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sábado, 1 de outubro de 2016

O feminismo Good vibe: a branquitude racista que precisa do aval de homem branco

Por Stephanie Ribeiro,
O Brasil mesmo sendo o país de maioria negra, e mesmo tendo as mulheres negras como 26% da população, ou seja, maioria do país é de mulheres e negras. Tem ainda um feminismo/luta emancipatório pelo direitos das mulheres, extremamente RACISTA.


Atualmente as mulheres brancas vem usando a falácia do “good vibes” as brancas se intitulam como calmas, focadas, que não entram em “tretas”, superiores, amorosas, pacíficas. O antigo: luto pela sororidade. A completa oposição ao comportamento de mulheres negras, facilmente taxadas como agressivas, violentas, até quando estão DIGITANDO. Não que negras são violentas, mas SEMPRE que uma mulher negra se manifesta, ou a mera entrada de uma mulher negra num espaço causa estranhamento. E é isso… A mulher negra é taxada como agressiva ao respirar, então quando manifesta sua opinião, ou seja, se acha no direito de falar sem ter sido chamada (afinal negras servem para serem marcadas/consultadas em posts quando alguém tem dúvidas sobre o racismo) não somos BEM VINDAS. Sendo assim o Good Vibes acaba, assim que uma mulher negra questiona uma mulher branca.

Sim as mulheres negras são vistas como VIOLENTAS, e pedem que elas façam uma “comunicação não violenta” quando elas DIGITAM! Já me disseram que a forma como eu me expresso é violenta demais, como as pessoas sabem se muitas nem me conhecem?

Vou mostrar alguns prints que provam exatamente o que eu estou dizendo:






Essa foi uma discussão com uma FEMINISTA que me pediu calma assim que discordei dela, mesmo que eu tenha apenas discordado já vieram inúmeras conclusões de que eu era agressiva, por fim ela veio no meu in box dizer que minha forma de escrever era taxativa, eu apontei o racismo na ideia da “angry black woman” e ela começou a dizer que não era racista. Essa mulher assim como várias que agiram de forma muito parecida, são membras de um grupo do facebook que usa “DIÁLOGO” no seu nome. A questão é que nesse grupo ganhei fama de: AGRESSIVA. Mas enquanto elas falam que eu devo aprender uma linguagem não violenta, eu sou obrigada a lidar com esse tipo de conversa/comportamento. Como falar de linguagem não violenta no feminismo se vocês nem se esforçam para rever o próprio racismo?

Mentalmente falando, uma mulher negra não consegue ficar bem dentro dos espaços feministas. Pois as feministas que se colocam como superiores a nós, conseguem curtir comentários como esse evidentemente racista:


É fato que ter uma relação com uma PESSOA (enfatizando pessoa, pois gente negra não é objeto para você pagar de não racista na vida) que é negra, não te exime de ser racista mesmo sendo branca. Mas mesmo as feministas brancas que se sentem acima das “negras agressivas imaturas” acreditam que sim. E mesmo que você aponte, o problema será você que é uma feminista negra que aponta racismo de forma “leviana”.


Sim num grupo de feminismo onde as pessoas usam o good vibes como parâmetro, uma mulher branca me acusou de apontar racismo de forma leviana. Qual seria a forma não leviana de apontar racismo segundo os brancos? Ou qual é o mundo que as pessoas brancas vivem que elas acham que o apontamento de racismo deve ser “fofo”, com flores subindo na sua tela do computador e com cheiro de rosas? Por fim qual o comportamento que elas teriam se um homem dissesse que elas apontam machismo de forma leviana? Então a minha raiva não tem REALMENTE justificativa?

O racismo mora nos detalhes, nas “curtidas” aquelas que geralmente as pessoas não checam, mas que deixam evidente a real forma de pensar e agir de muitos na “sutilezas” do racismo brasileiro. Lembro de uma feminista dessas Good Vibes que adora fazer textos enormes criticando essa militância “agressiva da internet”, que seguia uma página racista de um homem que perseguia mulheres negras. E estou falando de perseguição REAL, dessa pessoa ir atrás de quanto uma feminista negra ganhava de salário para expor nas redes socais.

Como ela pode se achar superior e “good vibes” criticando a militância alheia, se ela da aval para homens racistas que perseguem feministas negras?

O apontamento de racismo é agressivo e raivoso, pois o racismo é agressivo e raivoso. E não venha me dizer que essa violência do apontamento, é maior do que o racismo que você propaga.

Se uma mulher branca tem o mesmo comportamento que uma mulher negra, até mesmo as feministas, conseguem apoiar uma e ofender dando lição de moral para a segunda. Por fim se uma mulher negra age no mesmo campo que uma mulher branca, ela vai te odiar! Se você escreve e ela também, se você é jornalista e ela também, se você é acadêmica e ela também, mas você tem mais espaços e visibilidade que ela. Ela vai te odiar. Ao menos que você seja a “escolhida”. É assim que funciona no racismo brasileiro, o branco racista escolhe um negro para apoiar, divulgar e ajudar. Assim ele prova que ele não é racista.


O escolhido serve: Para selfies, para fazer post nos seus blogs de mulheres brancas para que eles não soem tão racista assim, para compartilhar as campanhas dessas mulheres brancas visando algum tipo de lucro mesmo que elas já tenham recursos, para fazer o recorte racial que elas não fazem de forma alguma e nem se esforçam para isso (esforço para mim é buscar aprender sempre, o que não vejo. Vejo negras se esforçando para ler sobre trans, lésbicas, gordas, etc. Mas não vejo brancas se esforçando, pois parece que elas estão sempre esperando a ama de leite), serve até para sermos token quando alguém aponta o racismo delas, afinal olha só somos além das amigas negras as amigas negras e feministas.

Acho que mulheres negras quando são “escolhidas”, devem usufruir ao máximo disso. Afinal nós estamos sendo constantemente usadas, silenciadas e excluídas. Mas não ache que vai ser a “ESCOLHIDA”, assim tão facilmente. Existe um espécie de catálogo de qual é a “boa feminista negra” para se ter perto. então a questão não é se você puxa ou não o saco da mulher branca (assim como infelizmente vejo algumas mulheres negras fazendo na esperança de uma migalha). Mas até que ponto você se enquadra no que ela procura e acha legítimo enquanto PRODUTO.

É só notar como elas são bem seletivas, preferem jovens, MAGRAS, de pele clara, se for para ter pele escura que continuem dentro do padrão estético lido como bonito (traços identificados como finos), podem até ser periféricas ou de outros estados pois isso soa como exótico, MAS DEVEM SER SEMPRE LETRADAS, ACADÊMICAS, DESENVOLTAS e BONITAS (entendendo aqui a leitura social do que é uma mulher negra entendida como bonita). Temos que falar bem e correto… Se a negra feminista não for assim, podem até te achar legal, curtir seus posts, aceitar ser sua amiga no facebook, mas nunca vão te chamar para fazer algo com elas, pois SÓ EXISTE LUGAR PARA UMA MULHER NEGRA.

Em contrapartida se você é branca e feminista não precisa ter lido nenhuma teoria, pode ter um contato bem raso com outras feministas, não precisa nem saber que existe uma diversidade de mulheres que veio antes de você e produziu muito material intelectual, e também não precisa estar dentro desses padrões. VOCÊ NÃO PRECISA SE “ESFORÇAR”! É só ser branca de classe média, ter bons contatos, se dizer feminista, que vão te dar colunas nos mais variados meios de comunicação. Perceba o histórico de engajamento e intelectual que algumas mulheres negras precisam ter, para estar ocupando o mesmo espaço que algumas mulheres brancas de classes sociais abastadas conseguiram com extrema facilidade.

É um amigo do amigo, um colega aqui, uma pessoa que admira alguém ali. A rede de contatos é imensa. E ela só se mantém pois é seletiva para quem vai ser ampliada ou não. Por fim, até mesmo mulheres brancas que de alguma maneira tentam calcar seu espaço, são renegadas. Mesmo que tenham mais tempo de leitura, mesmo que tenham vivências mais condizentes com a maioria das mulheres brasileiras, mesmo que tenham muito material e ideias para debate. Se elas não forem além de classe média, good vibes e não passarem PANO para machistas de esquerda. Elas não terão voz.

A maioria das feministas brancas que têm destaque no Brasil são além de classe média média/alta pessoas que fingem que não estão vendo o machismo do amigo, irmão, pai, parceiro, homem que têm algum PODER. E estou falando de machismo PESADO, de negligência de filhos, de não pagamento de pensão, de assédio de mulheres, de silenciamento de outras mulheres e RACISMO.

Por fim elas querem agora incluir HOMENS no feminismo DELAS, mas ei homem negro não se iluda, você feminista negra muito menos. Se acha mesmo que vão incluir seu pai, seu irmão, seu filho negro. Apenas acorde! Homens negros inclusive fazem discussão de masculinidade e não vejo mulheres brancas lendo ou indo atrás disso, homens negros de São Paulo fizeram uma peça de teatro para debater a masculinidade negra e periférica, sabe quantas feministas brancas estiveram na platéia? Sabe quantas feministas brancas ficaram sabendo e se interessaram em ver essa peça? Sabe quantas mulheres brancas defendem uma inclusão de homens no feminismo e mantém grupos de debate feministas onde a maioria dos homens desse grupos são brancos? Sabe quantas feministas brancas eu pesquiso nas suas redes sociais e numa mera olhada nos amigos delas percebo que a maioria é de pessoas brancas? E mesmo assim se sentem as donas da inclusão? Sabe quantas feministas brancas acham que seu feminismo é melhor e olham com desdém para mulheres negras? Sabe quantas feministas falam de incluir homens, mas ainda acham graça quando alguém usa o termo “piada de pedreiro”? Sabe quantas feministas brancas odeiam toda vez que mulheres negras querem falar sobre construção de afetividade?

Sabe quantas feministas brancas querem e precisam incluir homens brancos, pois no nosso mundo a questão da defesa do semelhante na racialidade é ENORME?

Desculpa o transtorno, mas são muitas.

É muito engraçado para mim que já leu feministas negras, feministas brancas e até homens (e isso inclui NEGROS) que fazem debate sobre masculinidade. Ter que ver mulheres brancas dizendo que querem incluir homens e ressalto apenas os brancos pois na categoria do que elas compreendem por homens temos apenas o que elas convivem e entendem como sujeito. E são homens brancos, classe média, cis, e que se julgam de esquerda. Ou que acham que debatem masculinidade falando coisas como: homens precisam chorar.


E quando eu digo para eles: mas as mulheres negras também não choram, pois na nossa construção do que é ser mulher nos obrigam e impõe a ideia da força. Ninguém me responde, pois eles nem sabiam disso. Portanto pensar MASCULINIDADES também passa por RAÇA, pois pensar gênero sempre está associado a RAÇA. O homem que não pode chorar DE VERDADE, não é o branco barbudinho “minha maconha, minha vida”.

O homem branco pode até fazer textos que demonstram sua “fraqueza” diante de uma mulher, que isso vai ser entendido como lindo!

Gênero NUNCA deveria ser desassociado de raça, e acho realmente IMPORTANTE que homens reflitam sua masculinidade já que ela tende a ser nociva para mulheres. Porém não acho que isso necessariamente se dá fazendo parte dos meios feministas, muito menos tentando agradar mulheres que são feministas. Debater masculinidade assim como debater o que é ser mulher, precisa ir na raiz da questão e isso é DOLOROSO. Não tem cheiro de flores, muito menos #gratidão. Ler Cornel West e bell hooks no livro “Breaking Bread – Insurgente Black Intellectual Life” é uma prova que se pode dialogar com feministas debatendo inclusive masculinidades de forma séria sem necessariamente querer ser feminista. Vocês leem em inglês, fizeram escolas com pedagogia waldorf, têm tempo para tanta coisa, MAS NUNCA leem intelectuais negros e mesmo assim querem propor algum tipo de linguagem inclusiva, “good vibes”, que no fundo só nos silencia enquanto negras quando estamos pautando a nossa vivência e PRODUÇÃO INTELECTUAL DE INDIVÍDUO NEGRO NESSA MERDA DE SOCIEDADE RACISTA. Então sim agora eu estou sendo raivosa, e quero continuar sendo uma negra raivosa afinal eu recebo mensagens de FEMINISTAS (uso o caps para enfatizar) dizendo como depois que comecei a namorar ESTOU MAIS CALMA.

Como se a merda da piroca do meu namorado me deixasse mais calma ou fosse a melhor coisa que aconteceu na minha vida. A sociedade é falocêntrica e acredita mesmo que mulheres precisam de um pênis entrando em algum lugar delas para serem menos “histéricas”. Mesmo que o que definem histeria para mim seja só: senso crítico. A sociedade nos educa para acreditar que uma relação só é completa e uma mulher só é boa, se ela tem um homem com ela, apoiando ela, CONCORDANDO com ela. Eu estou mais calma, eu estou lendo meus livros, eu estou fazendo meus trabalhos, pois EU estou focando em mim mesma.

No MEU feminismo de mulher negra talvez eu não queria incluir homens brancos, que já são incluídos no mundo TODO. Que já tem lugar de fala para tudo, que já são a maioria em todos os cargos políticos de poder do país, que são a maioria na produção intelectual, que já são a maioria no veículos de jornalismo, que são estão em TUDO desde a propaganda de pasta de dente que nunca tem negros, até nos mais altos cargos de chefia de empresas pelo mundo MESMO QUE PASMEM, homens brancos sejam quantitativamente a minoria brasileira. No MEU feminismo negro talvez eu não me sinta OBRIGADA a ser didática com pessoas que não fazem nem o mínimo que é ler um pdf e descobrir que Audre Lorde já falava em 1981 no livro Sister Outsider:

“Minha raiva é uma resposta a atitudes racistas e a ações e presunções que surgem dessas atitudes. Se a forma como você lida com outras mulheres reflete essas atitudes, então minha raiva e seus medos que a acompanham são focos que podem ser usados para o crescimento do mesmo modo que eu usei ao aprender a expressar raiva para o meu crescimento. Mas para cirurgia corretiva, não culpa. Culpa e defensividade são tijolos num muro contra o qual todxs nós nos debatemos; eles não servem aos nossos futuros.”

Porém acho irônico como o feminismo não consegue REALMENTE incluir mulheres negras e isso não é aceitar tudo que uma mulher negra diz, mas é fazer a autocrítica em cima dos apontamentos de uma mulher negra.

Como uma feminista que adoro muito a Adélia Mathias disse:

Mulheres brancas não ganham nada ao estarem conosco, enquanto uma associação com homens brancos pode dar capital simbólico, casamento, biscoito… mesmo que inconsciente o ser humano alvo da afetividade é o homem branco. Ele precisa de cuidado, compreensão, carinho e pode dar um bom retorno. Tem muita coisa enraizada nesse posicionamento que parece nem notarem.

Então no feminismo brasileiro good vibes, paquitão, gratidão, sororidade, não se engane que entre um homem branco e uma mulher negra a escolha é certa. As mulheres negras estarão sempre sozinhas, pois nós não somos apenas mulheres somos negras e não somos apenas negras somos mulheres. Cada vez mais eu acredito que a única solução para uma mulher negra é colocar seu bem estar acima de todos. Isso não é ser raivosa e nem egoísta é ser sensata.

Fonte: Medium.

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