Racismo é o significado e a intenção verdadeira das ações dos shoppings paulistas. Eles ganharam de juízes de competência e intenções duvidosas as autorizações que lhes permite decidir, arrogante e ilegalmente, quem pode e quem não pode entrar em suas dependências.
Aliás, espera-se que a Justiça do Rio, onde devem acontecer rolezinhos neste final de semana, não mimetize a mediocridade moral e legal de juízes paulistas atrás de 15 minutos de fama inglória.
Racismo porque o perfil de impedidos e impedidas (ou, na acepção subliminar dos supostos juízes, “criminosos” e “criminosas”) não está descrito em canto algum, mas é fácil de ser compreendido pelos seguranças nas portas dos centros comerciais.
É sempre o mesmo: pele escura, jovem. Muitos usam bonés e quase sempre vêm de bairros pobres – esses crimes imperdoáveis... Estão ali para dar um passeio, o seu “rolezinho”, desfrutar da praça de alimentação e ir ao cinema. O mesmo que fazem todos os dias jovens moradores das zonas ricas da cidade, de pele clara e cabelo louro, sem que ninguém lhes peça identificação.
Jovens detidos após 'rolezinho' em shopping.
Foto: Wanderley Preite Sobrinho / iG
Racismo é a motivação tão forte por trás do que fazem esses shoppings, verdadeiros supra sumos do capitalismo compulsivo, que os leva a contrariar até a racionalidade econômica que lhes dá sentido, impedindo consumidores de consumirem.
Racismo é a matriz ideológica que orienta as decisões de um Judiciário que assim respalda, incita e fornece a base legal do preconceito com que a sociedade trata há 514 anos pobres, negras, negros, indígenas e quem mora em favelas.
É o apartheid brasileiro desrespeitando a Constituição Federal e resistindo ao século 21, décadas após o apartheid original ter sido enterrado na África do Sul.
Racismo é a ideia por trás da cobertura que certa imprensa dá aos rolezinhos, reproduzindo denúncias anônimas de que os rolés se transformariam em arrastões e fechando os olhos para o fato de que correrias são diferentes de roubos em massa e que muitas vezes são provocadas por seguranças infiltrados – exatamente como a PM do Rio fez, e está fartamente documentado, nas manifestações de junho de 2013.
É assim que se fecha o ciclo pernicioso da notícia falsa, que alimenta novos fatos que justificam decisões judiciais, como se tudo não passasse de preconceito e fosse mesmo real. Justificando, inclusive, a violência da PM paulista e suas indefectíveis bombas e balas de borracha.
Racismo, enfim, é a palavra que ninguém ousa dizer ou escrever, mas que é o sentimento que vai no peito de administradores de shoppings, juízes e jornalistas unidos em torno daqueles valores velhos que levaram o Brasil a abolir apenas formalmente a escravidão.
Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
Fonte: Noblat.
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