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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Xô racismo! 10 músicas para entender e sentir a grandeza dos orixás

por Kauê Vieira,
Simone e Simaria protagonizaram uma cena no mínimo controversa. Acusadas de racismo, as sertanejas se recusaram em pronunciar o nome da Iemanjá – orixá homenageada na música ‘Quero Ser Feliz Também’, do Natiruts.

As duas justificaram dizendo que não conheciam a letra da canção de sucesso. Tá bom. O assunto, claro, diz muito sobre o racismo religioso no Brasil. Candomblé e Umbanda são discriminadas de todas as formas.

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Iemanjá por Pierre Verger

Seja por meio do preconceito velado ou explícito – caso das dezenas de terreiros de culto aos orixás destruídos Brasil afora. A intolerância religiosa come solta no país.

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A cada 15 horas, uma denúncia de intolerância religiosa é registrada, segundo levantamento do Ministério dos Direitos Humanos. Isso porque, constitucionalmente, o Estado brasileiro é laico há 120 anos.

Para refrescar a memória dos que insistem em pregar o desconhecimento, separamos 10 canções que homenageiam e exaltam a beleza dos orixás. Pela liberdade religiosa. Contra o racismo. 
 
 
1- Mariene de Castro: Oxóssi/Citação: Ponto de Oxóssi


Mariene de Castro e os encantos de Oxum

Feita na Bahia, Mariene é um espetáculo. Como boa filha de Oxum, não poderia deixar de cantar para o senhor das matas e companheiro da dona das águas doces.

“Oxóssi reina de norte a sul

Oxóssi, filho de Iemanjá

Divindade do clã de Ogum

É Ibualama, é Inlé

Que Oxum levou pro rio

E nasceu Logunedé

Sua natureza é da Lua

Na Lua Oxóssi é Odé

Odé, Odé, Odé, Odé”
 

 
 2- Maria Bethânia – As Ayabás


Bethânia, aqui do lado de Mãe Menininha do Gantois

Não dá para falar do Candomblé como força cultural sem citar o nome de Bethânia. A baiana iniciada por Mãe Menininha no Terreiro do Gantois, em Salvador, sempre fez questão de exaltar a potência das divindades africanas.

Nesta composição do irmão Caetano Veloso e do parceiro Gilberto Gil, Maria Bethânia destaca o poder da ayabás – orixás mães e rainhas.

Para Iansã:

“Iansã comanda os ventos

E a força dos elementos

Na ponta do seu florim”

Lá veio Obá:

“Obá – Não tem homem que enfrente

Obá – A guerreira mais valente”

Se lembrou de Ewá:

“Euá, Euá

É uma moça cismada

Que se esconde na mata

E não tem medo de nada”

E, finalmente, Oxum:

“Oxum… Oxum…

Doce mãe dessa gente morena

Oxum… Oxum…
Água dourada, lagoa serena”
 

 
3- Mateus Aleluia – Cordeiro de Nanã


Com seus cabelos e roupas brancas cor de algodão. Contraste com a pele negra marcada pela passagem do tempo. Mateus nasceu em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, mas pode ser visto passeando de chinelos pelas ruas apertadas de Salvador.

É do ex-membro de Os Tincoãs a bela ‘Cordeiro de Nanã’. Como o nome já adianta, a canção homenageia ela, que vem, parafraseando Mariene de Castro, no som das chuvas.

“Sou de Nanã, euá, euá, euá, ê

Sou de Nanã, euá, euá, euá, ê”

Nanã está na água das chuvas. Na terra molhada dos pântanos e brejos. De roxo, andando calmamente, é a materialização da sabedoria. Salubá! 
 
 
4- Juçara Marçal e Kiko Dinucci – Atotô


Juçara e Kiko em registro de Marina Sapienza

Deixemos os clássicos de lado. Por hora. Juçara Marçal e Kiko Dinucci são membros do Metá Metá, mas também costumam trabalhar em dupla.

Ao lado do violão preciso do paulista de Guarulhos, Juçara canta para ‘o velho’. A faixa do disco ‘Padê’ exalta, com calmaria, Obaluaê. O senhor que cura todas as chagas com um bom banho de pipoca reina soberano.

A linha de baixo Marcelo Mainieri dialoga com o silêncio. Obaluaê não gosta de algazarra e se move lentamente. Aprecie. 
 
 
5- Saudação/Abertura -Rita Benneditto

“Adorei as almas

As almas adorei”




Rita cantando o Brasil

Já ouviu ‘Tecnomacumba’? O disco é um ode à Umbanda. Uma exaltação ao orixá. O trabalho de Rita Benneditto exalta todos os elementos da religião do Brasil.

A abertura, com a velocidade de Exu, mistura funk e a fúria de guitarras para celebrar e saudar. De Exu, claro, passando por Ogum, Oxóssi, Obaluaê, Jurema, pombas giras e por aí vai. Eita Brasil plural!

Eparrey! 
 
 
6- Casa Nova/Raiz – Dona Edith do Prato


Maria Bethânia (sempre ela) ao lado e Dona Edith do Prato

Ai, o Recôncavo Baiano. Terra de sangue negro, descendentes de africanos e do samba de roda. A manifestação mais baiana de todas se tornou fio condutor de Dona Edith do Prato.

Macumbeira de primeira, ela cantou o povo brasileiro. Sua fé, costumes e comidas. ‘Casa Nova/Raiz’ une o frescor da voz jovem de Mariene de Castro (sempre ela) com a sabedoria de quem já viveu o suficiente. Tem como dar errado?

Sabe o que é axé? Escute o trecho abaixo para ter uma ideia:

“Tá na beira do mar nas folhas de sultão

Nos metais de ogunhê vendo raio e trovão

Tá na voz mais bonita que tem graça nas mãos

Por um milagre bem disse será a voz da canção”
 
 
7- Charles Ilê – Carlinhos Brown e Ilê Aiyê

Difícil escolher apenas uma música do bloco afro mais lindo do Brasil e do cantor mais talentoso de todos. Brown e Ilê, juntos na Concha Acústica de Salvador.

“Ogum onilê

Onilê Ogum”

Só pode ser coisa orixá! Com sua guitarra, todo paramentado, o filho do Candeal exalta Ogum e sua força. Ao mesmo tempo em que mostra a riqueza intelectual do Ilê ao cantar a África e as particularidades culturais de seus 54 países.

Brown oferecendo pipoca para Obaluaê

“Que realeza, Charles

Beleza negra

Negra marrin

Negra Salim

Salamaleikum, Charles

Salamaleikum

Salamaleikum”
 
 
8- Kaô – Gilberto Gil

Dizem por aí que Gilberto Gil é um orixá. Filho de Xangô, face da Justiça, o baiano caprichou ao homenagear o dono de sua cabeça.

‘Kaô’, lançada no álbum ‘Sol de Oslo’, do fim da década de 1990, é um mantra. Uma espécie de meditação. Cada toque da voz de Gil, ali, quase nua, emociona. Entra no sangue e dá a dimensão do que um orixá pode significar.

Gil como Oxalufã para o fotógrafo Daryan Dornelles

“Baobá

Obá obá obá obá Xangô

Obá obá obá obá obá Xangô

Obá obá obá obá Xangô

Obá obá obá obá obá”
 
 
 
9- Afoxé de Oxalá – Roberta Nistra

Sexta-feira é dia de vestir branco. Respeito ao orixá da paz e sabedoria, Oxalá. Homenageado com sensibilidade no ijexá de Luiz Antônio Simas, cantado aqui por Roberta Nistra.


Roberta Nistra também canta para Ogum

“Orun Alá

Orun yê

Alá un

Alá Orun

Alá”
 
10 – Obàtálá – Metá Metá

Ainda debaixo do alá de Oxalá. E talvez inspirada na tranquilidade da já citada ‘Kaô’, de Gilberto Gil, o Metá Metá deu show.



Gente que ama amar o Metá Metá

Thiago França e seu saxofone levitam de mãos dadas com as notas de ‘Obatalá’. Poucas coisas conseguem ser mais bonitas e sensíveis. Difícil não derramar uma lágrima.

Obàtálá, dizem os Yorubás, é criador do mundo, dos homens, dos animais. O ‘Rei do Pano Branco’ foi o primeiro orixá criado por Oludumare. Se delicie com a voz da talentosa Juçara Marçal e pense no colorido lindo da vida.
 
 
Fonte: hypeness

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