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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Fotógrafo do Recanto das Emas é selecionado para expor trabalhos em NY

Luiz Ferreira, de apenas 23 anos, foi um dos selecionados para expor no Patchogue Arts Gallery (foto: Divulgação/Guilherme Couto)


O estudante de artes visuais Luiz Ferreira está arrumando as malas para realizar a primeira exposição internacional, em Nova York. Com apenas 23 anos, Ferreira foi um dos convidados da Patchogue Arts Gallery, para apresentar o trabalho BRIGHT que estará exposto a partir de 8 de setembro na cidade norte-americana. Mas para que o morador do Recanto das Emas possa ir acompanhar a própria mostra, ele precisa de ajuda para custear as despesas de passagem e hospedagem.
 
Um dos trabalhos de Luiz Ferreira 
(foto: Luiz Ferreira/Divulgação)

Por isso, Ferreira criou uma “vaquinha” on-line para levantar o valor de R$ 5 mil. “A abertura é agora em setembro, mas eu vou só vou conseguir em outubro (no encerramento), caso consiga o dinheiro. Eu fiz a vaquinha on-line porque os meus amigos me pressionaram muito e eu estou tentando arrecadar, cada dia entra um pouquinho, eu to com esperança”, explica o fotógrafo. As doações podem ser feitas por esse link.

A ida à cidade norte-americana veio quase por acidente, como conta Ferreira: “Estava procurando alguma coisa sobre residência e me deparei com esse edital. Enviei meu currículo em junho e o resultado saiu agora em agosto. Fiquei feliz, é outra perspectiva pra mim, é um trampo que vai ressignificar nossa história pela arte, na prática, principalmente no caso da periferia, que tem dificuldade de ir tão longe”.
Exposição

Um dos objetivos de BRIGHT – que está indo a Nova York – é retratar a masculinidade negra fora dos padrões e tabus impostos pela sociedade contemporânea, como acredita o artista. “O corpo negro tem um estereótipo, principalmente o masculino, ele tem uma objetificação muito grande, e existe também as cobranças que a gente tem nesse processo de transformação. Então eu foquei mais nesse processo de raça e classe. Porque dentro da masculinidade tem essa divisão, o homem branco tem uma dominância muito forte, enquanto negro parece mais objetificado”, aponta Ferreira.
 
Um dos trabalhos de Luiz Ferreira 
(foto: Luiz Ferreira/Divulgação)

O fotógrafo ainda defende a iconografia do trabalho como uma forma de memória: “É sobre contar nossa própria história. Eu sempre tento levar a memória, expor a relação do tempo e espaço. Acho que dentro da comunidade negra foi perdida. Tudo que a gente sabe dentro da nossa história é contado por nossos avós, por uma contação de história informal. Sempre tento sempre consolidar essa história. No mundo contemporâneo a gente tem esse poder de escrever nossa história pela arte e não só seguir o que foi contado por colonizadores”.
 
Referências
 
Um dos trabalhos de Luiz Ferreira 
(foto: Luiz Ferreira/Divulgação)

O que mais chama a atenção ao ver o trabalho de Ferreira é o forte traço contemporâneamente urbano. Contrastes e traços duros moldam a composição das fotos e deixam claro que mesmo o artista sendo tão jovem, pratica importante controle sob as fotos. Não para menos, o morador do Recanto das Emas cita referências de peso para a própria carreira, como o alagoano Jonathas de Andrade (que tem apenas 35 anos), a paulista Rosana Paulino, o também ceilandense Antonio Obá e o nova-iorquino superstar Jean-Michel Basquiat.
A fotografia que será exposta em Nova York 
(foto: Luiz Ferreira/Divulgação)

Já sobre o panorama da cidade em relação a recepção artística, a opinião de Ferreira é assertiva: “Eu acho que aqui em Brasília existe um pré-mapeamento com os artistas. Eu acho que é mais difícil uma pessoa nova entrar nos meios de produção artística, sabe? Como se fossem mais fechadas. Claro que em algumas galerias são mais abertas, mas no fim das contas foi mais fácil ser aceita lá do que aqui”.

A carreira de Luiz Ferreira na fotografia é relativamente nova. “Eu comecei a fotografar há 4 anos, com um curso gratuito que teve lá na Ceilândia. Eu sempre me senti atraído pela fotografia e sempre me senti incomodado com a representação das pessoas negras na arte e ao mesmo tempo eu estava buscando minha identidade como um negro e durante esse processo eu passei a usar a narrativa da representação negra no meu trabalho, porque eu não via muito”, conta.

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