O blog AquilombandoDFE é um espaço destinado a construção de uma ponte que estabeleça um contato direto com seus expectadores, curiosos e afins, aonde vamos literalmente "aquimlombar", trocar informações, expor trabalhos artísticos e culturais e entre outros. Trata-se de um convite a socialização de Negros e Negra do DF e Entorno, e tem como propósito de proporcionar e promover à tod@s um Ponto de Encontro Central de Negros e Negras do DF e Entorno. Sejam Tod@s Bem Vind@s!
Os interessados têm até 31 de julho para apresentar os documentos exigidos
Do Correio Braziliense, Estão abertas as inscrições para o processo seletivo de seis organizações da sociedade civil que integrarão o Conselho de Defesa dos Direitos do Negro do Distrito Federal. Os interessados têm até 31 de julho para apresentar os documentos exigidos, na sede do colegiado, no 8º andar do Palácio do Buriti, Ala Leste.
Para se candidatar, é preciso ter pelo menos três anos de atuação comprovada no enfrentamento ao racismo e na promoção da igualdade racial. Instituições filiadas não podem participar simultaneamente do edital. Os documentos necessários são:
Ofício dirigido ao secretário do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, assinado pelo representante legal, solicitando a habilitação da entidade para participar do processo seletivoCópia de carta de princípios ou estatuto, na qual constem a missão e as ações de defesa dos direitos da população negra
CNPJ ou, na inexistência deste, carta de apresentação assinada pelos titulares de três entidades públicas — ou por autoridades públicas —, atestando o funcionamento da organização há pelo menos três anos e sua atuação em âmbito distrital
Relatório de atividades da organização nos últimos três anos, acompanhado de documentos comprobatórios, como registros em mídia nacional ou local, folhetos de eventos, cartazes, cartilhas, fotos e outros
Por meio da análise da documentação, a assessoria do conselho avaliará quais instituições cumprem os requisitos para concorrer. A população poderá escolher entre as entidades habilitadas por meio de votação, em 21 de agosto.
Igualdade Racial no DF
Criado em 1997, o Conselho de Defesa dos Direitos do Negro do DF é um órgão construtivo e deliberativo, encarregado, entre outras funções, de definir políticas, programas e ações voltados ao fim da discriminação racial, além de assessorar o governo de Brasília sobre assuntos relativos ao tema.
Ele é vinculado à Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Além dos seis representantes de organizações sociais, compõem o colegiado:
dois servidores do governo de Brasília
um da Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura
um integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Distrito Federal
um da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa do Distrito Federal
um da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça
Até sexta-feira, diversidade da Flip era algo mais aferível por números, até que a professora falou
Por André de Oliveira,
Ao levantar ofegante, já emocionada, tremendo pela coragem repentina que lhe fez erguer o dedo e pedir a fala na manhã desta sexta-feira durante uma mesa na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Diva Guimarães, 77, estava – como ela própria diz durante um almoço neste sábado – esconjurando, compartilhando e vingando-se de uma história que lhe perseguia há 72 anos. Em sua intervenção, acompanhada de aplausos e choro dos palestrantes Lázaro Ramos e Joana Gorjão Henriques, falou sobre o dia em que, aos seis anos, deixou de ser criança depois do sermão de uma freira do colégio interno em que estudava no interior do Paraná.
Deus, na fantasia da religiosa, havia criado um rio para que todos se abençoassem. Uns, laboriosos, teriam chegado primeiro e, ao se banharem, ficaram brancos. Outros, preguiçosos, demoraram-se e encontraram um rio já atolado em lama escura. Estes, puderam apenas lavar as palmas das mãos e as plantas dos pés, ficando com todo o resto do corpo preto. O que a freira dizia é que a cor da pele de Diva era um verdadeiro estigma, a denunciar lassidão, moleza, falta de moral. Tudo poderia ser resumido em uma palavra: racismo. Mas uma palavra não basta.
“O racismo é para além da pele. O racismo nos adoece, porque é muito difícil a gente se manter emocionalmente. Você ter chorado naquela hora [em que fazia a intervenção] é porque nossas vozes estão engasgadas desde sempre”, disse a escritora Conceição Evaristo em um encontro com Diva pouco antes da hora do almoço deste sábado. Lembrando da conversa com a autora e de tudo que está acontecendo na Flip, Diva ressalta que não havia se preparado para falar coisa alguma na sexta-feira. “Mas ao ver Lima Barreto homenageado, ao ouvir a fala do Edmilson Pereira [autor que abordou a questão racial no evento], ao conhecer a história da moça de Ruanda [a autora Scholastique Mukasonga] que perdeu toda sua família no genocídio, eu senti que precisava dizer algo também”.
A ideia inicial, diz enquanto espera seu spaghetti bolonhesa, era conseguir falar apenas com Lázaro Ramos, mas, ao ter a oportunidade de fazer uma pergunta durante a mesa do ator, acabou usando o espaço para dizer tudo que precisava. “Foi minha oportunidade, meu momento”. Menos de 24 horas depois, a filmagem de sua intervenção já tinha sido assistida mais de 5 milhões de vezes. Na rua, ela tem sido reconhecida por todos. Diva é paciente. Está feliz. Para, conversa, abraça, tira sefiles. As pessoas querem dizer que o que ela fez foi fundamental, que ela é, de fato, uma diva. E, desde sexta-feira, ela tem uma palavra para todos. Mas quer deixar bem claro: “Não sou boazinha assim, eu tenho raiva, ódio mesmo, e falei o que falei também por causa disso”, diz ao explicar que detesta ser vista com comiseração.
Até a manhã desta sexta-feira, a diversidade da 15ª Flip ainda era algo mais aferível por números do que concretamente. Sabia-se, por exemplo, que pela primeira vez havia mais autoras convidadas do que autores. Sabia-se também que 30% dos escritores da programação oficial eram negros e negras. Ao falar, Diva Guimarães fez de tudo isso algo palpável. O resultado é que deixou uma cidade emocionada, mas, mais do que isso, desorientada. Foi como se tivesse oferecido um espelho para uma pessoa que nunca vira seu reflexo. “Parece que deu um erro, uma tela azul do Windows na cara das pessoas. A Diva contou a nossa história, a história de todos os negros, e deixou claro como os brancos não sabem lidar com isso”, disse uma ativista do movimento negro em uma conversa informal com a reportagem do EL PAÍS.
“O escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana tem um conto chamado ‘As Mãos dos Pretos’ em que narra a história de uma criança que quer saber porque as palmas das mãos dos negros são brancas e recebe como resposta diferentes variações da história que Diva ouviu da freira”, diz Claudia Fabiana, professora e pesquisadora de literaturas de língua portuguesa, que está na Flip. Em uma delas, relembra, um professor da personagem explica que é porque os negros, até pouco, andavam de quatro, como os bichos. “O que a Diva fez foi contar uma história comum a todos. Quando você dá o microfone para a Diva, dá o lugar de fala para ela. Se só tiverem autores brancos, só vai ter uma história e, por isso mesmo, só uma literatura, um conhecimento”, argumenta Claudia.
Em um ambiente quente e polarizado no país, há uma crítica que reverberou na internet nos últimos dias que diz que essa edição da Flip teria se esquecido da literatura para se tornar só política. Claudia rejeita a ideia. Para ela, a literatura está no centro de todo o debate da Festa e o argumento contrário ao evento parte do princípio de que a experiência compartilhada do negro, que está presente muito mais na oralidade, é menor ou pior. “O que a Diva fez foi contar uma história que poderia ou não estar em um livro, mas que é um conhecimento oral e não é por ser oral que é menor”, diz. Em entrevista ao EL PAÍS nesta sexta-feira, Conceição Evaristo disse algo semelhante: “Não nasci rodeada de livros, mas de palavras”. Tudo pode dar em literatura ou ser literatura.
No almoço, Diva conta que ainda criança chegou à cidade de Cornélio Procópio, no interior do Paraná, com a mãe, que era lavadeira em diferentes casas do município. Pouco depois, aos cinco anos, foi recolhida por uma missão católica para estudar em colégio interno. A coisa, diz, funcionava assim: a Igreja dava educação, as crianças, em paga, trabalhavam para a instituição. Tudo muito mascarado de boas intenções. Aos 21 anos, pegou um trem que demorou 24 horas para chegar a Curitiba. Lá, passou frio com uma manta “corta febre” – “dessas que o prefeito de São Paulo anda distribuindo para os mendigos da cidade” – arranjou trabalho, estudou, entrou no curso de educação física na Universidade Federal do Paraná. Foi a única negra da instituição. Virou “cobra” no atletismo, jogou basquete, arremessou peso, nadou, formou-se. Tornou-se professora. Nunca esqueceu a freira.
E a freira, explica, não está apenas na história de sua infância, mas na diretora da escola que um dia lhe disse que “se negro não faz sujeira na entrada, faz na saída”. Está no fato de que no Sul do país muitos negros aprenderam alemão em suas escolas por causa dos imigrantes europeus, mas que os brasileiros não aprenderam sequer uma vírgula sobre a África. Está também em todos os olhares de desconfiança que já recebeu. Está até mesmo nestes dias em Paraty, quando uma mulher lhe disse “talvez achando que me elogiava, que meu coração é branco”. Ou ainda na pergunta de um repórter que queria saber quanto Diva ganhava. “Eu não sou vítima! Porque estão me perguntando do meu salário? O que isso tem a ver?”.
Na rua do Fogo, distante algumas quadras do restaurante, onde está a casa da editora Malê – termo usado no Brasil no século XIX para designar a população negra de origem mulçumana que sabia ler e escrever em árabe –, Vagner Amaro, seu fundador, também comenta a intervenção de Diva. “Eu venho à Flip desde o começo e não via meus pares. Vivi essa situação inúmeras vezes. Por que essa edição tem muito mais presença de negros no público? Porque nós nos reconhecemos nessa programação. Ela chamou as pessoas”, comenta. A Malê, fundada em 2015, é dedicada à literatura afro-brasileira e é o selo de autores como a própria Conceição Evaristo. “Acho que a Diva falou porque se sentiu empoderada pelas palestras e pela presença de seus pares”, reflete Amaro.
Formada em educação física, Diva, contudo, sempre foi uma apaixonada por literatura e Conceição é uma de suas preferidas. Não à toa, ficou tão emocionada quando recebeu a visita da escritora neste sábado. “Sempre procurei ler literatura de autores negros, mas também ouvir suas histórias”, conta. O que faz lembrar que desde que a programação da Flip foi anunciada, há um comentário recorrente que diz que mais importante do que “trazer autores negros é formar leitores negros”. Uma variante da mesma ideia diz que “não faltam só autores negros em Paraty, mas também público negro”. Para Amaro, Diva é a prova viva da mentira dos argumentos. “O leitor negro no Brasil, a literatura negra no Brasil, não nasceu agora”, argumenta.
Segundo o editor, as pessoas se sentem livres para falar sem conhecimento, como se o mundo em que elas vivem, fosse todo o mundo. “A Malê, por exemplo, tem livros em terceira, quarta edição, outros esgotados, e temos pouco tempo de vida. Não há leitores negros ou os eventos, como a própria Flip fazia, não dão espaço para que esses leitores possam se reconhecer?”, diz Amaro. Para ele, há gerações anteriores de leitores e escritores, como a da própria Conceição, além de uma juventude nova que teve mais acesso à formação, e que está tão bem representada em mobilizações na internet e projetos que não param de surgir – como sua própria editora.
Cabelos curtos presos em tranças, Diva contou, enquanto se equilibrava com sua bengala nas pedras das ruas históricas da cidade fluminense – “toda construída por meus antepassados escravos” –, que só perdeu a raiva de Deus quando compreendeu que Jesus não era o da freira de sua infância. “Ele não tinha olhos azuis e nem cabelo loiro, seria impossível”. No espaço de um quarteirão entre o restaurante e a casa para onde foi à tarde para participar do lançamento de um catálogo de intelectuais negras, organizado por pesquisadoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Diva foi parada mais umas tantas vezes para tirar fotos e conversar. Chegando ao evento, encontrou um espaço completamente lotado, com mais de 300 pessoas se espremendo. Ao passar a soleira da porta, foi ovacionada e, mais uma vez, se emocionou.
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Diva Guimarães e Conceição Evaristo. Foto: Walter Craveiro
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra o Decreto de Titulação Quilombola será analisada pelo STF no próximo dia 16 de agosto. A ação coloca em xeque direitos das comunidades quilombolas
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), entidade que representa mais de 6 mil quilombos em todas as regiões do país, lançou nesta sexta-feira (28), ao lado de outras organizações da sociedade civil, uma campanha para pedir que o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a titulação de territórios quilombolas no Brasil. Conheça a campanha.
A campanha “O Brasil é Quilombola, Nenhum quilombo a menos!”, é estrelada pelos atores Ícaro Silva e Leticia Colin. As hashtags #somostodosquilombolas e #nenhumquilomboamenos já têm sido usadas amplamente nas redes sociais.
O vídeo de lançamento da campanha é um convite dos artistas para que as pessoas assinem uma petição online, que será enviada aos ministros do STF, demonstrando apoio ao decreto dos quilombos e à causa quilombola. Assista!
“Todos os títulos de quilombos no país podem ser anulados. O futuro das comunidades está em perigo. Novas titulações não serão possíveis sem o decreto. Mais de 6 mil comunidades ainda aguardam o reconhecimento de seu direito”, diz um trecho da petição. A lacuna de titulação é grande: apenas 168 territórios quilombolas no Brasil foram titulados até hoje.
Entenda o caso
A ADI 3.239 foi entregue ao Supremo Tribunal Federal em 25 de junho de 2004, pelo antigo Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM). Uma decisão do STF pela inconstitucionalidade do Decreto 4.887 pode paralisar o andamento dos processos para titulação de terras quilombolas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de ameaçar os já titulados.
O julgamento se estende desde 2012 e será retomado no dia 16 de agosto. A matéria já esteve em pauta no Tribunal em ocasiões anteriores e o placar do julgamento está empatado em 1×1. O relator, César Peluso, que já saiu do Tribunal, foi favorável à ação em 2012, enquanto a ministra Rosa Weber apresentou voto contrário, em 2015.
O voto de Weber, apesar de rechaçar categoricamente a inconstitucionalidade do decreto, defende o estabelecimento de um “marco temporal” para o reconhecimento da titulação: apenas comunidades na posse de seus territórios em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, teriam direito à titulação. Este ponto pode prejudicar várias comunidades quilombolas existentes no país. Muitas foram expulsas de suas terras, muitas vezes com uso de violência, inclusive com uso de violência.
A ADI coloca em xeque os direitos garantidos aos quilombolas nos artigos 215 e 216 Constituição Federal; no Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais; na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT); no Decreto Legislativo nº 143/2002; no Decreto 5.051/2004; no Decreto 6.040/2007; na Instrução Normativa nº 49 do Incra; e na Portaria nº 98 da Fundação Cultural Palmares.
Publicamos abaixo uma transcrição da conferência magna de Angela Davis realizada na Reitoria da Universidade Federal da Bahia no dia 25.7.2017, Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, e intitulada “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”. A transcrição é de Naruna Costa, a partir da tradução consecutiva da professora Raquel de Souza, e as notas são de Juliana Borges. Confira a gravação integral do evento ao final deste post!
Por Angela Davis,
Eu não tenho nem condições de expressar a vocês o quanto estou emocionada por estar aqui nesta noite. Para mim, é assim que deveria ser a aparência da universidade. Quero agradecer à Ângela Figueiredo, ao Odara. Quero agradecer também ao NEIM pelo convite para homenagear o dia 25 de julho. Essa é minha quarta visita a Bahia e sexta ao Brasil.
Neste momento, me sinto extremamente envergonhada por ainda não ter aprendido português. Esse é o meu próximo projeto. Estou muito feliz por estar aqui celebrando com vocês o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha. Na Bahia, o Julho das Pretas. Estou muito entusiasmada por estar aqui no Brasil, especialmente porque tenho acompanhado os acontecimentos que vêm se desenvolvendo dentro do movimento das mulheres negras.
Me parece que, neste momento, o movimento das mulheres negras brasileiras representa o futuro do planeta. As mulheres negras brasileiras têm uma história extensa de envolvimento em lutas pela liberdade. Como tem sido simbolizado, por exemplo, pela Irmandade da Boa Morte. O conceito de Boa Morte nos convida a imaginar a imagem de um futuro melhor. Isso me leva a reconhecer as amplas contribuições das mulheres negras no Brasil e na Bahia no contexto da cultura religiosa.
Durante a minha visita, fui honrada com a possibilidade de atender uma oficina oferecida na Irmandade e também de passar um tempo na Roda de Samba da Dona Dalva. Tive a oportunidade de aprender sobre o trabalho de Dona Dalva na preservação do samba de roda. Recentemente ela recebeu um título de doutora honoris causa pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano.
Também tive a oportunidade de me encontrar e conhecer a Ebomi Nice. Quero também ressaltar que há alguns anos fui honrada com um convite para conhecer o terreiro de Mãe Stella de Oxóssi e me encontrar com ela, que me disse sobre seus esforços a fim de preservar a cultura e a religiosidade dentro das tradições baianas e que as mulheres negras estão no centro dessas tradições.
Como foi dito por Dulce Pereira, já venho ao Brasil desde 1997. Nunca vou me esquecer do encontro que ocorreu em outubro daquele ano, em São Luís do Maranhão. Tive a oportunidade de encontrar Luiza Bairros pela primeira vez. O espírito de Luiza Bairros continua presente. Também encontrei pela primeira vez Vilma Reis e tantas outras mulheres negras maravilhosas, as quais continuo a me encontrar todas as vezes que venho ao Brasil.
A atual visita, organizada pela professora doutora Ângela Figueiredo, foi um encontro organizado em um contexto mais amplo, um curso em Cachoeira sobre o feminismo negro decolonial. Quero agradecer a Ângela — toda vez que alguém chama por ela, eu também olho — por me convidar para voltar a Bahia várias vezes. As pessoas me perguntam se eu já fui ao Rio de Janeiro, a São Paulo. Não, mas eu venho a Bahia de novo, de novo e de novo.
Menciono essa escola porque ela reuniu estudantes negras do Brasil, América do Sul, África do Sul, Canadá, Estados Unidos e Porto Rico. Ao fazê-lo, produziu concepções importantes que poderiam não ter sido disponibilizadas se esse encontro não tivesse ocorrido. Todas nós, que tivemos a oportunidade de estar aqui, vindouras de outras partes do mundo, temos muita sorte de estar aqui neste momento, onde o ativismo de mulheres negras está em um nível elevado e pungente.
Como já foi dito e reiterado várias vezes, o movimento social liderado por mulheres negras é o movimento social mais importante do Brasil. Após o golpe antidemocrático que resultou na deposição de Dilma Rousseff, as mulheres negras criaram a melhor esperança para este país. Muitas de nós, nos Estados Unidos, estamos entusiasmadas acompanhando a Marcha das Mulheres Negras no Brasil desde novembro de 2015. Nós continuamos a sentir as reverberações dessa Marcha. Agora estamos no Julho das Pretas.
Este é um momento difícil para o nosso planeta por vários motivos, mas, sobretudo, por termos uma guinada à direita na Europa, nos Estados Unidos, na América dos Sul e especialmente no Brasil. Não tenho nem como começar a explicar para vocês qual é o sentimento de morar nos Estados Unidos onde Donald Trump é presidente. Mas não devemos nos esquecer que, um dia após a posse de Trump, o movimento de mulheres levou para Washington três vezes mais pessoas que o número que participou da cerimônia de posse. Estima-se que mais de cinco milhões de pessoas participaram da Marcha das Mulheres contra Trump no mundo, inclusive na Antártida.
A Marcha das Mulheres em Washington foi liderada por mulheres negras, latinas, asiáticas, indígenas, muçulmanas, e também mulheres brancas. Nos encontramos em Washington, por todo o mundo e todos os países, para dizer que nós resistiremos. Todos os dias da presidência de Trump, nós resistiremos. Nós resistiremos ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero patriarcado. Nós resistiremos ao preconceito contra o Islã, ao preconceito contra as pessoas com deficiência. Nós defenderemos o meio ambiente contra os insistentes ataques predatórios do capital. Aqui em Salvador, no dia 25 de julho, dedicado às mulheres negras na América Latina e no Caribe, afirmamos ainda de forma mais forte: com a força e o poder das mulheres negras dessa região, nós resistiremos.
Sabemos que as transformações históricas sempre começam com as pessoas. Essa é a mensagem do movimento Black Lives Matter [Vidas Negras Importam]. Quando as vidas negras realmente começarem a ter importância, isso significará que todas as vidas têm importância. E podemos também dizer especificamente que, quando as vidas das mulheres negras importam, então o mundo será transformado e teremos a certeza de que todas as vidas importam.
As lutas das mulheres negras estão conectadas com as lutas de pessoas oprimidas em todas as partes. Com aquees que dizem “não” às políticas anti-imigratórias de Trump e à construção de seu muro. Com aqueles que dizem “não” ao apartheid e ao muro que separa Israel da ocupação Palestina. Com aqueles que dizem “não” ao racismo e à misoginia na Colômbia. Com aqueles que dizem não ao sistema de castas na Índia. Estamos em solidariedade com as mulheres Dalits em suas comunidades. Com aquelas que dizem “não” à violência cotidiana, doméstica e íntima, que incide sobre as mulheres negras e que, geralmente, são impostas a elas por homens negros.
Finalmente as mulheres negras têm sido reconhecidas pelo trabalho em manter as chamas da liberdade acesas. Não é o tipo de liderança que visa dar visibilidade ou poder a indivíduos, baseada em carisma, o individualismo masculino carismático. Mas é o tipo de liderança que enfatiza as intervenções coletivas e apoia as comunidades que estão em luta. A liderança feminista negra é fundamentalmente coletiva.
Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, reconhecemos a importância de confrontar a violência de estado. Enquanto o racismo está saturando todas as instituições — nas questões da moradia, do emprego, da saúde e da educação — e pode ser mais dramaticamente reconhecido nos sistemas policiais e punitivos. As mulheres negras têm liderado ações contra a violência do estado, a violência policial e o racismo dentro do sistema carcerário, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Tenho falado sobre a liderança das mulheres negras, mas eu deveria estar me referindo, na verdade, à liderança feminista negra. É necessário enfatizar a condição da mulher negra na perspectiva de gênero e de raça, reconhecendo que também está implicado nisso classe, sexualidade e gênero, para além da convenção binária. Nosso foco está nas mulheres negras empobrecidas, inclusive as que estão encarceradas, as queer, as trans, as com deficiência. Mas também estamos conscientes que não focamos na mulher negra a partir de um arcabouço separatista, porque as mulheres negras também estão se engajando nas lutas de outros grupos. Às vezes ao ponto de elas serem excluídas desses movimentos.
As mulheres negras estão entre os grupos mais ignorados, mais subjugados e também os mais atacados deste planeta. As mulheres negras estão entre os grupos mais sem liberdade do mundo. Mas, ao mesmo tempo, as mulheres negras têm um trajetória histórica que atravessa fronteiras geográficas e nacionais de sempre manter a esperança da liberdade viva. As mulheres negras representam o que é não ter liberdade sendo, ao mesmo tempo, as mais consistentes na tradição, que não foi rompida, da luta pela liberdade, desde os tempos da colonização e escravidão até o presente.
Lembremo-nos de Rosa Parks, que sempre enfatizou que queria ser lembrada como uma mulher poderia ser livre, de tal forma que todas as pessoas pudessem ser livres. Lembremo-nos de Lilian Ngoyi, líder do movimento anti-apartheid na África do Sul, que disse, em 1956, entre as suas irmãs: “Agora que atingiram as mulheres, vocês acionaram um trator e serão esmagados”.
Carolina Maria de Jesus nos lembrou que a fome deveria nos levar a refletir sobre as crianças e sobre o futuro muito antes de o conceito de interseccionalidade ser utilizado. Lélia Gonzales insistiu que não só deveríamos compreender a complexa inter-relação de raça, classe e gênero, mas que deveríamos ter em mente as conexões entre os povos indígenas e os povos negros. Essa são as lições que nós dos Estados Unidos precisamos aprender com a história do feminismo negro no Brasil.
O que me leva a levantar o próximo ponto. Existe, geralmente, a pressuposição de que a forma mais avançada de feminismo negro é encontrada nos Estados Unidos. É verdade que há muitas figuras norte-americanas reconhecidas pelo desenvolvimento do feminismo negro. Isso não deveria se dar pelo entendimento de que nos Estados Unidos estamos mais avançados. Essa é uma visão colonialista e imperialista. Na verdade, isso ocorre porque as ideias, sejam elas conservadoras ou radicais, circulam com mais facilidade a partir dos Estados Unidos do que as ideias que emanam do Brasil. Não posso me levar tão a sério assim. A meu respeito, gosto sempre de ressaltar que ninguém jamais conheceria meu nome se pessoas de todo o mundo, inclusive do Brasil, não tivessem se organizado para exigir minha liberdade, no princípio dos anos 70.
É verdade que cada uma dessas viagens que fiz ao Brasil têm me trazido novas perspectivas. Desde a primeira conferência de Lélia Gonzales, em 1997, no Maranhão, até a escola do feminismo negro decolonial da qual participei agora. A partir disso, passo a questionar o meu papel em trazer o conhecimento feminista negro para o Brasil. Passei a perceber que nós, nos Estados Unidos, somos aquelas que precisamos aprender com os conhecimentos e as perspectivas que são produzidas pela longa história de luta feminista negra brasileira.
Precisamos aprender sobre o poder feminista negro preservado dentro da tradição do Candomblé. Precisamos aprender sobre os movimentos organizados por mulheres negras trabalhadoras domésticas na Bahia e no Brasil. Tive o privilégio de conhecer Marinalva Barbosa, que é a presidente do sindicato de trabalhadoras domésticas da Bahia. Temos muito a aprender com a atividade dessas mulheres.
Nós ainda não conseguimos nos organizar de uma maneira bem sucedida através de sindicatos dessa categoria nos Estados Unidos, apesar do fato de que mulheres negras, trabalhadoras da limpeza, terem organizado uma greve em 1881, em Atlanta, na Geórgia. Mesmo apesar do fato de que nos anos 20 e 50 tenham havido esforços, que não tiveram sucesso, de organizar sindicatos dessa categoria. Não é uma coincidência que Alicia Garza seja uma das mulheres co-fundadoras do movimento Vidas Negras Importam. Mesmo assim, ainda não temos um sindicato de trabalhadoras domésticas.
Deixem-me compartilhar com vocês algumas palavras sobre o complexo industrial carcerário. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, estou correta? Sendo a primeira nos Estados Unidos e depois vêm Rússia e China. Os Estados Unidos está aprisionando um quarto da população carcerária de todo o mundo. Se olharmos para a população carcerária feminina, um terço está encarcerada nos Estados Unidos.
Se tivéssemos tempo esta noite, poderíamos falar mais aprofundadamente sobre como essa população carcerária reflete o capitalismo global e como esse sistema negligencia as necessidades humanas. Essas pessoas não tem acesso a moradia, educação, saúde ou qualquer outro serviço que seja necessário para a sobrevivência. A rede carcerária mundial constitui um vasto depósito onde pessoas consideradas desimportantes são descartadas como lixo. Aquelas tidas como as menos importantes são as pessoas negras, do sul global, muçulmanos e muçulmanas, indígenas.
Quando nós trabalhamos e lutamos contra a violência do estado manifestada através de práticas policiais e de encarceramento, afirmamos que as vidas negras importam, que as vidas indígenas importam. A professora Denise Carrascosa, aqui da UFBA, tem liderado um projeto de mulheres dentro do sistema carcerário chamado “Corpos indóceis e mentes livres”, um projeto entusiasmante que reune mulheres encarceradas de tal forma que elas possam dramatizar as suas realidades, as suas vidas.
Esses são os tipos de projeto inovadores que produzem conhecimentos feministas sobre a relação entre a liberdade e a falta de liberdade. Acabei de ser informada que a professora Carrascosa tem sido impedida de entrar no complexo penintenciário feminino porque ela se juntou a outras encarceradas para protestar contra o tratamento punitivo aplicado a uma mulher que foi trancafiada, sendo-lhe negado o uso de medicamentos pós-operatórios.
Em função da professora Carrascosa ter levantado a sua voz, seu projeto, que já dura sete anos, foi barrado. O que vocês farão em relação a essa situação? Quero sugerir que vocês peçam a cada uma das pessoas aqui presentes para assinar uma petição exigindo que esse projeto seja reincorporado. Sabemos que nos últimos dez anos houve um aumento de 500% na taxa de encarceramento de mulheres e que dois terços de todas as mulheres que estão encarceradas no Brasil são negras.
Isso me leva aos meus últimos dois pontos. Um deles é a questão da reprodução da violência. Nós não podemos excluir a violência doméstica e íntima das nossas teorias sobre a violência do estado e institucional. Frequentemente, agimos como se uma não tivesse relação com a outra e que, se as mulheres negras são vítimas dessa violência cotidiana praticada por seus maridos e namorados, isso significa que os homens e garotos negros são violentos. Como podemos refletir sobre isso?
Nós precisamos nos perguntar qual é a fonte dessa violência que prejudica e fere tantas mulheres negras. Qual é a relação dessa violência com a violência policial e do sistema carcerário? Se essa violência do indivíduo está conectada com a violência institucional e do estado, isso significa que não conseguiremos erradicar a violência doméstica enviando aqueles que a praticam ao sistema carcerário. Se desejamos erradicar as formas mais endêmicas de violência do indivíduo da face da Terra, então devemos eliminar também as fontes institucionais de violência. Este é o chamado para a abolição do encarceramento como a forma dominante de punição para pensarmos novas formas de abordagem para aqueles que são violentados. Este é o chamado do feminismo negro para formas de justiça decoloniais.
Meu último ponto diz respeito aos contantes esforços para conter nossa resistência. Quando nós resistimos, as instituições dominantes e, sobretudo, o estado, tentam conter a nossa resistência. Querem transformar as nossas lutas, em estratégias de consolidação do estado. O movimento pelos direitos civis é agora é reivindicado pelo estado como central em suas narrativas sobre a democracia. Mas o movimento Vidas Negras Importam, principalmente na era Trump, é considerado um insulto.
No Brasil, agora que o mito da democracia racial foi totalmente exposto, a pergunta que se apresenta é se o movimento de resistência das mulheres negras pode ser apropriado. Afirmamos que, na medida em que nos levantamos contra o racismo, nós não reivindicamos ser inclusas numa sociedade racista. Se dizemos não ao hetero-patriarcado, nós não desejamos ser incluídas em uma sociedade que é profundamente misógina e hetero-patriarcal. Se dizemos não à pobreza, nós não queremos ser inseridas dentro de uma estrutura capitalista que valoriza mais o lucro que seres humanos.
Se reconhecermos que aqueles que queriam resolver a questão da escravidão buscavam formas mais humanas de escravização, nós estaremos utilizando a lógica do racismo. Reconhecemos que a reivindicação da reforma do sistema policial e da reforma do sistema carcerário apenas mantêm as estruturas racistas ao mesmo tempo em que finge se importar com as questões raciais.
É por isso que dizemos não ao feminismo carcerário e sim ao feminismo abolicionista1. É por isso que nós convocamos essa solidariedade para além das fronteiras nacionais e ressaltamos que o feminismo radical2 negro decolonial reconhece as nossas profundas conexões, mesmo a medida em que reconhecemos também nossas contradições.
A luta pelo acesso à agua no Quilombo Rio dos Macacos vem sendo rotulada como “terrorista”. Tenho aqui em minhas mãos um apelo que vêm do Quilombo Rio dos Macacos relacionada aos seus direitos humanos de acesso à terra e à água que lerei após o evento. Mas o que eu quero dizer é que as lutas que acontecem dentro dessa comunidade estão conectadas às reivindicações para a proteção da água por populações indígenas contra o veneno trazido pelos dutos de petróleo.
Essas lutas estão conectadas também aos esforços que ocorrem em Flynn, Michigan, em expor o envenenamento das águas nas comunidades negras. Essas lutas também estão conectadas com as das comunidades palestinas, engajadas em defender as suas reservas de água, alvo constante das forças militares de Israel. Somente através da solidariedade e da luta, nós poderemos preservar o nosso acesso a água.
Quilombolas, presente!
Finalmente, quero salientar a minha alegria em estar aqui com vocês no Brasil, Bahia, Salvador, celebrando o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha. Mulheres negras representam o futuro. Porque mulheres negras representam uma possibilidade real de esperança na liberdade.
1 Davis está aludindo ao abolicionismo penal e a formas anti-punitivistas de resolução de conflitos. Davis, por exemplo, se posiciona abertamente sobre a legalização da prostituição, mas sob uma perspectiva classista e antirracista.
2 O uso de “radical” por Davis remete etimologicamente à palavra: ir à raiz dos problemas. E não a uma corrente do Feminismo.
Fui convidada pelas queridas da Mulheres que Escrevem para fazer uma espécie de curadoria de poetas negras brasileiras que leio, admiro e indico. Como escritora, cordelista e, claro, poeta, sou profundamente influenciada por todas elas. Na verdade, algumas dessas mulheres foram as primeiras escritoras negras que li na vida, quando eu ainda buscava por referências e exemplos de mulheres negras na literatura, já que não conseguia encontrá-las nas aulas da escola, na única livraria e nos poucos sebos que existiam no Cariri, interior do Ceará, e nem na mídia.
Por Jarid Arraes,
Porque tive que pesquisar sozinha, sei da importância de recomendações como estas. Não porque listas assim são definitivas e completas, mas porque podemos abrir uma porta que desperta curiosidade em quem lê, para que vá além, busque mais. Elas são, também, espelhos e referência para mulheres negras que escrevem ou querem começar a escrever. Para que saibamos que não estamos sozinhas.
Nessa lista, tentei reunir nomes que nos mostram uma diversidade poética, de histórias e de idades. Publicadas por editoras, de forma independente e pela internet. Gerações diferentes, frentes diferentes, algumas que também escrevem prosa, textos de opinião sobre questões raciais e de gênero e que são profissionais admiráveis em outras áreas além da Literatura. Tenho certeza de que esse grupo trará pelo menos um nome novo para sua lista de leitura. Se joga!
Alzira Rufino
É ativista política atuante no Movimento Negro e no Movimento de Mulheres Negras. De família negra e pobre, tendo trabalhado desde criança, aos dezessete anos foi admitida em um hospital como auxiliar de cozinha. Ficou na função por dois anos, período em que ganhou seu primeiro prêmio literário. Tem publicado artigos em jornais e revistas brasileiras e do exterior. Ganhou diversos prêmios de poesia em nível local e nacional e tem publicações de poesia, ficção e ensaios (dados extraídos da Wikipedia). Para conhecer o trabalho de Alzira Rufino, você pode curtir sua página no Facebook ou ler seus poemas no site da Casa de Cultura da Mulher Negra.
Beatriz Nascimento
Maria Beatriz do Nascimentonasceu em Aracaju, Sergipe, em 12 de julho de 1942, filha de uma dona de casa e de um pedreiro, a oitava de dez irmãos. Beatriz também fez o caminho de muitas mulheres negras. Foi uma retirante e se mudou com sua família para Cordovil, Rio de Janeiro. Estudiosa, pesquisadora, ativista, autora e graduada no curso de história pela UFRJ, também foi professora na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro. Participou de um grupo de ativistas de negras e negros que formaram núcleos de estudo no estado, além de manter um vínculo com o movimento negro da época (dados extraídos do site Alma Preta). Falecida em 1995, Beatriz foi apagada da história da poesia e, ainda hoje, temos dificuldades em encontrar seus escritos na internet. Para conhecer mais sobre sua história, você pode acessar o pdf gratuito do livro Eu sou atlântica, de Alex Ratts. Encontramos também um de seus poemasque foi publicado no livro Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz Nascimento.
Bianca Gonçalves
Bianca Gonçalves é graduanda em Letras na USP, professora e pesquisadora. Impulsionou o projeto Leia Mulheres Negras, que contribui na difusão de autoras negras brasileiras, através de palestras e minicursos. Mantém o blog Bianca não é branca, onde publica ensaios, críticas e crônicas. Tem um livro de poemas na gaveta que pretende publicar ano que vem e atualmente se divide escrevendo seu projeto de mestrado e um romance.
Cidinha da Silva
Cidinha da Silva é prosadora e dramaturga. Autora de 11 livros de literatura entre crônicas para adultos, conto e romance para crianças e adolescentes. Destaca-se no conjunto de escritoras e escritores negros de sua geração editorial, por dedicar-se à crônica, gênero amplo e diverso que traduz pela palavra o cotidiano vivido. Seus livros mais recentes são Canções de amor e dengo (poemas, Me Parió Revolução, 2016) e #Parem de nos matar! (crônicas, Ijumaa, 2016). Organizou duas obras fundamentais sobre as relações raciais contemporâneas no Brasil: Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras (Summus, 2003), um dos dez primeiros livros sobre as ações afirmativas como estratégia de superação das desigualdades raciais, publicados no país. O segundo, Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (FCP, 2014), obra de referência na temática. É doutoranda no Programa Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC) da Universidade Federal da Bahia. Você pode conferir os trabalhos da Cidinha e adquirir seus livros através de sua página no Facebook.
Carina Castro
Carina Castro (SP, 1988) é poeta, pesquisadora e ativista cultural. É autora do livro de poesia Caravana (Editora Patuá, 2013). Se dedica também aos textos para crianças e jovens, ganhou o Prémio Lusofonia de Portugal (2012) na categoria conto infantojuvenil, tem textos publicados em diversas revistas digitais e antologias, entre elas a mais recente É agora como nunca (Cia das Letras, 2017). Integra o dúo de publicações independentes e intervenções gráfico-poéticas Selenitas. É idealizadora e atuante no coletivo de feminismo e infância Espaço Marciana e ministra oficinas de criação literária para mulheres, crianças e jovens. Seus textos e trampos podem ser encontrados internet a fora, no blog Tudo é coisa, a nas páginas do Facebook Caravana e Selenitas.
Cristiane Sobral
Cristiane Sobral é carioca e mora em Brasília desde a década de 90. Escritora, poeta, atriz, diretora e professora de teatro. Ganhadora em 2017, do Prêmio FAC-Secult-DF de Culturas Afro-Brasileiras. Imortal cadeira 34 (Academia de Letras do Brasil). Mestre em Artes (UnB), Especialista em Docência Superior pela Universidade Gama Filho, RJ. Licenciada em Educação Artística; Bacharel em Interpretação Teatral (Universidade de Brasília). Professora da SEDF — Atuando como Coordenadora Intermediária na Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante — DF. Diretora de literatura afro-brasileira no Sindicato dos Escritores. Começou a publicar em prosa e poesia em 2000 na antologia Cadernos Negros (Ed. Quilombhoje Literatura). Suas obras poéticas e ficcionais são O tapete voador (2016), livro de contos da Editora Malê, Espelhos, Miradouros, Dialéticas da Percepção, livro de contos da Editora Dulcina, Não vou mais lavar os pratos, livro de poesia da Editora Garcia e Só por hoje vou deixar meu cabelo em paz, livro de poesia da Editora Teixeira. Você pode ver o trabalho de Cristiane em seu blog e na página do Facebook.
Elizandra Souza
Poeta, Jornalista, Editora da Agenda Cultural da Periferia na Ação Educativa, locutora da Rádio Comunitária Heliópolis FM, integrante do Sarau das Pretas — SP. Co-organizadora do livro de poesias Terra Fértil de Jenyffer Nascimento e da Antologia Pretextos de Mulheres Negras com Carmen Faustino. Autora do livro de poesias Águas da Cabaça, lançado em outubro de 2012. Co-autora do livro de poesias Punga com Akins Kintê (Edições Toró, 2007) e participação em antologias literárias como Cadernos Negros, Negrafias, entre outras. Idealizadora do evento Mjiba em Ação — Comemoração ao Dia da Mulher Negra (25 de julho). Editora do Fanzine Mjiba (2001–2005). Você pode conhecer o trabalho de Elizandra em sua página no Facebook.
Esmeralda Ribeiro
É escritora e jornalista, e há mais de 20 anos atua no coletivo Quilombhoje Literatura e na edição da tradicional obra Cadernos Negros. Nasceu em São Paulo/SP, em 1958, e atua no sentido de incentivar a participação da mulher negra na literatura. É autora do livro de contos Malungos e Milongas (Ed. da Autora, 1988) e participou das seguintes antologias: Cadernos Negros 5 e 7 a 18 (org. Quilombhoje); Reflexões sobre a literatura afrobrasileira (Quilomboje, 1985); Criação crioula, nu elefante branco (Secretaria de Estado da Cultura/SP, 1987); Pau de sebo — coletânea de poesia negra (org, Júlia Duboc). Você pode conferir alguns poemas de Esmeralda Ribeiro no site Negritude e Estudos Literários e Vinte Cultura e Sociedade.
Geni Guimarães
Nascida na área rural do município de São Manoel, São Paulo, em 08 de setembro de 1947. Professora, poeta e ficcionista, em 1979, ela lançou seu primeiro livro de poemas intitulado Terceiro Filho (1979). Em sua literatura, encontramos tons de protesto e afirmação identitária, voltados principalmente para questões de raça e de gênero. Você pode conhecer alguns poemas de Geni no site Latitudes Latinas e no blog Banho de Assento.
Gessica Borges
Gessica é publicitária, redatora, curiosa de berço e apaixonada por cultura em geral. Escreve desde criança, pesquisa desde antes do Google e tem como hobbie a troca de ideias e palavras sobre literatura, cultura pop, periferia e negritude. Tem dois minicontos publicados na edição de 2014 do Livro da Tribo e um poema publicado pela Editora Quelôniopara a antologia Eu Escritor(a). Você pode conferir os poemas da Gessica em seu site.
Jenyffer Nascimento
Jenyffer é uma mulher negra nordestina, mãe, trabalhadora, feminista, produtora e apreciadora de arte, além de frequentadora de saraus da periferia da zona sul de São Paulo. Participou da coletânea do Sarau do Binho e teve alguns de seus poemas publicados no livro Pretextos de mulheres negras, obra de poemas que contou com a participação de 22 mulheres negras. Seu primeiro trabalho autoral foi a obra poética Terra Fértil(Editora Mjiba, 2014). Você pode conferir alguns poemas de Jenyffer Nascimento no site Blogueiras Negras ou adquirir seu livro no site da Editora Mjiba.
Lubi Prates
Lubi Prates nasceu em 86, em São Paulo. Graduada em Psicologia e especializando-se em Psicoterapia Reichiana. Tem publicado o livro coração na boca (Editora Multifoco, 2012, republicado pela Patuá, 2016) e triz (Patuá, 2016) e algumas participações em revistas e antologias literárias nacionais e internacionais. Edita a revista literária Parênteses, é tradutora e dedica-se, principalmente, a ações que combatem a invisibilidade da mulher e da negritude no meio literário. Lubi já foi publicada na Mulheres que escrevem e você pode ler aqui.
Luz Ribeiro
Luz Ribeiro , 29 anos, nascida no verão de São Paulo é coletiva: Poetas Ambulante, Legítima Defesa e Slam das Minas-SP. Participante de slams e saraus da cidade de São Paulo, escreve desde que fora alfabetizada e ainda não se acha poeta, não quer nem ser poeta, sonha com o dia que será poesia. Autora do livro independente “eterno contínuo” (2013) , e gestando os próximos espanca (2017) e estanca (2017), possui textos autorais em diversas antologias. Luz gosta de escrever com letrinha minúscula, queria voar, mas é concreta demais pra planar e carrega ondas na caixa torácica, é a mar nas vielas, se vê poeta bruta, e pra não embrutecer, mais. Você pode conhecer o trabalho de Luz Ribeiro em sua página no Facebook.
Mel Duarte
Mel Duarte, 28 anos, poeta, slammer e produtora cultural, atua com literatura independente desde 2006. Faz parte do coletivo “Poetas Ambulantes” e é uma das organizadoras da batalha de poesias voltada para o gênero feminino “Slam das Minas- SP”. Em 2016 Mel foi destaque no sarau de abertura da FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty) e foi a primeira mulher a vencer o Rio Poetry Slam (campeonato internacional de poesia) que acontece dentro da FLUPP (Feira Literária das Periferias) no Rio de Janeiro. Em 2017, foi convidada a representar a literatura brasileira no Festilab Taag, em Luanda, Angola. Possui 2 livros publicados de forma independente Fragmentos Dispersos (2013) e Negra Nua Crua (2016) publicado pela editora Ijumaa e em seguida transformado em audiolivro pela Tocalivros. Está em processo de tradução do segundo livro também para o inglês e espanhol. O canal oficial da Mel Duarte é sua página no Facebook e você pode encontrar seus livros na página da Editora Ijuma, na Blooks Livraria ou na Tapera Taperá.
Mikaelly Andrade
Mikaelly Andrade nasceu em Quixeramobim, Ceará em 1990. Reside em Fortaleza desde os cinco anos. Publicou poemas em Descompasso, seu primeiro livro e na zine Alguns versos pervertidos e outros indecorosos. Participou da Antologia de Contos Literatura Br (Editora Moinhos, 2016). Você pode acompanhar o trabalho de Mikaelly no blog Mika escreve e através de seu Instagram @miklandrade.
Miriam Alves
Integrante do Quilombhoje Literatura, entre 1980 a 1989, publicou em Cadernos Negros, de 1982 a 2011, contos e poemas. Possui diversos trabalhos, (poemas, contos e ensaios), em antologias, teses e dissertações dentro e fora do Brasil. Ministrou curso de cultura e literatura negra na University of New Mexico, Albuquerque, USA, 2007, e como escritora visitante no Middlebury College, M.C., USA. Participa, frequentemente, de debates e palestras em universidades, escolas, saraus e feiras literárias. Publicou os livros Bará na trilha do vento (2015), Mulher Mat(r)iz (2011) e Brasilafro (2010). Participou da coletânea de escritoras negras Olhos de Azeviche, editada pela Editora Malê e da coletânea A Escritora Afro-Brasileira, ativismo e arte literária, da Editora Nanyala. Você pode conferir alguns poemas de Miriam Alves na Revista Modo de Usar & Co.
Nina Rizzi
Nina Rizzi (SP, 1983) é historiadora, tradutora e poeta, vive em Fortaleza/CE (Brasil), onde é uma das articuladoras do Sarau da B1/Periferia de Fortaleza. Tem poemas traduzidos para o espanhol, esloveno e inglês e participa em diversas antologias no Brasil, Moçambique, Angola, EUA, Suécia, Portugal e Espanha. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014), Romério Rômulo: ¡Ah, si yo fuera Maradona! (versão em espanhol), geografia dos ossos (poesia, Douda Correria, Portugal, 2016), Oscar Hahn: Tratado de Sortilégios (tradução, Lumme Editor, 2016); quando vieres ver um banzo cor de fogo (poesia, Editora Patuá, 2017). Coedita a revista escamandro poesia tradução crítica e escreve regularmente no quandos.
Roberta Estrela D’Alva
Atriz-MC, diretora, diretora musical, pesquisadora, poeta e slammer, membro fundadora do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (primeira companhia de Teatro Hip Hop do Brasil ) e do coletivo Frente 3 de Fevereiro desenvolvendo ações simbólicas, produção de livros, documentários e investigações colaborativas acerca do racismo na sociedade brasileira. Nesses dois núcleos de pesquisa, além de trabalhos como atriz, diretora e MC, desenvolve trabalhos como roteirista e dramaturga. É idealizadora do ZAP! Zona autônoma da Palavra, primeiro “poetry slam” (campeonato de poesia) brasileiro e foi finalista da Copa do Mundo de Poesia Slam 2011 em Paris conquistando o terceiro lugar. Diretora de Cindi Hip Hop — pequena ópera rapvencedor do prêmio FEMSA/Coca de melhor espetáculo jovem e do prêmio Cooperativa de Teatro — melhor dramaturgia. Foi contemplada com o prêmio Cooperativa Paulista de Teatro 2011 de Melhor Projeto Sonoro, indicada ao Prêmio Shell de Melhor Música e vencedora do Prêmio Shell 2011 na categoria melhor atriz. Em novembro de 2014, foi publicado o seu primeiro livro Teatro Hip-Hop, a performance poética do ator-MC pela editora Perspectiva. É curadora e apresentadora do Rio Poetry Slam, primeiro slam internacional da América Latina que acontece dentro da programação da Festa Literária das Periferias (FLUPP). Em 2016, foi dirigida pelo diretor americano Robert Wilson no espetáculo Garrincha , a street ópera. É apresentadora do Manos e Minas, programa semanal sobre cultura jovem , urbana e hip-hop, exibido semanalmente na TV Cultura. Você pode ver algumas das leituras de Roberta Estrela D’Alva nos links a seguir: Herói Tombado, Slam Blues Take I (video de spoken word+blues), Entrementes, Solo de poesia falada Vai te Catar!, Perfil da TRIP.
Ryane Leão
Ryane Leão é estudante de Letras na Unifesp, poeta, professora e artista de rua. Publica seu trabalho através de lambe-lambe e na internet com o projeto Onde jazz meu coração. Tem seu trabalho pautado no fortalecimento de mulheres negras e focado na voz, luta e resistência através da arte e da educação. Financiou seu primeiro livro pelo Catarse, com prévia de lançamento para novembro de 2017. Você pode conferir seu projeto no Instagram @ondejazzmeucoracao e no Facebook.
Vanessa Rodrigues
Vanessa Rodrigues é jornalista, escritora, conta as histórias que trazem um nózinho na garganta ou um calorzinho nas partes. Criou o projeto Não foi ciúme, escreve para o Blogueiras Feministas e o Biscate Social Club. Aquariana, da vida, mineira cabreira e rainha do batom vermelho. Você pode conferir o trabalho da Vanessa no seu Medium (de nome genial) o Cu com classe, no Twitter @vanerodrigues, Facebook e no Instagram @vanerodrigues.
Julho é o mês da mulher negra. Dia 25 celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Nas pesquisas realizadas pela especialista em literatura Regina Dalcastagnè vemos que, nos lançamentos publicados entre os anos de 1990 a 2004, 93,9% dos autores são brancos e apenas 7,9% dos personagens são negros. É preciso abrir espaços na Literatura, é preciso ler mais mulheres e, principalmente, mais mulheres negras.
Para celebrar os 10 anos do Latinidades – o maior festival de mulheres negras da América Latina, realizaremos mais uma edição da Festa Latinidades com um line up pra lá de especial! Reuniremos as mulheres mais incríveis e poderosas que só o Latinidades poderia juntar em uma única noite.
Segura esse LA-CRE!
E para começar daqueeeele jeito, teremos a atração internacional OSHUN (EUA), duo feminino composto pelas vocalistas Niambi Sala e Thandiwe, artistas independentes que descrevem seu som como Iya-Sol, uma mistura refrescante do neo-soul, hip hop e espiritual. O duo traz também o afrofuturismo, um dos temas desta edição. Conexão com a ancestralidade, tecnologia, letras sobre assuntos contemporâneos e visão de futuro, Oshun vai sacudir a nossa celebração.
A segunda atração internacional já confirmadíssima é a cantora MADINA VAZ (MZ), mais conhecida como Zav e vem lá de Moçambique pra fazer a gente dançar ao som da mistura de ritmos como a marrabenta, pandza, ghetto zouk e kizomba. ZAV é referência para outras mulheres em seu país. Ela canta sobre empoderamento, violência doméstica, o amor, a força e a beleza da mulher africana. Zav é sucesso nas principais discotecas e rádios de Maputo e é certo que em Brasília ninguém vai ficar parado.
Sem pisar menos vamos ter essa que todo mundo ama e respeita, Débora Carvalho, a nossa DJ DONNA (DF) vai botar pra ferver com seus sets que variam entre Rap, Miami Bass, Break beat, Electro Funk, Charme, R&B, Dancehall, Afro Beat, Afro House e Samba Rock. Reconhecida como uma das melhores representantes da cultura urbana e alternativa brasiliense, DJ Donna é a chave para falar sobre mulheres e feminismo na música negra brasileira.
Ufa! E ainda tem uma surpresinha que a gente só vai contar depois...#fikaadika!
Mais uma vez o Festival Latinidades dá destaque para a produção de designers e estilistas negras/os lacradorxs cheixs de inspiração psra compartilhar! ❤ Três desfiles imperdíveis no #Latinidades10Anos irão apresentar coleções inéditas:
- África Plus Size Brasil – apresenta a diversidade de corpos atendidos pela Moda Plus Size em prol da diversidade e da reflexão. O projeto busca criar meios de elevar a auto-estima do nosso Povo, estimulando também a reflexão sobre relações étnico-racial no Brasil e a visibilidade/invisibilidade da presença negra nos espaços de criação de estilos, através de remodelagens criativas na contemporaneidade.
- Rogue Wave (Angola) – Rogue Wave é uma marca registrada angolana, caracterizada pela fusão dos estilos panafricano e ocidental, transcrita em vestuário e acessórios. Co-fundada por Siwana De Azevedo & Telma Inglês, a Rogue Wave destina-se a todos aqueles que com ela se identificam, porque a arte é ilimitada, a moda é intemporal.
- Pinto Música (Moçambique) - Renomado jovem estilista moçambicano especializado em vestidos de noiva e cerimônia. Vencedor do prêmio Estilista Emergente do Mozambique Fahion Award 2014 é considerado um dos grandes nomes da nova cena africana e um dos melhores estilistas de Moçambique.
Local: Anexo do Museu Nacional
A entrada é gratuita. Serão distribuídas senhas de acesso 1h antes do início do evento.
*Espaço sujeito à lotação.
Confira o Instagram do time de maquiadorxs, designers, cabelereirxs e apoiadorxs responsáveis em deixar nossxs modelxs ainda mais lindxs pra vocês.
Realização | Festival Latinidades e Black Fashion Model
Angela Davis em 2006 (Foto: Cortesia de Angela Davis)
por Helô D'Angelo,Nesta terça-feira (25), a filósofa, ativista e militante feminista Angela Davis ministrou uma conferência na Universidade Federal da Bahia (UFBA) intitulada “Atravessando o tempo e construindo o futuro da luta contra o racismo”, na qual sublinhou o quanto os Estados Unidos podem aprender com a luta das mulheres negras brasileiras, especialmente quando o assunto é organização contra o sistema carcerário, perda de direitos constitucionais e violência institucionalizada.
Segundo Davis, existe uma concepção de que as formas mais “avançadas” do feminismo negro estariam nos Estados Unidos, o que, para ela, não passa de uma concepção imperialista da própria luta. “De fato, há muitas figuras importantes por lá, mas deveríamos reconhecer que isso não é porque ‘somos mais avançadas’, mas porque as ideias viajam com muito mais facilidade dos Estados Unidos do que daqui”, colocou.
No Brasil e no resto do “sul mundial” é que se concentrariam, segundo ela, as mais fortes lutas das mulheres negras. Davis citou o poder feminista preservado na tradição do candomblé, os grupos de mulheres que têm se unido contra o aumento do encarceramento da população negra (que, em dez anos, subiu 500% no mundo inteiro, segundo a filósofa), os movimentos de empregadas domésticas que se organizam “de forma bem sucedida” na Bahia, e as mulheres que têm saído às ruas desde o impeachment de Dilma Rousseff.
Davis homenageou brasileiras negras importantes para esses movimentos, como a presidente do sindicato das domésticas em Salvador, Marinalva Barbosa, e a escritora Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de despejo (1960), que “nos lembrou que a fome deveria nos fazer refletir sobre o futuro”.
A feminista também lembrou da antropóloga baiana Lélia Gonzalez, co-fundadora do Movimento Negro Unificado (MNU), do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), do Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga e do Olodum. “Muito antes do conceito de interseccionalidade ter sido utilizado, ela colocou em pauta a complexa relação entre raça, classe e gênero, incentivando também as conexões das comunidades negra e indígena”, disse. “Os Estados Unidos têm muito a aprender com o feminismo negro brasileiro.”
A conferência fez parte da programação do Julho das Pretas, conjunto de ações que começou no início do mês para marcar o mês da Mulher Negra Latina e Caribenha – todas organizadas pelo Instituto Odara em parceria com o Coletivo Angela Davis, o Núcleo de Estudos Interdisciplinar da Mulher (NEIM), a UFRB e a Universidade da Bahia (UFBA).
Angela Davis e o Brasil
O evento não foi o único que trouxe Angela Davis ao Brasil. Entre os dias 17 e 21, a filósofa ministrou algumas aulas em Cachoeira (a cerca de 120 quilômetros de Salvador), em um curso sobre feminismo negro e descolonialismo, que atraiu pessoas de toda a América Latina, da América do Norte, da África do Sul e do Caribe.
Davis já é uma figura bem conhecida por aqui. Ela mantém relações estreitas com o país pelo menos desde 1997, quando foi trazida pela primeira vez a São Luis do Maranhão e se interessou pelas formas de combate ao racismo e ao machismo, em especial nos terreiros de candomblé. Ao longo desses dez anos, voltou mais cinco vezes ao país, e nesta terça (25) chegou a prometer que aprenderia português para não precisar de intérprete na próxima visita.
Muito antes disso, porém, Davis já encontrava ecos no Brasil: na década de 1980, o Movimento Negro Unificado (MNU) via na filósofa sua principal fonte de inspiração – já que faltava, na época, referências de mulheres negras que, como Davis, se colocassem na luta antirracista com tanta força midiática.
“Cada visita que fiz ao Brasil tem me trazido muitos insights. Desde a primeira, com Lélia Gonzalez, em 1997, até a escola de feminismo negro descolonialista em Cachoeira, este ano”, afirmou, no evento.
O contato com a filósofa teve efeitos importantes na luta brasileira. Um deles foi o Coletivo Angela Davis, também conhecido como Grupo de Pesquisa sobre Gênero, Raça e Subalternidade da UFRB. Mais recentemente, com o encarceramento de Rafael Braga, único preso nas Jornadas de Junho em 2013, grupos de ativistas se inspiraram nas campanhas de libertação de Angela Davis, nos anos 1970, para tentar soltá-lo.
“Aos poucos, passei a questionar meu papel de trazer o feminismo negro ao Brasil. Percebi que nós, nos Estados Unidos, somos as que mais precisamos aprender com o conhecimento produzido pelas longas histórias de luta do feminismo negro brasileiro”, disse.
Trajetória conturbada
A história de Angela Davis tem sido marcada pela luta em defesa dos direitos femininos e das pessoas negras desde a década de 1970. Ela foi militante comunista, fez dura oposição à Guerra do Vietnã e era membro do grupo Panteras Negras. Era odiada pelo então presidente americano anticomunista, Richard Nixon, mas amada por figuras importantes da época, como John Lennon e Mick Jagger.
Acabou se tornando mundialmente famosa depois de ter entrado para a lista dos mais procurados do FBI e por ter sido presa injustamente, em um dos processos criminais mais racistas de que se tem notícia – e depois do qual ela se tornou uma ferrenha defensora da abolição do sistema carcerário.
Davis estudou na Universidade de Frankfurt, onde foi aluna de Jürgen Habermas e Theodor Adorno. Depois, de volta aos Estados Unidos, teve que batalhar contra o governo anticomunista para lecionar na Universidade da Califórnia. Ao longo da carreira, ela lançou 12 livros, entre eles Mulheres, raça e classe (1983) e Mulheres, cultura e política (1990), ambos publicados no Brasil recentemente pela Boitempo. Hoje, é uma das mais respeitadas estudiosas de gênero, raça e classe.
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Errata: a conferência de Angela Davis mencionada no texto foi na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e não na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFBR), como anteriormente publicado.
Em 2017, o Latinidades completa 10 anos de existência. Durante uma década, promovemos a valorização da produção cultural, política e intelectual de mulheres negras, em enfrentamento ao racismo e o machismo. Comemoramos 10 anos construindo espaços de articulação e diálogo; fortalecendo visões de mundo e projetos inovadores e subversivos; criando e valorizando formatos originais e variados, que celebram a beleza, a riqueza e a diversidade das mulheres negras brasileiras, africanas e vivendo em outras regiões da diáspora africana. Nossos passos, que vêm de longe, nos trouxeram até aqui. Um futuro de muitas lutas e possibilidades nos espera.
Para esta 10ª edição, propomos uma reflexão coletiva: como a arte e os saberes de mulheres negras, assim como nossas lutas históricas e contemporâneas por direitos e por liberdade, incidem no presente? Como podem nos orientar a pensar e a criar o futuro? O conceito de Sankofa, dos povos Akan, nos ensina que tudo aquilo que foi perdido, esquecido, renunciado ou roubado no passado, pode ser reclamado, reavivado, preservado ou recuperado no presente. O que queremos resgatar, e o que deixaremos no passado? Que futuro queremos e como vamos construí-lo?
O céu é o limite para o pássaro da Sankofa. Inspiradas pelo afrofuturismo, partimos de heranças e símbolos africanos e afrodiaspóricos, e ousamos dar asas à imaginação. Honrando aquelas que vieram antes de nós e de braços dados com as que caminham ao nosso lado, tecemos coletivamente sonhos, fantasias e horizontes, inventamos a nossa liberdade e caminhamos, #afrontosas, em sua direção.
Tema: Festival Latinidades - Horizontes de liberdade: afrofuturismo nas asas da Sankofa
Programação:
• 25 de julho - Em celebração pelo Dia da Mulher Negra
15h às 19h - Esquenta Latinidades: papo preto e periférico
Local: Coletivo Cidade ( (Q: 3, Conj 11, Área Especial 2 Cidade Estrutural, DF)
19h30 - Gravação do DVD Vera Verônika
Local: Sala Plínio Marcos da Funarte
Entrada Gratuita (Retirada de ingressos no local 1h antes do evento)
• 27 de julho
- Mesa de debate - Memórias de visionárias
- Cine Afrolatinas - Encontro das Águas, de Zaíra Pires / Antonieta, de Flávia Person
- Mesa de debate - Miragens do futuro no presente
- Espaço Literário: Lançamento do livro Griôs da Diáspora Negra
- Mesa de debate - Afrontosas: agir para transformar
• 28 de julho
- Oficina – Utopias coletivas e projetos de futuro
- Cine Afrolatinas - Rainha, de Sabrina Fidalgo/ Beatitude, de Délio Freire/ Pretas no hip hop, de Priscila Francisco Pascoal
- Mesa de debate - Ciência, tecnologia e projetos de transformação social
- Espaço literário Palavra Preta: mostra nacional de negras autoras
- Mesa de debate - Diálagos transatlanticos
• 29 de julho
- Oficina - WordPretas
- Oficina - Dança: Coupé Décalé
- Espaço literário Palavra Preta: mostra nacional de negras autoras
- Mesa de debate - Moda preta: poder, lacre, transformação
- Desfile Afrolatinas
- Stand up: Tia Má – Com a Língua Solta (retirada de ingressos 1 hora antes o início do evento)
• 30 de julho
- Oficina - Roda da Mãe Preta
- Oficina - Dança com P. Afrobeat e Dança Afro
- Oficina - Malungas: autocuidado como insurgência
- Espaço literário Palavra Preta: mostra nacional de negras autoras