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sábado, 8 de junho de 2013

Descolonizar Mentes

Joel Zito Araújo - cineasta
por Joel Zito Araújo,
     Socializando um artigo que publiquei no O GLOBO sobre a ação de um juiz do Maranhão que tenta inviabilizar o edital do MinC para cultura negra.

     Uma sociedade deve buscar medidas especiais para resolver suas desigualdades históricas profundas? O Congresso Brasileiro ao aprovar o Estatuto da Igualdade Racial considerou que sim. O STF, ao julgar como legítima uma política de cotas para a inclusão de negros, índios e estudantes oriundos da escola pública na universidade pública brasileira, também considerou que sim.

     Mas, um juiz de uma das regiões mais desiguais do país, o Estado do Maranhão, desconsidera estas conquistas recentes e tenta dar um passo atrás. É necessário refletir o quanto uma atitude como esta afeta o país como um todo, além de frustrar a enorme demanda reprimida de projetos afro-culturais que explodiu em mais de duas mil inscrições para o edital do MinC que este juiz tenta inviabilizar.

     Como desconsiderar que vivemos em um Brasil que tem uma representação audiovisual tão distorcida de si mesmo, onde um terço das telenovelas produzidas, em meio século de sua história, não trouxe nenhum negro, e só muito recentemente começamos a ver atores afrodescendentes incorporados como belos e como protagonistas?

     Por que setores da sociedade brasileira, uma espécie de Brasil profundo e arcaico, recusam-se a ver que o país tem de transformar-se para manter-seno posto de uma das seis maiores economias do planeta, e para isso precisa criar ambientes de diversidade para preparar profissionais que irão representá-lo em suas necessidades globais de comércio e trocas diversas?

     Considero que o edital do MinC é uma das pedras fundamentais que estão ajudando a erguer um novo país. O MinC, muito além de assegurar que uns poucos milhões de reaispossam alimentar a nossa produção cultural com narrativas diversas do que estamos acostumados, irá ajudar a preparar quadros para o mercado audiovisual tão carente de profissionais afrodescendentes.

     Devemos aplaudir o MinC por buscar medidas positivas para assegurar algum equilíbrio diante de uma produção audiovisual massiva que historicamente escolheu o segmento branco para representar o ser humano, o luxo, a beleza e a inteligência.É hora de descolonizar nossas mentes.

Fonte: Jornal O Globo*.

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