Páginas

segunda-feira, 31 de março de 2014

Misoginia x Misandria


Misoginia:
s.f. Sentimento de repulsa e/ou aversão às mulheres.
Repulsão excessiva do contato sexual com mulheres.
(Etm. do grego do grego misos: ódio e gene: mulher)

Misandria:
s.f. Medicina. Aversão patológica ao sexo masculino;
aversão ou ódio demonstrado pelo sexo masculino.
(Etm. do grego misos: ódio e andro: homem)

Definições simples que podem ser encontradas de formas ainda mais especificadas numa pesquisa rápida em qualquer dicionário online*.

De acordo com o vulto que as manifestações humanas tomam de tempos em tempos, é comum observar a popularidade que ganham certas palavras antes muito pouco usadas. Uma grande parcela dos homens (mesmo que pareça contraditório para um homem hétero), apresenta comportamento misógino, pois para que o machismo permaneça com a ‘superioridade masculina’, é preciso minar nossa confiança de alguma forma, para que permaneçamos em nosso devidos lugares.

Toda mulher sofre com o machismo e com a misoginia desde o momento que é reconhecida como tal. Se não no próprio ambiente familiar, no momento em que começa conviver em sociedade. Muitas se habituam aos comportamentos supracitados, e a eles nunca reagem. Algumas outras, sobretudo as que sofrem traumas mais profundos e lutam pela emancipação do gênero, desenvolvem um comportamento de resposta que vem sido classificado como misandria.

Mas como podemos classificar como misandria um comportamento que é apenas uma reação, uma resposta, ou mesmo uma defesa? (Acaso nós mulheres devemos aceitar caladas o tratamento que ainda recebemos em pleno século XXI, ou devemos nos comportar aceitando que somos o sexo frágil?)

Se a misandria existe, então por acaso isso anularia a carga do comportamento misógino que a mulher sofre desde sempre de forma ainda mais agressiva? A ‘ofensa’ que seria sofrida por um homem misógino não justificaria um comportamento equivalente, sobretudo em comparação ao que já foi, é, e será vivenciado por toda mulher. E isso inclui mesmo as que repudiam o comportamento ‘misândrico’, pois a vítima nunca, (NUNCA!) deve ser culpada e sim esclarecida e amparada.

Não entendamos por vítima o lado mais fraco, nenhuma mulher está salva de passar por certas situações, por mais forte que seja. Isso se torna propício pela aceitação das atitudes machistas e afins por parte sociedade, devido a manipulação nos invisibiliza e propaga ainda essa aceitação.

É fácil observar que tudo isso vem sob um disfarce de preocupação com a integridade, a feminilidade, a moral entre outros aspectos da própria mulher. E isso torna tudo muito mais difícil…

Nessas tentativas de inversão cada vez mais constantes, vemos deturpações enormes, como por exemplo dizer que toda feminista é misândrica, entre outras estereotipagens, além de alcunhas como ‘feminazi’ (esta em especial utiliza-se inclusive de forma bem humorada entre algumas feministas).

Porém uma massa de reacionários mais incautos, ou mesmo de misóginos treinados, acaba propagando uma imagem negativa e destrutiva, nos fragmentando cada vez mais. Estes, muitas vezes não assimilam que feminismo, é totalmente diferente de femismo**.

Mesmo tendo ciência de que existem frentes feministas mais incisivas, a inversão deve ser identificada e combatida! O mundo não é dividido entre femistas e machistas, misândricos e misóginos, e nem mesmo é preciso ser feminista para reconhecer certas situações. Algumas questões requerem apenas uma dose de bom senso!

Classificar a mulher como misândrica (e como machista), é o mesmo que classificar um negro como racista o que absolutamente não se aplica ao contexto em que vivemos. Num português mais claro: é uma tentativa escrota
de tirar o seu da reta.

Façamos algumas observações um simples: as mulheres sofrem assédio, agressões, retaliações nos ambientes mais diversos, e os autores destas ações talvez nunca receberão delas, ou de outras a mesma abordagem; Uma grande quantidade mulheres, entre elas feministas, possuem companheiros, filhos, pais, entre outros entes próximos, do sexo masculino e não apresentam um comportamento de ódio para com os mesmos, mesmo quando o recebem.

No entanto parece impossível para alguns observar, que se esse repúdio feminino está crescendo, é porque algo ainda o motiva. Mas ao invés de uma reforma destes falsos valores que apodrecem nossa sociedade, o que vemos cada vez mais é uma espécie de chumbo trocado.

Em tempo: as definições apresentadas logo a início do texto são justamente para escurecer que na prática não se trata de simples ódio ou repulsa, ou das intrigas frívolas que vemos internetê afora. A misoginia atua não só desta forma, como de modo a colocar as mulheres em posição de descrédito e autodepreciação, pelo simples fato de serem mulheres, além de pior, em conflito umas com as outras! É comum o descrédito por comportamentos que “deveriam” ser estritamente masculinos, e qualquer outra atitude considerada agressiva inconvencional da mulher.

É preciso atentar não só para a etimologia das nomenclaturas impostas, como para as tentativas de inversão de culpa que são colocadas para tentar nos confundir. Não se culpe por algo que não partiu de você! Machismo, misoginia e androcentrismo, são comportamentos que tem sempre acompanhado a sociedade, que ainda é baseada no domínio masculino, e nenhuma inversão pode abafar tudo aquilo que temos vivenciado.

*Considera-se a pesquisa feita para esse texto e a ausência dos termos
em alguns dicionários impressos.

**Antônimo de machismo.

____________________________________________________________________


Anne Cristhine Dourado, ou melhor apenas Anne Dourado. Nascida em 19 de setembro de 1993, aspirante a poetisa, escritora, cantora, militante... Só aspirante mesmo. Mulher negra, consciente, crítica e sempre aprendendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário