Páginas

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Poetas negras da literatura brasileira

Fui convidada pelas queridas da Mulheres que Escrevem para fazer uma espécie de curadoria de poetas negras brasileiras que leio, admiro e indico. Como escritora, cordelista e, claro, poeta, sou profundamente influenciada por todas elas. Na verdade, algumas dessas mulheres foram as primeiras escritoras negras que li na vida, quando eu ainda buscava por referências e exemplos de mulheres negras na literatura, já que não conseguia encontrá-las nas aulas da escola, na única livraria e nos poucos sebos que existiam no Cariri, interior do Ceará, e nem na mídia.

Por Jarid Arraes,
Porque tive que pesquisar sozinha, sei da importância de recomendações como estas. Não porque listas assim são definitivas e completas, mas porque podemos abrir uma porta que desperta curiosidade em quem lê, para que vá além, busque mais. Elas são, também, espelhos e referência para mulheres negras que escrevem ou querem começar a escrever. Para que saibamos que não estamos sozinhas.

Nessa lista, tentei reunir nomes que nos mostram uma diversidade poética, de histórias e de idades. Publicadas por editoras, de forma independente e pela internet. Gerações diferentes, frentes diferentes, algumas que também escrevem prosa, textos de opinião sobre questões raciais e de gênero e que são profissionais admiráveis em outras áreas além da Literatura. Tenho certeza de que esse grupo trará pelo menos um nome novo para sua lista de leitura. Se joga!

Alzira Rufino

É ativista política atuante no Movimento Negro e no Movimento de Mulheres Negras. De família negra e pobre, tendo trabalhado desde criança, aos dezessete anos foi admitida em um hospital como auxiliar de cozinha. Ficou na função por dois anos, período em que ganhou seu primeiro prêmio literário. Tem publicado artigos em jornais e revistas brasileiras e do exterior. Ganhou diversos prêmios de poesia em nível local e nacional e tem publicações de poesia, ficção e ensaios (dados extraídos da Wikipedia). Para conhecer o trabalho de Alzira Rufino, você pode curtir sua página no Facebook ou ler seus poemas no site da Casa de Cultura da Mulher Negra.

Beatriz Nascimento

Maria Beatriz do Nascimentonasceu em Aracaju, Sergipe, em 12 de julho de 1942, filha de uma dona de casa e de um pedreiro, a oitava de dez irmãos. Beatriz também fez o caminho de muitas mulheres negras. Foi uma retirante e se mudou com sua família para Cordovil, Rio de Janeiro. Estudiosa, pesquisadora, ativista, autora e graduada no curso de história pela UFRJ, também foi professora na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro. Participou de um grupo de ativistas de negras e negros que formaram núcleos de estudo no estado, além de manter um vínculo com o movimento negro da época (dados extraídos do site Alma Preta). Falecida em 1995, Beatriz foi apagada da história da poesia e, ainda hoje, temos dificuldades em encontrar seus escritos na internet. Para conhecer mais sobre sua história, você pode acessar o pdf gratuito do livro Eu sou atlântica, de Alex Ratts. Encontramos também um de seus poemasque foi publicado no livro Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz Nascimento.

Bianca Gonçalves

Bianca Gonçalves é graduanda em Letras na USP, professora e pesquisadora. Impulsionou o projeto Leia Mulheres Negras, que contribui na difusão de autoras negras brasileiras, através de palestras e minicursos. Mantém o blog Bianca não é branca, onde publica ensaios, críticas e crônicas. Tem um livro de poemas na gaveta que pretende publicar ano que vem e atualmente se divide escrevendo seu projeto de mestrado e um romance.

Cidinha da Silva

Cidinha da Silva é prosadora e dramaturga. Autora de 11 livros de literatura entre crônicas para adultos, conto e romance para crianças e adolescentes. Destaca-se no conjunto de escritoras e escritores negros de sua geração editorial, por dedicar-se à crônica, gênero amplo e diverso que traduz pela palavra o cotidiano vivido. Seus livros mais recentes são Canções de amor e dengo (poemas, Me Parió Revolução, 2016) e #Parem de nos matar! (crônicas, Ijumaa, 2016). Organizou duas obras fundamentais sobre as relações raciais contemporâneas no Brasil: Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras (Summus, 2003), um dos dez primeiros livros sobre as ações afirmativas como estratégia de superação das desigualdades raciais, publicados no país. O segundo, Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (FCP, 2014), obra de referência na temática. É doutoranda no Programa Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC) da Universidade Federal da Bahia. Você pode conferir os trabalhos da Cidinha e adquirir seus livros através de sua página no Facebook.

Carina Castro

Carina Castro (SP, 1988) é poeta, pesquisadora e ativista cultural. É autora do livro de poesia Caravana (Editora Patuá, 2013). Se dedica também aos textos para crianças e jovens, ganhou o Prémio Lusofonia de Portugal (2012) na categoria conto infantojuvenil, tem textos publicados em diversas revistas digitais e antologias, entre elas a mais recente É agora como nunca (Cia das Letras, 2017). Integra o dúo de publicações independentes e intervenções gráfico-poéticas Selenitas. É idealizadora e atuante no coletivo de feminismo e infância Espaço Marciana e ministra oficinas de criação literária para mulheres, crianças e jovens. Seus textos e trampos podem ser encontrados internet a fora, no blog Tudo é coisa, a nas páginas do Facebook Caravana e Selenitas.

Cristiane Sobral

Cristiane Sobral é carioca e mora em Brasília desde a década de 90. Escritora, poeta, atriz, diretora e professora de teatro. Ganhadora em 2017, do Prêmio FAC-Secult-DF de Culturas Afro-Brasileiras. Imortal cadeira 34 (Academia de Letras do Brasil). Mestre em Artes (UnB), Especialista em Docência Superior pela Universidade Gama Filho, RJ. Licenciada em Educação Artística; Bacharel em Interpretação Teatral (Universidade de Brasília). Professora da SEDF — Atuando como Coordenadora Intermediária na Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante — DF. Diretora de literatura afro-brasileira no Sindicato dos Escritores. Começou a publicar em prosa e poesia em 2000 na antologia Cadernos Negros (Ed. Quilombhoje Literatura). Suas obras poéticas e ficcionais são O tapete voador (2016), livro de contos da Editora Malê, Espelhos, Miradouros, Dialéticas da Percepção, livro de contos da Editora Dulcina, Não vou mais lavar os pratos, livro de poesia da Editora Garcia e Só por hoje vou deixar meu cabelo em paz, livro de poesia da Editora Teixeira. Você pode ver o trabalho de Cristiane em seu blog e na página do Facebook.

Elizandra Souza

Poeta, Jornalista, Editora da Agenda Cultural da Periferia na Ação Educativa, locutora da Rádio Comunitária Heliópolis FM, integrante do Sarau das Pretas — SP. Co-organizadora do livro de poesias Terra Fértil de Jenyffer Nascimento e da Antologia Pretextos de Mulheres Negras com Carmen Faustino. Autora do livro de poesias Águas da Cabaça, lançado em outubro de 2012. Co-autora do livro de poesias Punga com Akins Kintê (Edições Toró, 2007) e participação em antologias literárias como Cadernos Negros, Negrafias, entre outras. Idealizadora do evento Mjiba em Ação — Comemoração ao Dia da Mulher Negra (25 de julho). Editora do Fanzine Mjiba (2001–2005). Você pode conhecer o trabalho de Elizandra em sua página no Facebook.

Esmeralda Ribeiro

É escritora e jornalista, e há mais de 20 anos atua no coletivo Quilombhoje Literatura e na edição da tradicional obra Cadernos Negros. Nasceu em São Paulo/SP, em 1958, e atua no sentido de incentivar a participação da mulher negra na literatura. É autora do livro de contos Malungos e Milongas (Ed. da Autora, 1988) e participou das seguintes antologias: Cadernos Negros 5 e 7 a 18 (org. Quilombhoje); Reflexões sobre a literatura afrobrasileira (Quilomboje, 1985); Criação crioula, nu elefante branco (Secretaria de Estado da Cultura/SP, 1987); Pau de sebo — coletânea de poesia negra (org, Júlia Duboc). Você pode conferir alguns poemas de Esmeralda Ribeiro no site Negritude e Estudos Literários e Vinte Cultura e Sociedade.

Geni Guimarães

Nascida na área rural do município de São Manoel, São Paulo, em 08 de setembro de 1947. Professora, poeta e ficcionista, em 1979, ela lançou seu primeiro livro de poemas intitulado Terceiro Filho (1979). Em sua literatura, encontramos tons de protesto e afirmação identitária, voltados principalmente para questões de raça e de gênero. Você pode conhecer alguns poemas de Geni no site Latitudes Latinas e no blog Banho de Assento.

Gessica Borges

Gessica é publicitária, redatora, curiosa de berço e apaixonada por cultura em geral. Escreve desde criança, pesquisa desde antes do Google e tem como hobbie a troca de ideias e palavras sobre literatura, cultura pop, periferia e negritude. Tem dois minicontos publicados na edição de 2014 do Livro da Tribo e um poema publicado pela Editora Quelôniopara a antologia Eu Escritor(a). Você pode conferir os poemas da Gessica em seu site.

Jenyffer Nascimento

Jenyffer é uma mulher negra nordestina, mãe, trabalhadora, feminista, produtora e apreciadora de arte, além de frequentadora de saraus da periferia da zona sul de São Paulo. Participou da coletânea do Sarau do Binho e teve alguns de seus poemas publicados no livro Pretextos de mulheres negras, obra de poemas que contou com a participação de 22 mulheres negras. Seu primeiro trabalho autoral foi a obra poética Terra Fértil(Editora Mjiba, 2014). Você pode conferir alguns poemas de Jenyffer Nascimento no site Blogueiras Negras ou adquirir seu livro no site da Editora Mjiba.

Lubi Prates

Lubi Prates nasceu em 86, em São Paulo. Graduada em Psicologia e especializando-se em Psicoterapia Reichiana. Tem publicado o livro coração na boca (Editora Multifoco, 2012, republicado pela Patuá, 2016) e triz (Patuá, 2016) e algumas participações em revistas e antologias literárias nacionais e internacionais. Edita a revista literária Parênteses, é tradutora e dedica-se, principalmente, a ações que combatem a invisibilidade da mulher e da negritude no meio literário. Lubi já foi publicada na Mulheres que escrevem e você pode ler aqui.

Luz Ribeiro

Luz Ribeiro , 29 anos, nascida no verão de São Paulo é coletiva: Poetas Ambulante, Legítima Defesa e Slam das Minas-SP. Participante de slams e saraus da cidade de São Paulo, escreve desde que fora alfabetizada e ainda não se acha poeta, não quer nem ser poeta, sonha com o dia que será poesia. Autora do livro independente “eterno contínuo” (2013) , e gestando os próximos espanca (2017) e estanca (2017), possui textos autorais em diversas antologias. Luz gosta de escrever com letrinha minúscula, queria voar, mas é concreta demais pra planar e carrega ondas na caixa torácica, é a mar nas vielas, se vê poeta bruta, e pra não embrutecer, mais. Você pode conhecer o trabalho de Luz Ribeiro em sua página no Facebook.

Mel Duarte

Mel Duarte, 28 anos, poeta, slammer e produtora cultural, atua com literatura independente desde 2006. Faz parte do coletivo “Poetas Ambulantes” e é uma das organizadoras da batalha de poesias voltada para o gênero feminino “Slam das Minas- SP”. Em 2016 Mel foi destaque no sarau de abertura da FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty) e foi a primeira mulher a vencer o Rio Poetry Slam (campeonato internacional de poesia) que acontece dentro da FLUPP (Feira Literária das Periferias) no Rio de Janeiro. Em 2017, foi convidada a representar a literatura brasileira no Festilab Taag, em Luanda, Angola. Possui 2 livros publicados de forma independente Fragmentos Dispersos (2013) e Negra Nua Crua (2016) publicado pela editora Ijumaa e em seguida transformado em audiolivro pela Tocalivros. Está em processo de tradução do segundo livro também para o inglês e espanhol. O canal oficial da Mel Duarte é sua página no Facebook e você pode encontrar seus livros na página da Editora Ijuma, na Blooks Livraria ou na Tapera Taperá.

Mikaelly Andrade

Mikaelly Andrade nasceu em Quixeramobim, Ceará em 1990. Reside em Fortaleza desde os cinco anos. Publicou poemas em Descompasso, seu primeiro livro e na zine Alguns versos pervertidos e outros indecorosos. Participou da Antologia de Contos Literatura Br (Editora Moinhos, 2016). Você pode acompanhar o trabalho de Mikaelly no blog Mika escreve e através de seu Instagram @miklandrade.

Miriam Alves

Integrante do Quilombhoje Literatura, entre 1980 a 1989, publicou em Cadernos Negros, de 1982 a 2011, contos e poemas. Possui diversos trabalhos, (poemas, contos e ensaios), em antologias, teses e dissertações dentro e fora do Brasil. Ministrou curso de cultura e literatura negra na University of New Mexico, Albuquerque, USA, 2007, e como escritora visitante no Middlebury College, M.C., USA. Participa, frequentemente, de debates e palestras em universidades, escolas, saraus e feiras literárias. Publicou os livros Bará na trilha do vento (2015), Mulher Mat(r)iz (2011) e Brasilafro (2010). Participou da coletânea de escritoras negras Olhos de Azeviche, editada pela Editora Malê e da coletânea A Escritora Afro-Brasileira, ativismo e arte literária, da Editora Nanyala. Você pode conferir alguns poemas de Miriam Alves na Revista Modo de Usar & Co.

Nina Rizzi

Nina Rizzi (SP, 1983) é historiadora, tradutora e poeta, vive em Fortaleza/CE (Brasil), onde é uma das articuladoras do Sarau da B1/Periferia de Fortaleza. Tem poemas traduzidos para o espanhol, esloveno e inglês e participa em diversas antologias no Brasil, Moçambique, Angola, EUA, Suécia, Portugal e Espanha. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014), Romério Rômulo: ¡Ah, si yo fuera Maradona! (versão em espanhol), geografia dos ossos (poesia, Douda Correria, Portugal, 2016), Oscar Hahn: Tratado de Sortilégios (tradução, Lumme Editor, 2016); quando vieres ver um banzo cor de fogo (poesia, Editora Patuá, 2017). Coedita a revista escamandro poesia tradução crítica e escreve regularmente no quandos.

Roberta Estrela D’Alva

Atriz-MC, diretora, diretora musical, pesquisadora, poeta e slammer, membro fundadora do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (primeira companhia de Teatro Hip Hop do Brasil ) e do coletivo Frente 3 de Fevereiro desenvolvendo ações simbólicas, produção de livros, documentários e investigações colaborativas acerca do racismo na sociedade brasileira. Nesses dois núcleos de pesquisa, além de trabalhos como atriz, diretora e MC, desenvolve trabalhos como roteirista e dramaturga. É idealizadora do ZAP! Zona autônoma da Palavra, primeiro “poetry slam” (campeonato de poesia) brasileiro e foi finalista da Copa do Mundo de Poesia Slam 2011 em Paris conquistando o terceiro lugar. Diretora de Cindi Hip Hop — pequena ópera rapvencedor do prêmio FEMSA/Coca de melhor espetáculo jovem e do prêmio Cooperativa de Teatro — melhor dramaturgia. Foi contemplada com o prêmio Cooperativa Paulista de Teatro 2011 de Melhor Projeto Sonoro, indicada ao Prêmio Shell de Melhor Música e vencedora do Prêmio Shell 2011 na categoria melhor atriz. Em novembro de 2014, foi publicado o seu primeiro livro Teatro Hip-Hop, a performance poética do ator-MC pela editora Perspectiva. É curadora e apresentadora do Rio Poetry Slam, primeiro slam internacional da América Latina que acontece dentro da programação da Festa Literária das Periferias (FLUPP). Em 2016, foi dirigida pelo diretor americano Robert Wilson no espetáculo Garrincha , a street ópera. É apresentadora do Manos e Minas, programa semanal sobre cultura jovem , urbana e hip-hop, exibido semanalmente na TV Cultura. Você pode ver algumas das leituras de Roberta Estrela D’Alva nos links a seguir: Herói Tombado, Slam Blues Take I (video de spoken word+blues), Entrementes, Solo de poesia falada Vai te Catar!, Perfil da TRIP.

Ryane Leão

Ryane Leão é estudante de Letras na Unifesp, poeta, professora e artista de rua. Publica seu trabalho através de lambe-lambe e na internet com o projeto Onde jazz meu coração. Tem seu trabalho pautado no fortalecimento de mulheres negras e focado na voz, luta e resistência através da arte e da educação. Financiou seu primeiro livro pelo Catarse, com prévia de lançamento para novembro de 2017. Você pode conferir seu projeto no Instagram @ondejazzmeucoracao e no Facebook.
Vanessa Rodrigues

Vanessa Rodrigues é jornalista, escritora, conta as histórias que trazem um nózinho na garganta ou um calorzinho nas partes. Criou o projeto Não foi ciúme, escreve para o Blogueiras Feministas e o Biscate Social Club. Aquariana, da vida, mineira cabreira e rainha do batom vermelho. Você pode conferir o trabalho da Vanessa no seu Medium (de nome genial) o Cu com classe, no Twitter @vanerodrigues, Facebook e no Instagram @vanerodrigues.

Julho é o mês da mulher negra. Dia 25 celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Nas pesquisas realizadas pela especialista em literatura Regina Dalcastagnè vemos que, nos lançamentos publicados entre os anos de 1990 a 2004, 93,9% dos autores são brancos e apenas 7,9% dos personagens são negros. É preciso abrir espaços na Literatura, é preciso ler mais mulheres e, principalmente, mais mulheres negras.

Fonte: Medium

Nenhum comentário:

Postar um comentário