, branco sindicalista, branco ruralista, branco evangélico, branco católico, branco professor, branco jovem, branco velho, branco LGBT.... Os brancos falam de crise de representatividade mesmo eles estando em tudo. E nós negros que somos maioria, que impomos órgãos, que impomos nossas candidaturas, que impomos cotas (nada foi dado por governo nenhum), que impomos políticas temos pouquíssimos representantes e esses representantes tem que dar conta da maioria da população brasileira, que é negra. Dar conta dos jovens, velhos, crianças, quilombolas, afro-religiosos, evangélicos, LGBT. Tem que discutir educação, saúde, trabalho, transporte, demarcação de terra, segurança. Discutir todas as questões que atingem negativamente a população negra (ou seja, discutir tudo).

Me perguntam qual o problema de um Presidente da Fundação Cultural Palmares, que é responsável pela demarcação dos quilombolas e pela promoção da "interação cultural, social, econômica e política do negro no contexto social do país", não acreditar que existe racismo no Brasil. Bem a resposta é simples: pra você presidir um órgão que representa 55% da população num país com essa estrutura, você precisa ser 30x melhor que os outros ministros pra compensar a ausência da questão negra na pasta deles. E se você não acredita nem no básico que é o racismo (comprovado e reconhecido nacional e internacionalmente, até em leis), você não tem competência técnica pra presidir um órgão cuja lei de criação exige que seja antirracista.

Irmão do presidente da Fundação Palmares: 'Vergonha desse capitão do mato'


O músico e produtor Wandico Camargo fez críticas ao irmão, Sergio Nascimento, nomeado para presidente da Fundação Palmares
 
por Fernanda Borges/Estado de Minas
Wadico Camargo à esquerda e o irmão, Sergio Nascimento, à direita (foto: Reprodução/Facebook) Mal recebida por integrantes do movimento negro, a nomeação de Sergio Nascimento de Camargo como novo presidente da Fundação Palmares recebeu críticas até mesmo da família do escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Irmão de Camargo, o músico e produtor musical Oswaldo de Camargo Filho, cujo nome artístico é Wadico Camargo, escreveu nas redes sociais que não apoia a nomeação e disse ainda ter vergonha do parente, a quem chamou de "capitão do mato", negro que, na época da escrevidão, trabalhava como funcionário de fazendas, muitas vezes atuando na captura de escravos que haviam fugido.

"Tenho vergonha de ser irmão desse capitão do mato. Sérgio Nascimento de Camargo, hoje nomeado presidente da Fundação PALMARES", escreveu Wadico na internet.

O músico também apoiou um abaixo-assinado contra Nascimento. "Se fosse para o bem da nossa raça!!! Era o primeiro a apoiar, mas pro mau do Negro, sem chance. PRA MIM RAÇA É PÁTRIA, É ALMA !!!! EU SOU NEGRÃO."

Até a manhã desta quinta-feira (28/11), mais de 15,6 mil pessoas haviam assinado a petição.

Nomeado na quarta-feira (27/11) ao cargo, o novo presidente da Fundação Palmares, instituição ligada à Secretaria Especial de Cultura, afirmou em suas redes sociais que o Brasil tem um "racismo nutella", defendeu a extinção do feriado da Consciência Negra e declarou apoio irrestrito ao presidente Bolsonaro.

Camargo também disse que a escravidão foi "benéfica para os descendentes" e atacou personalidades como a vereadora assassinada Marielle Franco e a atriz Taís Araújo.

A nomeação faz parte de uma série promovida pelo novo secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, para quem Bolsonaro já disse ter dado total liberdade para montar a sua equipe.

Nesta quinta-feira (28/11), o presidente Jair Bolsonaro se esquivou de perguntas sobre as bandeiras que defende Sergio Camargo e disse que não o conhece pessoalmente.

Denúncia do Tribunal Internacional Penal Bolsonaro deu risada ao ser questionado sobre ser alvo de denúncia no Tribunal Penal Internacional (TPI). "Próxima pergunta", disse.

O presidente foi denunciado por "crimes contra a humanidade" e "incitação ao genocídio de povos indígenas" do Brasil. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a representação é da Comissão Arns e do Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos.

A representação também foi assinada pelo ex-ministro José Gregori e pelos advogados Antonio Carlos Mariz de Oliveira, Eloisa Machado e Juliana Vieira dos Santos. As declarações de Bolsonaro nesta quinta foram dadas em frente ao Palácio da Alvorada.

Com informações da Agência Estado
 

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Talíria e Áurea repudiam novo presidente da Fundação Palmares


Recebemos nesta tarde, com absoluto espanto e indignação, a notícia de que a presidência da Fundação Cultural Palmares será assumida pelo jornalista e militante bolsonarista de direita, Sérgio Nascimento de Camargo. A mudança faz parte de uma série de indicações pessoais do recém-nomeado Secretário Especial de Cultura, Roberto Alvim. Além da Fundação Palmares, a Secretaria do Audiovisual e a Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura tiveram novos dirigentes nomeados nesta quarta-feira.

A Fundação Cultural Palmares, atualmente vinculada à Secretaria de Cultura do Ministério da Turismo, é o primeiro mecanismo institucional de proteção e promoção ao patrimônio cultural negro brasileiro. Foi uma conquista do Movimento Negro Brasileiro, no marco da Constituinte, para que o país começasse a reconhecer o enfrentamento ao racismo como uma política de Estado.

Nesses 37 anos, a Fundação Palmares foi decisiva para a garantia dos direitos sociais e culturais da população afro-brasileira. Sua atuação esteve centrada no desenvolvimento de políticas públicas de reconhecimento às comunidades quilombolas, proteção do patrimônio cultural e religioso negro, fomento à cultura e às artes afro-brasileiras e produção de informações de referência sobre cultura negra no Brasil.

Todo esse legado é ferido de morte com a nomeação de Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Palmares. Camargo é mais uma peça na engrenagem de ataque e violação de direitos que o desgoverno Bolsonaro vem impondo ao Brasil.

Em seus perfis de redes sociais, Sérgio nega a existência do racismo e da importância estrutural do Movimento Negro para a emancipação de 55,6% da população. Além disso, ataca símbolos da história afro-brasileira, como Zumbi dos Palmares e o Dia da Consciência Negra, desrespeita as religiões de matriz africana e as manifestações da cultura periférica como o funk e o hip-hop.
 
Ainda, Camargo tem um histórico de agressões às personalidades negras brasileiras, principalmente às mulheres, e à memória da nossa querida companheira Marielle Franco, reconhecida internacionalmente por seu trabalho contra o racismo e o genocídio da população negra e periférica.

É inadmissível que alguém com esse perfil assuma a presidência desta fundação que nasce com um papel fundamental de enfrentamento ao racismo, por meio da proteção e promoção das manifestações culturais afro-brasileiras, bem como da produção de conhecimento sobre a contribuição do povo negro para a construção do país.

Não vamos permitir que a apologia à violência e a intolerância contaminem o histórico de atuação da Fundação Cultural Palmares. Estamos atuando para barrar as tentativas sistemáticas de ataque e desmantelamento dos direitos da população negra!

Áurea Carolina e Talíria Petrone
Deputadas Federais pelo PSOL
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Abaixo-assinado pela troca do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Nascimento, Clique aqui! 

Fonte: taliriapetrone

Nãnan - "Como Ser Artista e não refletir sobre a sua época?"


Vamos bater um papo sobre ser artista, usufruir das inspirações das Matrizes dos Povos Tradicionais - e não lutar pela preservação dessas fontes. Deixem seus recados e perguntas! Caminhos Abertos AfroBeijos! Assista:



Fonte: Nãnan Matos

6 práticas para discutir racismo e identidade na sala de aula

Atividades para o Fundamental I e II que podem ser aplicadas em qualquer época do ano 

Foto: Getty Images
POR: Larissa Teixeira
O Dia da Consciência Negra foi celebrado na última semana, mas o debate sobre os direitos da população afrodescendente brasileira não deve se limitar a um dia, ou a uma semana. As próprias redes sociais nos ajudaram a lembrar disso, com ataques racistas contra crianças negras dias após o Brasil relembrar a luta por igualdade de um grupo que representa mais de metade de nossa população.

Como um espaço de reflexão e construção de conhecimento, a escola não pode ficar de fora. Por isso, NOVA ESCOLA selecionou seis atividades que abordaram temas como racismo, identidade, história e cultura. Inspire-se pelos bons exemplos e convide a turma a refletir:

Tour cultural com foco na igualdade

Na EMEB Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, em Cuiabá, a turma foi impulsionada a refletir criticamente sobre a igualdade de oportunidades para negros, indígenas e mulheres a partir de figuras históricas do entorno. O projeto criado pela professora Sueli Xavier Ribeiro envolveu as turmas do 1º ao 4º ano, incluindo 11 estudantes com deficiências intelectual, múltipla e física.

Cultura afro-brasileira em foco

Neste projeto sobre gêneros textuais em Língua Portuguesa e em Libras, os alunos do 6º ano da EE Roldão Lopes de Barros, em São Paulo, estudaram sobre a cultura afro-brasileira nas disciplinas de História, Artes, Geografia e Ciências. Entre os 35 estudantes, oito eram surdos ou possuíam algum grau de deficiência auditiva.

A identidade brasileira de cada um

Realizado na CMEI Cid Passos, em Salvador, esse projeto de arte estimulou os pequenos a pensar sobre a questão indígena e africana. Nas atividades, as crianças passaram a se reconhecer nos personagens estudados e, assim, construíram e assumiram a própria identidade.

A realidade afro do Brasil

Para discutir a respeito da cultura e arte africana e afro-brasileira, as crianças do CMEI Darcy Castello Mendonça, em Vitória, entraram em contato com releituras de obras artísticas, capoeira, música, dança, culinária, jogos e brincadeiras da cultura negra. Assim, elas aprenderam a respeitar e valorizar a contribuição dos negros na formação da cultura brasileira.

Quilombos e cultura, uma relação estreita

Esta sequência didática com alunos do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental propõe um estudo sobre os quilombos e sua importância para o Brasil. O projeto fará os alunos discutirem sobre mudanças e permanências nas relações sociais locais, além de compreenderem e valorizarem elementos das culturas afrodescendentes e da resistência negra no país.

Preconceito e racismo: raízes escravagistas

O projeto estimula a turma a debater sobre o racismo e o preconceito étnico-racial no Brasil. Ao perceber as marcas da presença da cultura africana na sociedade brasileira, as crianças se reconhecem como fruto de um processo de miscigenação e compreendem o racismo como uma herança do período escravagista.

Fonte: novaescola

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Maternafro apresenta seus serviços de trancistas e estéticas negras para cabelos afros



Ingrith Calazans ou @Maternafro apresenta seus serviços de trancista, nos mais variados estilos: Rasta, Nagô, Twists, Dreads e entre outros. Atendimento para Brasília/DF e Entorno!
Agende seu horário, contato: (61) 99605 9731

Confira alguns vídeos de produção da @Maternafro disponíveis no youtube:

Óleo de coco, amor e fofura! Revitalização fácil para crianças e adulto.
Olá rede maternafro! No vídeo de hoje a Dandara conta como era feita a revitalização dos seus cachinhos com óleo de coco, paciência, carinho e fofura. Sem puxar ou pentear a seco, ein?!Assista:




Como tirar tranças boxbraids sem sofrimento!

Olá pretas e pretos. No vídeo de hoje vou ensinar como eu tiro as tranças boxbraids sem sofrimento e embaraço. Se liga nessa dica e se houver alguma dúvida é só me chamar.  Assista:


Para assistir mais vídeos acesse: MaternaFro

Por uma noção de imortalidade afrikana


A percepção da imortalidade é um conceito fundamental para pensarmos como se distingue a perspectiva cultural ocidental e a Yorubá. Cabe pensar em que ambas pensam no sentido de continuidade da vida, mas os termos diferenciam em absoluto.

Quando pensamos a busca pela imortalidade, baseada na perspectiva europeia, as histórias fazem alusão ao “fonte eterna da juventude”, ou ao “elixir da vida”, o que denota uma ideia de imutabilidade da condição material. O conceito de imortalidade está fixado a esta vivência, ao qual não sofrerá as intempéries do tempo. Ou seja, a imortalidade dessa vida só vale se ela for gozada na melhor etapa, que seria a juventude, na primazia do corpo e das sensações. O corpo, assim, é o elemento que permite amplificar as sensações, fazendo assim, dessa experiência algo rico e cheio, completo. Seria uma tentativa de ter a experiência divina a não finitude, da semelhança a experiência do que seria D’us. No entanto, nada evoca mais a morte do que a ausência de ciclos. A reflexão sobre a imortalidade em um único contexto de vida não concebe a perspectiva cíclica das emoções e situações, percebendo que não há situações infinitas, assim como inovações. Sendo assim, o que cabe aí a ideia de legado, de herança não-material? Qual a preocupação com o entorno se a finitude não é uma preocupação? Nessa questão cabe a tão propalada “vida eterna”.. O que é o mundo, senão apenas um ponto de passagem?


No fundo, é uma ideia que teme a morte, que teme o fim, mesmo esse baseado numa condição cristã inalterável. A perspectiva da imortalidade no conceito europeu, seja em vida ou na morte, parecem elementos estanques, apesar dos desdobramentos psicológicos que buscam mostrar.

Quando penso a imortalidade em termos afrikanos, do qual discorro com mais profundidade sobre a cultura Yorubá, a imortalidade é um conjunto de vidas e mortes, que se separam entre “inspiração e expiração”. A sua imortalidade contém a morte, porque ela é indissociável da vida. A morte, portanto, é uma outra etapa de um ciclo necessário para a vida, que se reifica em seus filhos. A imortalidade é o constante retorno por meio das novas vidas que nascem em sua família. Uma criança é sempre sagrada, porque é o retorno de uma avó, de um parente distante. É novo, mas é também velho pois já fazia parte. Neste sentido, pensar o amanhã, pensar a sua influência na sua família, nos seus filhos e no mundo, diz muito sobre o impacto que você quer ter pros ancestrais em retorno, mas também pra você ao voltar ao plano da vida. Como não pensar em melhorar as suas condições, em se tornar uma melhor pessoa ou não ter preocupação com as condições climáticas ou possibilidades alimentares do futuro?
 
O conceito do sagrado, do que seria o Divino, não está na vida eterna e jovial, mas no bom funcionamento do ciclo e no cumprimento do seu destino consigo e com os outros nesse plano. Como não são mundos estanques, sem contato, os ancestrais têm a função de aconselhar na melhor ação desse ciclo dos seus descendentes. Sendo assim, para que temer a morte? Se teme mais a falta de filhos, que é a quebra desse elo.

Envelhecer e ver as sementes que se tornaram árvores e permitiram que o elo não tivesse fim. Uma noção de equilíbrio e sob as regras naturais que se abatem tanto sobre a mosca, como sobre o elefante.

Foto retirada da comunidade “Black Family Reunion”, do facebook.

São apenas algumas reflexões baseadas em algumas poucas leituras, alguns princípios e os desejos culturais manifestos que se mostram nas falas, expressões e objetivos. Cada civilização aponta para aonde quer seguir. Certos desejos e objetivos irão apontar para as estrelas, para a Lua e planetas desconhecidos como opção de vivência, baseada na conjectura de Terra acabada. A Terra tem seu tempo, que no nosso, é imortal. As perspectivas de nossas imortalidades, enquanto povos, enquanto humanos, também evidenciam qual será o nosso destino. Espero que o Sagrado, em sua forma cíclica e natural, prevaleça pelo desejo do elixir e das sensações em desespero da eterna juventude. São dos retornos que estamos falando, e da qualidade dessas novas vidas que está em jogo.


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Por: Tago Elewa Dahoma (Thiago Soares), em 08 de novembro de 2019.
  

papiroindomito "Uma espada que ao mesmo tempo tem o gume cortante e se enferruja". O dizer de si sempre é o rescaldo das nossas impressões nas outras pessoas. Ora tranquilo, ora gélido, ora paisagem nas suas diversas estações do ano...
 

Moçambique finalmente proíbe o casamento infantil


A Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras criminaliza as uniões matrimoniais com pessoas com menos de 18 anos e estipula pena de até oito anos de prisão ao familiar que obrigue a criança a aceitar a união. Para o adulto que viver maritalmente com menores de idade, a pena é de até 12 anos de prisão, além de multa.
  
A melhor notícia da semana vem da África, mais especificamente de Moçambique; isso porque o país finalmente proibiu o casamento entre adultos e crianças, que historicamente são trocadas – ainda em idade escolar – por dinheiro ou por diversos produtos, que incluem até bicicletas..

Aprovada em julho pela Assembléia da República e promulgada nesta semana pelo presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, a Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras criminaliza as uniões matrimoniais com pessoas com menos de 18 anos e estipula pena de até oito anos de prisão ao familiar que obrigue a criança a aceitar a união. Para o adulto que viver maritalmente com menores de idade, a pena é de até 12 anos de prisão, além de multa.

O país ao sudoeste da África lidera as taxas mais elevadas de uniões prematuras no mundo. Esta realidade afeta especialmente as províncias de Nampula, Zambézia, Cabo Delgado, Tete e Manica, no norte e centro do país.

No distrito de Gondola, foram resgatadas recentemente sete meninas que viviam com homens consideravelmente mais velhos, revelou Assane Ernesto, chefe do Departamento da Criança na Acção Social de Manica. Ele contou ainda que os responsáveis estão sob custódia das autoridades competentes.

Há muitos casos em que homens “encomendam” meninas para casamento, conta o educador António Chissambe, residente em Machaze, outro distrito com grandes índices de casamentos prematuros.

“Temos muitos homens que trabalham na África do Sul e, estando lá, eles solicitam aos pais que procurem uma menina em Moçambique. Muitas vezes os pais acabam por entregar uma menina em idade escolar”, disse Chissambe à DW África.

A diretora da organização Save the Children em Manica, Ana Dulce Chiluvane, revelou que, distrito de Machaze,muitas famílias aceitam trocar uma menina para casamento por uma bicicleta.


“Manica parece ser a província moçambicana mais afetada pelo fenômeno, havendo até muitas meninas, sobretudo de famílias pobres, que são prometidas em casamento ainda antes de nascerem, já que os supostos maridos suportam as despesas enquanto a mãe está grávida”, revelou Chiluvane

Marco histórico

A lei que proíbe o casamento com menores é um marco histórico para as organizações da sociedade civil moçambicanas e internacionais que trabalham na área de promoção e protecção da criança em Moçambique.

Começa agora uma nova etapa e desafios disseminar a lei para que a toda a população possa conhecer e proteger as meninas contra as uniões prematuras.

Mudar somente as leis não vai acabar com as uniões prematuras, é preciso também mudar as condições, atitudes e comportamentos da população, e vamos continuar a trabalhar arduamente para tal, informou o Unicef de Moçambique.

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Redação CONTI outra. Com informações de Só Notícia Boa, Unicef, DWAfrica e RFI

Imagem de capa: reprodução anúncio Unicef Moçambique

Fonte: REDAÇÃO CONTI outra

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Carta aberta à Nação Rubro-Negra: ‘não esqueçam dos meninos mortos no Ninho do Urubu!’


Antes que o tribunal das redes sociais me condene, já apresento minha confissão: sou botafoguense apaixonado, sócio, ex-conselheiro e frequentador assíduo das arquibancadas do estádio Nilton Santos. Este texto, porém, não tratará da rivalidade histórica, nem da disparidade financeira entre os clubes. É, na verdade, uma carta e um pedido de um defensor público do estado do Rio de Janeiro.

Imagino a euforia da Nação com a série de craques contratados, estádio lotado e o time lutando por vários títulos. Mas, neste momento mágico no campo, esta carta pede licença para lembrar dos dez jovens que viviam euforia semelhante e sonhavam ter seu nome gritado por quase 70 mil pessoas no Maracanã, mas foram mortos há quatro meses no Ninho do Urubu.

Vitinho, Arrascaeta e Gerson, três jogadores que fazem a Nação sonhar e que custaram, juntos, R$ 173 milhões para o Flamengo. O mesmo clube que se negou – quando da negociação de um acordo extrajudicial conduzido pela Defensoria Pública do Rio logo após a tragédia – a destinar 10% desse valor para a indenização das famílias dos garotos do Ninho. Para a maioria delas, seus filhos, netos, irmãos e sobrinhos representavam a única chance concreta de ascensão econômica num Brasil tão desigual. 
 
 

Para além do número de dez jovens mortos de forma terrível, há histórias comoventes, como a do jovem que veio do interior do Sergipe para tentar a sorte no futebol; da família que vive abaixo da linha de pobreza e sequer possuía conta bancária e documentação básica; do garoto que sonhava defender as traves rubro-negras e morava distante dos pais há anos.

Histórias de meninos pobres, alguns miseráveis, que sequer conseguem dimensionar as cifras divulgadas na imprensa por apenas três atletas recém-contratados.

A Nação Rubro-Negra não se confunde com a atual diretoria do clube mais popular do Brasil, que desavergonhadamente vibra com os gastos de duas centenas de milhões de reais em reforços, mas é insensível a ponto de não permitir que essas famílias devastadas tenham a possibilidade de recomeçar a vida. Afinal, das dez famílias, oito terão que ir à justiça em busca de uma reparação minimamente digna.
 
Portanto, Nação, confiando na paixão ao clube que é muito maior do que a dos seus dirigentes, façamos aqui um combinado: não deixem os dez garotos do Ninho do Urubu morrerem no esquecimento. Pressionem seus dirigentes, exibam faixas no Maracanã lotado “indenizem as famílias”, invadam as redes sociais do clube exigindo a reparação.

Exijam a preservação da memória dos garotos que morreram de forma tão chocante. Há que se construir um memorial para que todos lembrem desses meninos ao entrar no Ninho do Urubu; que dez camisas oficiais sejam aposentadas perpetuando seus nomes no Flamengo; enfim, que outras medidas, além da indispensável reparação financeira, sejam adotadas para que essa tragédia não seja esquecida por contratações milionárias.

Façam isso por todos que amamos o futebol.
 
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Fonte: theintercept

Em animação, orixás contam a história da criação do universo

Orun Aiyê – Divulgação

Natalia da Luz, Por dentro da África
Salvador – Na Bahia, que pode ser considerada a nossa pequena África, devido às múltiplas referências culturais do continente africano, nasceu o filme Òrun Aiyê, que conta como orixás do candomblé (religião de matriz africana) interagem para criar a Terra. Em iorubá, Òrun significa o mundo espiritual e Aiyê, o mundo físico. Juntos, eles coexistem e são mostrados, de forma didática, em uma animação de 12 minutos já premiada.

–Precisamos identificar nossa história, legado, cultura. Quando trabalhamos com animação, estamos mexendo com o subjetivo, com a criatividade. Quando o roteiro chegou até nós, esse legado nos tocou profundamente – contou, em entrevista ao Por dentro da África, Jamile Coelho, que dirigiu a obra ao lado de Cintia Maria.
 
  
Cintia (esquerda) e Jamile (direita) – Divulgação

Os orixás representados no stop motion (animação gerada a partir de uma sequência de fotos) são Olodumaré (ser supremo que estabeleceu a existência do universo), Orunmilá (que representa o conhecimento e sabedoria), Oduduwa (na animação, ele é irmão de Oxalá), Oxalá (orixá masculino associado à criação dos homens), Nanã (orixá que rege a justiça) e Exú (orixá que representa a comunicação e as ambiguidades presentes em todo homem). 
 
 
Orun Aiyê – Divulgação

A obra, que levou o troféu de melhor filme no último Festival de Cinema Baiano, é narrada por Bira, um griot, considerado porta-voz de muitas comunidades em diferentes regiões da África. Bira foi representado pelo historiador Ubitaram Castro de Araújo, falecido em 2013.

Durante a produção, as baianas descobriram mais sobre suas origens e sentiram necessidade de contar essa história para outras pessoas. A produção, que levou 455 dias para ser finalizada, assumiu também um compromisso com a acessibilidade, já que a obra está disponível em 5 idiomas, libra e língua dos sinais.
-Ainda é preciso falar de candomblé, é preciso contar a história real para que crianças e jovens possam desconstruir conceitos que, por ventura, tenham assimilado. Ainda é preciso muita luta para que haja respeito com a religião. Escolhemos defender essa luta também por meio da animação – completou a também jornalista Jamile. 
 
Orun Aiyê – Divulgação

As realizadoras acreditam que a apresentação dos orixás de forma lúdica ajuda a combater os estereótipos em relação às religiões de matriz africana, porque a animação consegue alcançar espaços que outras formas de militância não conseguem.

–Infelizmente, a intolerância religiosa, principalmente contra as religiões de matrizes africanas, ainda é muito recorrente. Desta forma, o filme se mostra como uma ferramenta de combate ao racismo e intolerância religiosa – destacou Jamile.

 
Orun Aiyê – Divulgação

Cintia, que participou de todo o processo ao lado de Jamile, lembra que o tema foi escolhido num encontro de colegas de faculdade. Ela contou ao Por dentro da África que Jamile viu as esculturas de Thyago Bezzera, o roteirista, e disse que queria fazer um filme com aquelas obras. Meses depois, Thyago enviou uma proposta de história para Jamile, e assim surgiu o filme!

-Durante o nosso percurso, tivemos muitos exemplos de pessoas que mudaram suas percepções sobre as religiões de matrizes africanas. Recebemos muitas mensagens de incentivo de protestantes e quando exibimos o filme em colégios, geralmente, existe um debate intenso sobre racismo e intolerância religiosa – lembrou a diretora.

Inveja, ciúme, preconceito, igualdade de gênero e coragem são alguns dos temas tratados na animação, que usa recursos gráficos e tecnologia para incentivar a reflexão e empatia.
 
  
Orun Aiyê – Divulgação

Sucesso há quase duas décadas, o filme Kiriku fala muito sobre respeito e a vida em comunidade. A animação de Michel Ocelot, baseada em referências e aspectos culturais da África Ocidental, foi traduzida para muitas línguas e inspirou espetáculos em todo o mundo.

–Acreditamos no poder da arte como catalisadora e promotora de transformações sociais. As pessoas mais jovens estão mais suscetíveis e abertas a novos conceitos. Como disse Nelson Mandela, “se as pessoas podem aprender a odiar, também podem aprender a amar” – citou Cintia.
 
  
No filme, Carlinhos Brown interpreta Oxalá – Divulgação

O filme estreou em janeiro deste ano, mas antes disso, no ano passado, foi premiado na categoria Novos Talentos do Festival Brasil Stop Motion, maior encontro do gênero na América Latina, que recebeu centenas de produções de mais de 40 países.

-A pré-estreia foi um grande sucesso em Salvador. O filme superou todas as nossas expectativas, tanto em participação em festivais importantes como em relação ao sucesso de público para um curta. Neste momento, sabemos que tem alguns pesquisadores escrevendo livros didáticos sobre o nosso filme– ressaltou a dupla. 
 
 
Parte da equipe do filme – Orun Aiyê – Divulgação

O maior desejo das diretoras é fazer o filme chegar às escolas. A lei 10.639, que determina o ensino de história afro-brasileira, é uma das formas para abrir essa porta, no sentido de exibir o filme nas escolas públicas e privadas como mais uma ferramenta de combate ao racismo e intolerância religiosa.

Para ampliar o protagonismo de novos cineastas afro-brasileiros na produção audiovisual baiana, Jamile e Cintia, que já começaram a produção do segundo filme, criaram o Núcleo Baiano de Animação em Stop Motion, que ajuda a promover o empoderamento social, geração de renda, cidadania e fortalecimento identitário de jovens negros e negras de Salvador.
-Estamos realizando​ oficinas de animação em stop motion ​em 8 terreiros e trabalhando para que “Òrun Àiyé” vire uma série e estimule essa troca entre as pessoas. 
 
Orun Aiyê – Divulgação