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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Vanessa da Mata: "Nossa geração tem que dar o recado também"


Por: Susan Souza,
"As pessoas deixam de fazer bobagens quando têm a intelectualidade funcionando em prol de si mesmas", reflete a cantora Vanessa da Mata quando perguntada pelo iG sobre as políticas culturais em andamento pelo Brasil. No ultimo domingo (26), a cantora mato-grossense apresentou pela primeira vez o projeto Nivea Viva Tom Jobim ao público de São Paulo, no Parque da Juventude, com entrada gratuita.

O repertório do compositor carioca ganhou novos arranjos de Eumir Deodato - que já trabalhou com Frank Sinatra, Aretha Franklin e o próprio Tom -, e contou com sugestões de Vanessa. "Tivemos de misturar o novo com o clássico, porque a nossa geração tem que dar o recado também", explicou a cantora. O espetáculo já passou por Salvador, Recife, Brasília e Porto Alegre. Depois de São Paulo, segue para o Rio de Janeiro em apresentação única na praia de Ipanema (09/7).

Em 2013, comemora-se os 50 anos do primeiro disco solo de Tom Jobim, "The Composer of Desafinado Plays", lançado em 1963. Nele estão faixas que são referência em se tratando de bossa nova, nascidas da parceria com Vinicius de Moraes, como "Chega de Saudade".

Neste show que vem agora a São Paulo e Rio, músicas como “Só Tinha de Ser com Você”, “Desafinado”, “Eu Sei que Vou te Amar” e a internacional “Garota de Ipanema” têm espaço garantido, assim como canções menos conhecidas do repertório do maestro.

iG: Como tem sido seu contato com a obra de Tom Jobim? 
Vanessa da Mata: Eu já era fã e ficava estudando o que ele compunha, a definição das imagens que as melodias fazem. Estudei muito essa geração dele, gosto de como eles constroem a letra. Tom era um compositor simples, brincalhão e de bom humor.


iG: É um trabalho de responsabilidade, na sua opinião? 
Vanessa da Mata: Não sinto como uma responsabilidade, mas sim como a delícia de cantar Tom. A responsabilidade veio no começo, quando a gente estava montando os arranjos. O Tom era o próprio clássico, mas muito revolucionário para a época dele e estávamos trazendo para a minha geração uma forma de interpretar. Nessa hora foi com mais cuidado que trabalhamos, mas com um pouco de interferência. Nós preservamos a melodia, mas trouxemos uma maneira de tocar do nosso jeito.


iG: Eumir Deodato arranjou as composições do projeto. Você também palpitou na nova roupagem? 
Vanessa da Mata: Palpitei muito. Ele vinha com arranjos de base e harmonia. Quando trouxe os timbres, teve um momento em que falei: "Fui chamada para fazer isso!". Tivemos de misturar o novo com o clássico, porque a nossa geração tem que dar o recado também. Tom é o segundo artista mais gravado do mundo e não seria um trabalho que fizesse diferença se nós tivéssemos medo de criar um arranjo novo.


iG: Você acha que o Brasil carece de mais homenagens a artistas de bossa nova? 
Vanessa da Mata: As pessoas mais novas quase não conhecem o Tom e a geração dele. Ainda há muita gente boa, poetas, cantores, compositores e escritores. Temos um comportamento muito estranho no Brasil de não dar tanto valor para as coisas. Trabalhos belos são deixados para trás com uma facilidade muito grande porque o brasileiro não tem memória. Tem gente que colabora com isso e não se lembra de artistas como Lupicínio Rodrigues, Cartola, Dolores Duran e tantos outros para levar ao popular.


iG: Qual é o seu contato com a atual música pop brasileira, como sertanejo universitário, tecnobrega...? 
Vanessa da Mata: Não tive a chance de ver um show da Gaby (Amarantos), mas sei que é muito interessante. Com o sertanejo universitário não tenho contato, são outras turmas. A Tulipa Ruiz eu acho linda, do Junior Barreto gosto desde antes do primeiro disco, a galera nova do Recife que faz uma junção do manguebeat antigo com pop. Los Hermanos eu gosto muito. Eles não vão para a TV, mas continuam fazendo sucesso e eu dou valor a isso.


iG: Você acha que o Brasil está conduzindo bem a Cultura? 
Vanessa da Mata: Acho que falta muito ainda porque a verba é muito pequena para Cultura. Ela é sempre deixada de lado assim como a Educação, que não está em primeiro plano. Se Educação e Cultura estivessem crescendo juntas o País seria voltado para um desenvolvimento grandioso. Com isso precisaria menos de armas, as coisas se solucionam melhor quando há cultura. As pessoas deixam de fazer bobagens quando tem a intelectualidade funcionando em prol de si mesmas. Você não se vende, tem mais dignidade e não se desespera tão facilmente. Por enquanto, acho que ainda é muito pouco.

Fonte: iG

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