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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Cotas Raciais na pós-graduação, sejam bem vindas


Uma nova questão se coloca para reflexão: a instituição de cotas étnicas e sociais para a pós-graduação. Democratizar o acesso significa assegurar mais perfis na pós-graduação brasileira. Não é tarefa fácil em um espaço onde a tal da “meritocracia” é a palavra mais valorizada –e garantir sua permanência também não é simples.

Estamos timidamente avançando, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, recentemente divulgados: o número de estudantes negros (soma de pretos e pardos) no mestrado e no doutorado mais que duplicou de 2001 a 2013, passando de 48,5 mil para 112 mil, ainda.

Essa ampliação reflete um país que tem mudado, mas que ainda precisa avançar muito para a efetiva inclusão em variados níveis, os negros representem a maior parte da população (52,9%), já os pós-graduandos negros representam apenas 28,9% do total.

Ressalto ainda que esse aumento da participação de negros na pós reflete o crescimento da pós-graduação de modo geral. Ampliar a participação dos negros não significa apenas combater uma desigualdade e o racismo historicamente construídos e perpetuados ao longo da nossa história, mas também abrir a possibilidade para se combater de forma efetiva o racismo na academia, refletido, por exemplo, na limitação dos alcances das pesquisas realizadas.

Há também de se ampliar o alcance do conhecimento produzido, para que ele possa refletir a diversidade da nossa população e das nossas possibilidades de desenvolvimento.

A defesa de cotas étnicas e sociais na pós-graduação é uma defesa da Associação Nacional de Pós-graduandos, aprovada nas resoluções de seu 24°Congresso, já apresentada para o Governo Federal.

A iniciativa já está em curso em algumas localidades. O Rio de Janeiro destinou 12% para cotas étnicas e sociais, e a Universidade Federal de Goiás recentemente tornou-se a primeira instituição pública de ensino superior do país a aprovar as cotas de modo abrangente para toda a instituição. Serão ao menos 20% das vagas para negros e indígenas.

A partir das lutas do movimento negro, dos movimentos sociais de forma geral, dos acadêmicos, das reflexões e debates levantados sobre a temática, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial deve apresentar uma proposta de cotas raciais para a pós-graduação ainda este semestre, com o intuito de que as instituições federais brasileiras garantam não apenas o ingresso, mas também o estudo de temas diversificados.

A proposta se baseia na Lei 12.711/12, conhecida como Lei de Cotas da graduação. Até 2016, 50% das vagas de universidades federais e instituições federais de ensino técnico de nível médio devem ser destinados à estudantes de escolas públicas, garantindo, também, reserva de vagas para negros.

A pós-graduação é por excelência um lugar de produção do conhecimento, de ciência, um lugar que se propõe a pesquisar, a se inquietar, a propor questões e soluções para a sociedade. Esse lugar, para se manter saudável, deve estar livre de certezas absolutas e verdades eternas, deve ambicionar o novo, valorizar a diversidade e todas as possibilidades que ela traz.

Desse modo, o estabelecimento das cotas na pós-graduação representa um grande avanço na luta por justiça social e por reparação em nosso país. Mas não apenas isso, significa a compreensão de que a Universidade é um local que deve refletir a sociedade nova que pretendemos construir, e não a manutenção das desigualdades que se perpetuam.

Significa ter na universidade gente diferente, que olha a sociedade de forma complexa, problematiza questões variadas e pensa soluções não óbvias, a partir de múltiplos olhares. Significa lançar mão de uma infinidade de futuros possíveis. Significa a ampliação e a ressignificação dos horizontes formativos. Significa abrir lugar para a inquietação, para o olhar curioso e transformador de quem acaba de chegar e traz um mundo de possibilidades.

Cotas, sejam bem vindas à pós-graduação!


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 Tamara Naíz – Presidente da ANPG (Vermelho)
*Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG)

Fonte: Negrobelchior

Mulheres Negras do umbigo para o mundo


por Emanuelle Goes*
Resolvi escrever sobre algumas jovens negras que estão fazendo a luta do seu jeito, trilhando caminhos e fazendo a sua parte.

Em tempo de preparatórios para a Marcha dasMulheres Negras que logo se aproxima (18 de novembro), a marcha que para mim reorientará caminhos para o Movimento Negro e de Mulheres Negras, a marcha que atinge as mulheres negras de todo o País, que se reconhece nela, por um Brasil sem racismo e sem violência e pelo bem viver, uma marcha que segue na contramão do Estado Brasileiro que sempre nos colocou a margem, as invisíveis.

É importante destacar que as mulheres negras sempre estiveram à frente na luta por oportunidades de direitos para a comunidade negra, nas agendas de políticas publicas, na participação de espaço de controle social, construção e implementação de políticas e por muitas vezes fazendo o papel do Estado.

Mas, vim neste texto falar das mulheres, das jovens negras, que já estão em marcha no cotidiano de suas militâncias, sei que tem varias de nós por ai fazendo o seu pedaço, mas sigo aqui encantada com quatro de nós, que nos representa bem.


Começo com a iniciativa maravilhosa da soteropolitana Monique Evelle, que em 2011 criou o Desabafo Social que nasceu do desejo de transformar a realidade através de ações estruturadas e intencionais, sempre trabalhando na área dos Direitos Humanos da Infância e Juventude, Comunicação e Educação.


Monique ficou entre as 25 negras mais influentes da internet brasileira, pelo site Blogueiras Negras e saiu na lista das 30 mulheres com futuro promissor, pela Revista Cláudia e Portal MdeMulher, da Editora Abril. E, em março de 2014 o Desabafo levou o Prêmio de Protagonismo Juvenil pela Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude. 


O trabalho, o engajamento e a arte da Cordelista e escritora Jarid Arraes que nos presenteia e nos alegra o coração sempre com a sua coluna Questão de Gênero na Revista Fórum e principalmente com os seus cordéis que tem como temáticas centrais as questões de gênero e raciais (Dandara dos Palmares, Luísa Mahin, Carolina Maria de Jesus, Aqualtune, Tereza de Benguela) esses são os títulos de alguns dos seus cordéis.




Foto: Ytana Mayanne
Cetilá Itas, estudante de Ciências Sociais juntamente com a historiadora Maria da Conceição Freitas criaram o Vidas Negras Importam que é uma iniciativa do Projeto Itinerante Próxima Parada, do qual ela também é a idealizadora, que tem como objetivo promover ações ressignificando o olhar da sociedade sobre a importância da vida, principalmente das vidas negras ceifadas em nome do mito da igualdade racial, que caracteriza pela inexistência de racismo no Brasil, logo mais negros estão em condição desigual, fora dos espaços de poder por que são maioria, refutando a perspectiva de uma política genocida da população negra.

Vidas Negras Importam é inspirado no Movimento Americano “Black Lives Matter”, o Projeto Itinerante Próxima Parada decidiu promover intervenções em pontos de paradas de ônibus e nas praças públicas agregando diferentes linguagens concomitantemente, levando os sujeitos a protagonizarem suas histórias e novas histórias na rua, dialogando entre pares sobre a necessidade de nos importarmos com a outra pessoa, mesmo que seja diferente, mas que traz em si as marcas de ser uma vida negra na sociedade.


E para finalizar trago para vocês a iniciativa de Mafá Santos graduanda no curso de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia, o projeto Som da Calçada que surgiu a partir do seu contato com a População em Situação de Rua desde o inicio de 2014 com estagio na Defensoria Pública do Estado da Bahia. E que tem como objetivo promover o empoderamento das mulheres em situação de rua através da arte por meio de aulas de teatro, música, artes plásticas e diálogos sobre saúde da mulher, gênero e empreendedorismo.

Todo engajamento nosso individual é coletivo, porque nós mulheres negras nos construirmos na coletividade. Bem, as iniciativas acima citadas precisa de colaborações das mais diversas formas, então sintam-se a vontade.

Um sobe e puxa a outra!

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*Blogueira, Enfermeira, Militante do Movimento de Mulheres Negras, Pesquisadora em Saúde das Mulheres Negras, Doutoranda em Saude Pública ISC/UFBA

Estrutural sob novo olhar, muito além do Lixão

FILME "SETOR COMPLEMENTAR" FILMADO NA ESTRUTURAL 
FOTO: DIEGO TORRÃO / DIVULGAÇÃO

Cidade atrai cineastas, que utilizam as câmeras para misturar ficção e realidade, elevando autoestima dos moradores da região

Numa tentativa de escapar dos clichês e estereótipos, cada vez mais chegam aos cinemas novos olhares sobre a Cidade Estrutural. Neste ano, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro selecionou o curta-metragem “Setor Complementar”, dirigido por Tiago Rocha. Entre outras coisas, o filme busca discutir as limitações da mobilidade urbana no Distrito Federal. Nas últimas edições do evento, a presença de produções filmadas na cidade, popularmente conhecida por abrigar o maior lixão da América Latina, tem sido praticamente constante. À exceção de 2013, há pelo menos cinco anos todos os festivais têm reunido obras sobre as mais diversas temáticas locais.

A partir do olhar de crianças e adolescentes da cidade, “Setor Complementar” mistura ficção e documentário para retratar as contradições de uma região que reúne, ao mesmo tempo, o maior polo de vendas de automóveis da América Latina e a cidade com uma das maiores concentrações de bicicletas por habitante do DF. “Aí, eu passava sempre pelas duas cidades: a do Automóvel e a Estrutural. E era muito visível essa discrepância”, conta o diretor, que antes do filme não sabia que as duas cidades tinham um só nome: Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA).
"Mesmo sendo retratada quase sempre como um lugar violento, de forma marginalizada, a Estrutural é um lugar onde as pessoas andam na rua, ocupam as esquinas, têm um senso de comunidade e usam muito a bicicleta – uma coisa que sempre me chamou muito a atenção."
Tiago Rocha, produtor de Setor Complementar
Filmagens de “Setor Complementar” na Estrutural envolveram moradores

Pelas telas do Cine Brasília, espectadores também conheceram os bastidores dos concursos de miss no Distrito Federal, no documentário “O Entorno da Beleza” (2012), de Dácia Ibiapina.

Além disso, no mesmo cinema, foi possível se aproximar da realidade dos catadores que trabalham no Lixão da Estrutural, pelas lentes de Webson Dias, no documentário “Cata(Dores)”, de 2011, e acompanhar as aventuras do adolescente Lucas ao encontrar, no mesmo lixão, um exemplar do livro “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche, apresentadas pelo cineasta Fáuston da Silva no curta “Meu Amigo Nietzsche”, também de 2012.


Estereótipos
Na opinião de Webson Dias, é preciso haver um cuidado na hora de discutir estereótipos. “Muitas vezes, as pessoas se sentem ofendidas ao ver aquele retrato da cidade e reclamam do olhar de fora. Mas você tem que ficar com raiva da foto ou da realidade? A gente procura sempre mostrar o desafio de se filmar de forma respeitosa, mas crítica, só que sem ser fatalista”, diz.
Quase sempre, se você der um equipamento para esses jovens da cidade mostrarem a visão que eles têm dessa periferia, eles vão reproduzir uma visão estereotipada, porque é como eles se veem representados."
Webson Dias, diretor de Cata(dores)

Fáuston gosta de falar de
 superação e esperança

De acordo com Fáuston, uma de suas bandeiras é filmar na periferia sem reforçar estereótipos de violência e criminalidade geralmente associados às cidades. “Você pega Cidade de Deus, por exemplo. É um filme muito forte, que o mundo inteiro gosta, mas do qual a cidade não se orgulha. Nos filmes que eu faço, espero que as pessoas se orgulhem. São filmes que falam sobre superação, sobre esperança”, explica o cineasta, que é morador de Ceilândia.

Em “Ácido Acético” (2014), Fáuston se aproveita do estigma de cidade violenta associado à Estrutural para brincar com a quebra de expectativas e surpreender o espectador.

Quando escrevi ‘Meu Amigo Nietzsche’, queria que pela primeira vez a cidade fosse filmada com uma abordagem que tivesse poesia, valorização, respeito. No meio da filmagem, veio uma pessoa saber o que a gente estava fazendo e, quando ouviu o nome do filme, perguntou quem era esse tal de Nietzsche, se era um traficante. Ou seja, tem um problema de autoestima, e em como as pessoas se enxergam, muito grande. A gente não pode reforçar isso."
Fáuston da Silva, cineasta.

Filmografia da Estrutural
  • “Cata(dores)” (2011): Webson Dias
  • “O Entorno da Beleza” (2012): Dácia Ibiapina
  • “Meu Amigo Nietzsche” (2012) e “Ácido Acético” (2014): Fáuston Silva
  • “Agindo sem Pensar” (2012) e “Marcas da Dor” (2014): Ronaldo Rocha
  • “Meu nome é Johnny” (2013): Ivan Viana Costa, Petronio Neto e Tiago Rocha
  • “Restrutural” (2014): Marcelo Díaz
  • “Setor Complementar” (2015): Tiago Rocha

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MEL BLEIL GALLO



Fonte: Metropoles

Ceilândia é a cidade com mais registros de violência doméstica no DF em 2014


Levantamento realizado pelo MPDFT reúne dados de inquéritos policiais e denúncias de violência contra mulheres

Em 2014, mais da metade dos casos de violência doméstica no Distrito Federal se concentraram em apenas cinco regiões. De um total de 12.866 registros, as áreas com mais ocorrências, 62% do total, foram Ceilândia, com 2.077; seguida por Brasília, com 2.028; Taguatinga, com 1.381; Samambaia, com 1.346; e Planaltina, que totalizou 1.185. Os dados são resultado de um levantamento que contabilizou os inquéritos policiais (IPs) e os termos circunstanciados (TCs) recebidos pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) nos últimos nove anos.


Segundo o coordenador do Núcleo de Gênero Pró-Mulher, promotor de Justiça Thiago Pierobom, é a primeira vez que esse mapeamento anual do MPDFT é realizado com estatísticas por circunscrições. No levantamento, chama a atenção o elevado quantitativo em Brasília. “As pessoas têm uma visão equivocada de que na área central não há grande incidência de violência doméstica. Além disso, a circunscrição de Brasília contempla não só o Plano Piloto, mas também Cruzeiro, Lago Sul, Lago Norte, Sudoeste/Octogonal, Varjão, Jardim Botânico, Setor de Indústria e Estrutural”, explicou.

Denúncias oferecidas

O levantamento consolidou também as denúncias oferecidas pelo MPDFT de 2006 a 2014. Nos últimos nove anos, os números saltaram de 113, em 2006, para 5.683, em 2014, um aumento superior a 5.000%. Apesar da expressiva diferença ao longo dos anos, entre 2013 e 2014 verificou-se um pequeno aumento de 5.651 para 5.683 denúncias ajuizadas. Atualmente, o MPDFT possui 40 Promotorias de Justiça especializadas no enfrentamento à violência doméstica. Segundo Pierobom, o DF é a Unidade da Federação com o maior número de promotorias especializadas e varas especializadas por habitante.


“Nesses nove anos, é notório o crescimento de inquéritos policiais instaurados e de denúncias oferecidas. Antes da Lei Maria da Penha eram incipientes as estatísticas sobre violência doméstica. O aumento de denúncias não representa, necessariamente, um aumento dos casos no DF, mas uma disposição maior das mulheres em denunciar, procurar ajuda. Já a relativa estabilização dos últimos dois anos precisa ser acompanhada ao longo do tempo antes de se chegar a uma conclusão sobre o motivo”, explica o promotor de Justiça.

O aumento de denúncias oferecidas pelo MPDFT acompanha o crescimento do volume de inquéritos policiais (IPs) e termos circunstanciados (TCs) recebidos pelo órgão. Se em 2006 foram apenas 10 novos IPs, o número cresceu ano após ano. Em 2007, foram 349; saltando para 3.497 em 2008; 4.389 em 2009; 6.390 em 2010; 8.386 em 2011; 10.635 em 2012; 11.675 em 2013 e, finalmente, 12.312 novos inquéritos recebidos pelas Promotorias de Justiça em 2014. Totalizando, nos últimos nove anos mais de 57 mil novos processos. No último ano, 2014, os crimes mais registrados foram de ameaça (7.188); injúria (6.213); lesão corporal (4.155); via de fato (1.659) e perturbação da tranquilidade (659).


“Existe uma discrepância entre o total de inquéritos e as denúncias ajuizadas pelo fato de a legislação permitir, em determinados casos, a desistência da vítima em prosseguir com o processo, como nos casos de ameça ou injúria, apesar de o Ministério Público sempre incentivar a devida responsabilização pelo crime. Pode haver também o arquivamento por falta de provas”, explica Pierobom. O promotor de Justiça acrescenta ainda que apesar dos avanços obtidos pelas mulheres na defesa de seus direitos, a violência ainda é um grave problema social. “Muitas vezes, por medo ou por intimidações diversas, as vítimas de violência doméstica continuam sem denunciar os agressores ou deixam de colaborar ao longo do processo. Compreender o ciclo da violência doméstica é essencial”.

Ligue 180

De acordo com o Balanço 2014 realizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, o Distrito Federal foi o que mais procurou o Ligue 180, seguido de Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Amapá. No ano passado, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 realizou 485.105 atendimentos, uma média de 40.425 atendimentos ao mês e 1.348 ao dia. Desde a criação do serviço em 2005, foram mais de 4 milhões de atendimentos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Campanha arrecada livros e faz batalha de poesias com presas da Colmeia

COLETIVO EXPRESSÃO/FESTIVAL LATINIDADES

Doações para internas do presídio podem ser feitas até segunda-feira (21/9)

por MEL GALLO*,
Na próxima terça-feira (22/9), uma batalha de poesias tomará conta da Colmeia, a Penitenciária Feminina do Distrito Federal. No dia, também serão doados livros em prosa e verso – ficção, não-ficção e poesia – que estão sendo arrecadados pelo Projeto Asas, da Secretaria de Cultura do DF (Secult), em parceria com o movimento Slam das Minas.

A atriz e poetisa Meimei Bastos, de 24 anos, é uma das que visitarão o presídio. Moradora de Samambaia, ela explica que o slam é uma batalha de poesias de origem periférica. “Mas não é uma batalha contra, é uma batalha junto. Da forma como eu vejo, essa é uma forma de fortalecer as mulheres que estão ali dentro. Por mais que elas estejam na condição de encarceradas, como se o Estado quisesse esquecê-las, quando você leva um livro, uma poesia, você liberta não só o indivíduo, você liberta a mente.”

Batalha de poesias realizada pelo Slam das Minas,
 no Festival Latinidades 2015
Na opinião de Meimei, a atividade é uma maneira de dar visibilidade ao que acontece na Colmeia. “Não que eu saiba ou sinta na pele como é. Mas participar do slam dentro de uma penitenciária, para mim, é muito especial. São as mulheres da minha quebrada que estão lá. São minhas amigas de infância, minhas parceiras”, conta.

Segundo a coordenadora da iniciativa, a subsecretaria de Cidadania e Diversidade Cultural da Secult, Jaqueline Fernandes, havia um receio inicial de que o projeto enfrentaria resistência entre as mulheres em situação prisional. Ela afirma, entretanto, que as quatro primeiras edições do projeto provaram o contrário.

“Acho que as idas têm funcionado como um estímulo, sempre. Isso fica nítido nos depoimentos delas, na troca, na generosidade de participação em todas as atividades”, conta Jaqueline. “Não é um projeto de inclusão cultural, como dizem, porque a gente tem consciência de que todas as pessoas produzem cultura e de que, na penitenciária, existem muitas mulheres artistas. Nós queremos levar momentos de entretenimento e troca cultural.”

A subsecretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do DF,
 Jaqueline Fernandes
De acordo com a subsecretaria, esta fase do projeto ainda é uma versão piloto. No futuro, a intenção é estruturar um programa de capacitação profissional nas áreas de cultura, economia criativa e acessibilidade cultural.

“Acho que a arte, ali, tem um significado mais profundo de transformação. É uma realidade muito pesada. São mais de 700 internas em uma penitenciária que tem capacidade para metade disso”, diz Jaqueline. Em dezembro, a ideia é encerrar a fase piloto da iniciativa com uma apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, para todas as mulheres da Colmeia.

Serviço
Doação de livros à Colmeia – Penitenciária Feminina do DF
O quê? Livros diversos, com preferência para romance e poesia
Prazo: Segunda-feira (21/9)
Pontos de entrega: É possível deixar os livros na Secretaria de Cultura (Teatro Nacional) ou com alguma das organizadoras.
Contato: 8216-7310

Fonte: Metropoles

Política nacional para saúde da população negra traz avanços, porém precisa ser mais divulgada


Política nacional para saúde da população negra traz avanços, porém precisa ser mais divulgada

Por Emídia Felipe, 
Há seis anos, a questão racial tem recebido mais atenção quando se fala em saúde. Desde 2009, quando o Ministério da Saúde começou a implementar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), diversos avanços foram alcançados, como campanhas focadas nos profissionais e coleta de dados específicos. No entanto, para representantes de movimentos sociais e pesquisadores, é preciso maior divulgação e consistência nas ações para que o preconceito pare de afetar o atendimento e o tratamento de pacientes.

Kátia Souto, do Ministério da Saúde, afirma que tema foi melhor
 pautado em 2014  (Imagem: Karina Zambrana/SGEP-MS)
Com gestão compartilhada entre os municípios e os governos Federal e Estadual, a PNSIPN tem como meta principal o esforço para “reverter as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional que funcionam como determinantes sociais das condições de saúde dessa população”, como esclarece o Ministério da Saúde (MS).“O Ministério da Saúde compreende que o racismo esta presente na sociedade brasileira como um todo e, por tanto também está presente no SUS. Sendo o racismo institucional diretamente ligado à forma como a sociedade está estruturada e com a falta de reconhecimento da cidadania plena da população negra, impedindo-a de acessar integralmente bens e serviços, sendo que essa realidade também se expressa na saúde” diz a coordenadora do Departamento de Apoio à Gestão Participativa (Dagep), do MS, Kátia Souto.

Para ela, entre as principais conquistas da política estão a criação de uma capítulo dedicado à saúde dentro do Estatuto da Igualdade Racial; a pactuação do 2º Plano Operativo na Comissão de Intergestores Tripartite, que tem por objetivo estabelecer estratégias de aplicação desta política; e a campanha Não fique em silêncio – Racismo faz mal à saúde. “O Ministério teve a coragem de pautar esse tema em 2014, ano em que ocorreram vários casos de racismo no País e no mundo, especialmente no esporte”, destaca Kátia Souto. Ela lembra que campanha sensibiliza profissionais e usuários do SUS e faz o alerta de que a discriminação racial muitas vezes contribui para o processo de adoecimento, e que ela também se reproduz nos espaços de saúde do SUS.

Além da questão do preconceito, a população negra tem necessidades especiais de saúde. Doenças como diabetes, hipertensão arterial e miomas são mais comuns entre negros. Por isso, outros aspectos da PNSIPN são importantes, como o incentivo à pesquisa e à coleta de dados que possam basear novas ações. Informações da Secretaria de Vigilância em Saúde, por exemplo, mostram que em 2013, o coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase na população negra (pretos e pardos) foi de 20,6/100 mil habitantes, representando um total de 21.645 casos novos. Já entre os não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 17,8/100 mil habitantes (8.711 casos novos).

Para Ângela Brito, da Faculdade de Medicina de Alagoas,
 é preciso dar mais visibilidade à política de saúde da população negra

Ajustes necessários

A professora Ângela Maria Benedita Bahia de Brito, da Faculdade de Medicina de Alagoas reafirma o papel importante da PNSIPN. No entanto, para ela, é preciso dar maior visibilidade às mensagens e às ações dessa política. “Essas abordagens necessitam ser mais eficientes, firmes e constantes. O racismo está presente todos os dias, todas as horas”, lembra a pesquisadora e militante. 

Entre outras experiências com a difusão desse conhecimento entre profissionais de saúde, Ângela Brito exemplifica com um caso que ocorreu na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, onde é oferecida a disciplina eletiva no Mestrado profissional Raça, racismo institucional, ensino a práticas na saúde. “Apresentei a PNSIPN e durante a discussão citei a campanha do SUS com a visualização do cartaz. A turma composta de enfermeiras, assistentes sociais e outras ocupações profissionais, inclusive lotadas no hospital universitário, não tinham conhecimento do fato”, conta.

Posição semelhante à da pesquisadora, militante e editora do blog População Negra e Saúde, a enfermeira Emanuelle Góes. Ela também acompanha a PNSIPN e concorda com o impacto benéfico, afirmando que os movimentos sociais têm sido incluídos nas discussões. “O que observo que há uma oscilação da implementação da política”, explica. O exemplo que ela dá é de um caso que considera emblemático: “Em um município como Salvador, onde a política parecia consolidada (foi o primeiro município a implementar e produzir ações com resultados de impacto), hoje parece que nem existe, parece que se esvaiu”, revela. Em contrapartida, relata a enfermeira, em estados do Sul do Brasil os ganhos têm sido mais constantes.

Setor privado

Outro desafio, que vai além da PNSIPN no âmbito do SUS, é a rede privada. Para Ângela Brito, nesse ambiente a população negra é ainda mais afetada, seja com o preconceito ou com omissão de dados importantes para mapeamento das doenças que afetam mais a raça. “Nas unidades particulares o racismo se apresenta mais cruel e discriminatório”, ressalta a pesquisadora, que fala sobre outra situação, desta vez no Projeto Glaucoma, desenvolvido pelo SUS em clinicas oftalmológicas. “Embora a doença seja prevalente da população negra, o projeto não é voltado, especificamente, para ela. O que mais chama atenção é a não declaração do quesito cor. Como faço parte desse projeto, questionei a atendente, ao preencher a ficha, e ela disse ‘não ser necessário, porque ele sabem que a maioria é negra’. Acredito que esses ‘pequenos’ detalhes irão fazer a diferença nos dados estatísticos”.


No serviço de saúde particular, as questões questões 
discriminatórias ligadas à raça são ainda mais complexas,
 segundo Emanuelle Góes
Emanuelle Góes diz que ainda é complicado ter acesso e identificar questões discriminatórias ligadas à raça em um serviço privado, por isso as informações sobre este assunto são de difícil acesso. Contudo, também chama a atenção para a não determinação da cor do paciente na rede particular. 

Para ela, esse comportamento também está ligado a uma desconexão entre público e privado na saúde. “A questão são os limites e os interesses primeiro da negação do racismo, tanto no espaço público ou privado, e segundo a esfera privada não se sente parte do SUS e não se sente obrigada a seguir as políticas do SUS, a não ser quando tem a ver com financiamento/recurso. Pelo menos essa é a minha sensação”, opina a pesquisadora.

Para ambas as militantes, em todas as questões envolvidas é necessário que a PNSIPN chegue de modo mais amplo e claro aos profissionais e aos pacientes. “A política ainda precisa alcançar a ponta, as pessoas, as comunidades de forma efetiva. Precisa descer e chegar e fazer parte da rotina do atendimento e do cuidado”, comenta Emanuelle Góes. “O que realmente nos falta é a divulgação dessa política para a população, de forma geral, nos meios de comunicação. Não só na mídia especializada, mas em meios mais populares. Sei que é difícil tarefa, mas é necessário que o assunto seja “popularizado” e, aí sim, discutido”, completa Ângela Brito.

Confira o vídeo oficial da campanha de enfrentamento de racismo no SUS:

Defesa Civil declara estado de emergência no DF; umidade chegou a 11%

Para esta segunda-feira (21/9), a previsão é de umidade também a 15% e temperatura máxima de 34ºC

A Defesa Civil declarou neste domingo (20/9) estado de emergência no Distrito Federal por causa do tempo seco e úmido registrado durante o fim de semana. O órgão divulgou nota em que afirma que a umidade relativa do ar atingiu o índice mínimo de 11% em dois dias consecutivos. No início de setembro, o órgão havia decretado estado de alerta na capital federal também por causa da baixa umidade do ar.

No entanto, os dados da Defesa Civil e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apresentaram diferenças. Para o Inmet a taxa caiu a 15%, no sábado, e a 14%, hoje. Para esta segunda-feira (21/9), segundo o instituto, a previsão é de umidade também a 15% e temperatura máxima de 34ºC.

O clima seco favorece ainda as queimadas. Na primeira semana de setembro, a capital federal registrou mais áreas destruídas pelo fogo do que em todo o ano passado. Desde o começo de 2015 até o dia 3, o Corpo de Bombeiros combateu 7.522,24 hectares de regiões atingidas pelas chamas. O valor supera em 12 hectares o ano de 2014, quando o total foi de 7.414,47. Em agosto, foram registrados uma média de 49 casos por dia.