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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

“Pentes” cumprem seu papel e passam pela cabeça de Brasília.

Créditos: Tatiana Reis/Divulgação. Cena do espetáculo Pentes.

A companhia Embaraça mandou bem seu recado na peça “Pentes”.

Por Vinicius Dias,
Na peça de 60 minutos o trio de três atrizes negras se apresenta com figurino branco. Juntamente com o trio de músicos “Protofonia”, que fazem o enredo musical de toda a peça, ao vivo, e com o melhor que sabem: uma melodia deliciosa de ruídos, quebras de compasso e “enganos propositais”. O encaixe não poderia ser melhor!

A temática abordada em Pentes também é cheia de ruídos, quebras de compasso, “enganos propositais” e não ditos. A peça se debruça sobre um tema caro à população brasileira: O cabelo crespo. E não para por aí! Falar de cabelo crespo no Brasil é falar diretamente de preconceito, racismo, auto estima e valorização da identidade negra. Temas estes que nem mesmo o feminismo clássico abarca e que por isso muitas mulheres negras não se vêem representadas sobre a bandeira do “feminismo”.

Na cidade setorizada, o público miscigenado lotou o primeiro dia de espetáculo no SESC Garagem. Soluços entre uma cena e outra denunciavam um público emocionado. Um homem branco abraçava sua companheira negra que deixava a “lágrima clara cobrir a pele escura” e escorrer brilhante. O texto não era ficção, sentia-se a força da verdade ser cuspida, sem deixar a dúvida de racistas brotar com a indagação que aqui seria uma terra de iguais, pois não é! Os risos diante das esquetes deixava isso claro: enquanto alguns sorriam outros choravam!

As atrizes Ana Paula Monteiro, Fernanda Jacob e Tuanny Araujo mostram que cabeça “não foi feita só pra usar boné”, mas que uma cabeleira crespa bem penteada com pente garfo incomoda muita gente. Nada mais oportuno diante do estardalhaço que deu a atriz Taís Araújo ter sido vítima de racismo em sua página do Facebook. Pentes vai além de uma mensagem de #maisamorporfavor ou #somostodasfulanas. As atrizes ecoam suas vozes enquanto mulheres negras de Brasília (cidade onde um jovem negro tem 6,5% mais chances de morrer que um jovem branco). Através de suas experiências compartilhadas (características predominante no empoderamento negro feminino) descobrem que são lindas não estando na Globo, sem fazer os diversos tipos de chapinhas que o mercado impõe e que ter seu cabelo natural é um ato político.

O tema é abrangente: cabelo crespo pintado de loiro, o fenômeno das “cacheadas”, mais volume, creme, desembaraçamento…Contudo as meninas não passam nenhuma lição de moral, mas as diversas possibilidades da mulher negra se sentir bem. A alternativa é importante. A imposição não (característica primordial do patriarcado branco).

Se você está sentindo sua mente embaraçada sugiro que vá assistir a peça “Pentes” e não tenha medo de rir ou de chorar. O importante é arejar o pensamento e refletirmos sobre o nosso racismo de cada dia.

As meninas vão mexer com sua cabeça! Depois das duas apresentações no Plano Piloto de Brasília (Área central da cidade) irão para a periferia, nas cidades de Ceilândia, Taguatinga, Gama e Vila Telebrasília.

Preparem suas cabeças.

Fonte: Favelapotente.

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