Segundo a pesquisa “O impacto do racismo na infância” realizada em 2010 pela UNICEF, 54,5% das crianças são negras ou indígenas. Isso significa que no Brasil, vivem 31 milhões de meninas e meninos negros e 140 mil crianças indígenas. E quando falamos de dados, é impossível não utilizar a interseccionalidade para relatar a situação caótica entre os pequenos.
Nós sabemos que essas questões envolvem uma série de conjunturas pelo Brasil afora, mas não consigo deixar de acreditar que parte o princípio educacional e social. Da falta de apoio aos pais, como aquela criança nasceu e a saúde da mãe ao gerar o bebê. Onde ela vai viver, ou melhor, sobreviver em alguns casos, entre outras questões cercam o mundo infantil e que nem sempre são tão simples, como soltar um pião na terra de barro.
Educação
Uma criança indígena entre 7 e 14 anos tem quase três vezes mais chance de estar fora da escola do que uma criança branca na mesma faixa etária; e uma criança negra entre 7 e 14 anos tem 30% mais chance de estar fora da escola do que uma criança branca na mesma faixa etária. Nós não precisamos ir muito longe quando falamos disso. É só parar pra pensar: Quantas pessoas da nossa família foram a universidade? Quais são as alfabetizadas? E os cargos, quais são?
Sabemos que tudo faz parte da educação, da falta de acesso e de como nós lutamos para conseguir o pouco que ainda temos. E sim, acredito que as cotas são só o começo. Principalmente porque os números acima relatam que as cotas, são mais do que porcentagens, quando nossas crianças, nem nas escolas estão.
Ir até a escola para muito de nós envolve um misto de medo e curiosidade. Novidade porque poucos de nós estão lá e medo porque sabemos o que vamos passar. Mas ainda na infância, a segunda opção parece a mais interessante, e na maioria das vezes, vem acompanhada da segunda, que nos faz sentir uma única vontade: desistir.
Os relatos, além do que conversamos entre os nossos, estão espalhados por aí para quem quiser ver. Quem não se lembra de Kauan Alvarenga, estudante da escola João Vieira de Almeida, em São Paulo A angústia do garoto é simplesmente um: “Eu não tô aguentando mais”, após relatar o racismo sofrido todos os dias por crianças da escola. Quando os episódios parecem intermináveis por parte dos alunos, outro coadjuvante faz parte da turma dos agressores, os professores. Eles seriam nossa salvação, e na verdade acabam reforçando o que há de pior entre as quatros paredes de uma sala de aula, como em um caso no Rio de Janeiro.
Quando dizemos que a educação é a chave para construir nosso futuro, nós precisamos saber de qual e para quem estamos falando, já que no meio dessa construção, crianças negras e indígenas encontram o racismo.
Saúde
Desde de crianças, somos considerados fortes, resistentes e são exatamente essas características que aumentam a mortalidade infantil entre os nossos. De acordo com o Ministério da Saúde 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34% entre as brancas. E, na primeira semana de vida, acontecem, em maioria, entre crianças negras (47% dos casos). Entre as brancas, representam 36%. O dados foram levantados em 2014, para a campanha “Racismo faz mal à saúde. Denuncie!”, no Sistema Único de Saúde (SUS).
Novamente chegamos ao ponto de quem tem acesso a saúde e pode desde a gravidez oferecer um bom pediatra aos pequenos, sendo que nossas mulheres muitas vezes não conhecem seus filhos ou eles não tem a oportunidade de conhecer suas mães. Mais uma vez, o racismo está lá, intacto na vida dessas crianças, além de outras situações correspondentes ao bem viver.
Social
Vinte e seis milhões de crianças e adolescentes brasileiros vivem em famílias pobres e representam 45,6% do total de crianças e adolescentes do País. Desses, 17 milhões são negros. Entre as crianças brancas, a pobreza atinge 32,9%; entre as crianças negras, 56%. A iniquidade racial na pobreza entre crianças continua se mantendo nos mesmos patamares: uma criança negra tem 70% mais risco de ser pobre do que uma criança branca.
Eu me pergunto: como criar um ser humano desta forma? Nessa projeção infeliz que nos cerca. É preciso dizer que o aspecto social também diz respeito às crianças que possuem acesso à escola, casa e saúde respeitosa, mas que ainda convivem com o fator da pele preta ser um empecilho para acessar outros patamares de vida; pelos quais passamos desde quando nascemos.
Ainda que indiretamente ou de forma imperceptível algum de nós não tenhamos observado com afinco o racismo, sabemos que ele passou por nós na infância. Em algum momento ele vai dar as caras novamente e nosso objetivo é através de análises, pensar como proteger nossas crianças dele, hoje e sempre.
Através da hospedagem dos textos e vídeos via Blogueiras Negras, vamos realizar durante todo o mês, a divulgação e criação de conteúdos para reflexão sobre o assunto. Até o momento, a campanha #RacismoNaInfância acontecerá pontualmente em outubro, mas também podemos estender a questão. Participem utilizando a hastag via Facebook, Instagram e Twitter. Vamos monitorar os relatos, imagens e tudo mais que vocês quiserem compartilhar. Vale lembrar que nossa intenção é também abarcar pensamentos futuros e estimular novos olhares sobre o assunto, toda contribuição é válida!
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Imagem destacada – Serviço de Preta
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