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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Redução da maioridade penal: vamos falar sobre as mães negras e periféricas?


A redução da maioridade penal sob o olhar da mulher negra sempre tem sido subestimada nessa discussão, e quando não são culpabilizadas, são invisibilizadas. Mas afinal quem são esses jovens que podem ser encarcerados aos 16 anos, sem ao menos terem seus direitos básicos garantidos? E quem são suas mães?

Sou uma mulher negra e filha de uma mulher também negra e solteira, que sempre que teve de lidar não só com olhares de reprovação em relação a sua maternidade, pelo simples fato de ser solteira, como também de ter que ser forte o tempo todo. E reproduzem isso de forma desumana, como se nos coubesse sermos fortaleza.

As mães negras passam por uma estrutura cruel e racista que esse Estado tem imposto a elas. Inclusive temer pela vida de seus familiares que são massivamente assassinados pela Polícia Militar.

E por isso é de extrema importância deixar claro que caso essa PEC 171 seja aprovada, será o povo negro mais uma vez quem perderá seus direitos, aliás, direitos esses que nunca foram seus. Continuamos sofrendo o processo de genocídio, somos minoria nas universidades, mas maioria nas cadeias, aliás a nossa população carcerária é composta majoritariamente por negros, 70%, como consta no mapa do encarceramento 2015.

O sistema carcerário brasileiro está falido, superlotado, os presos vivem sob condições precárias. A educação não é prioridade e sequer chega aos jovens da periferia, que seguem marginalizados na nossa sociedade. 

Mas porque falar das mães negras?

Porque me parece no mínimo, muito leviano nos excluírem desta pauta, uma vez que são os NOSSOS filhos, netos, irmãos que estão sendo encarcerados. Muitos adoram estar com o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) na ponta da língua, mas vivem relativizando nossa dor.

Oras, são as mães negras, e em sua grande maioria solteiras 52,89%, conforme censo de 2010, quem são abandonadas por seus companheiros, são arrimo de família e que por conta de serem empobrecidas, negadas à educação, precisam trabalhar precocemente e em postos de trabalhos precarizados. Pois ainda são minorias, no quesito escolarização. Apenas, 6,71% concluíram o ensino superior, conforme Relatório Estatísticas de Gênero do IBGE, de 2010.

Em 2013, foi divulgado pelo Ipea, que 61% das mulheres negras são vítimas de feminicídio, e dessas 48% nem conseguiram concluir o ensino fundamental. E para além disso, ainda têm dificuldade em matricular seus filhos pequenos em creches, por conta do déficit de vagas, mas também porque a maioria das creches exigem das mães, carteira de trabalho assinada, e muitas mulheres negras não as tem, uma vez que é sabido que a nossa inserção do mercado de trabalho é nitidamente desvantajosa. Apesar da participação na força de trabalho ser mais intensa que a de mulheres não negras.

É inadmissível que a partir de tantas disparidades como essas expostas acima, essas mães continuem passando despercebidas por movimentos contra a redução da maioridade penal. E sim, estou aproveitando para encher esse texto de números e dados importantes para que não relativizem nossa dor, como geralmente muitos fazem, alegando que individualizamos muito nossos depoimentos.

Por isso quero deixar nítido que quando nós, mulheres negras falamos de racismo, não estamos supondo e sim expondo nossas narrativas, vivências. Então não nos silenciem!

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Imagem destacada: 18razoes.wordpress.com


Uma estudante de jornalismo, que teima em escrever poesias ... rs Que nas horas vagas tem como paixão, o prazer da dança, pois toda forma de se comunicar vale a pena!

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