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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

#meuamigosecreto e a impossibilidade do diálogo com abusadores


Há dois dias a campanha #meuamigosecreto começou a aparecer no Facebook e logo virou um dos assuntos mais comentados na imprensa e nas redes sociais. A hashtag tem sido usada por mulheres para denunciar comportamentos machistas praticados por amigos, familiares e até namorados.

Como toda iniciativa criada pelas mulheres, a campanha incomodou os antifeministas, em especial muitos homens. Alvos das denúncias, muitos deles vestiram as carapuças e passaram a destilar críticas aos depoimentos e a se apropriar da tag para desvirtuar a campanha para outros vieses. Como acontece sempre numa sociedade marcada pelo machismo como a nossa, os homens, com seus egos feridos, medo da exposição e da “ameaça” feminina, não aguentaram ter a atenção desviada de seus umbigos e sentiram a necessidade de silenciar as nossas declarações, como acontecera há algumas semanas com a hashtag #meaculpa.

Eles criticam, dizem que estamos generalizando. Nem todo homem é assim, afirmam como também querem que acreditemos que nem todo homem é um estuprador em potencial. Eles dizem que é exagero, assim como nos acham exageradas quando reclamamos dos assédios nas ruas. Eles acham que estamos dando indiretas, fomentando o ódio, criando intriga ou querendo chamar atenção. Dizem que fazemos isso para atingi-los. Mas o que eles se recusam a entender é que dessa vez isso não é sobre eles. Não. Isso é sobre nos amar, nos proteger, cuidar e respeitar. Isso tudo é para termos a certeza que nenhuma outra precise passar por situações de violência de gênero e machismo novamente. Aceitem, isso definitivamente não é sobre vocês.

Há também quem diga que desabafar no Facebook não dá resultado. Mas o que significa, então, essa rede de apoio que têm se formado nos grupos e conversas em que compartilhamos as nossas histórias e as identidades desses agressores? O que é isso, senão um espaço onde convergem as vozes femininas em prol de um bem maior? Isso não é nada? Não, isso é revolucionário! É um momento catártico em que muitas mulheres se dão conta que o inimigo a ser combatido é o mesmo para todas nós. Este é o momento em que deixamos de nos enxergar como rivais – lugar que o patriarcado prefere nos ver-, e estendemos as mãos umas para as outras, nos abraçando e nos unindo contra essa força tóxica e no combate ao racismo e ao capitalismo. E não há retorno.

Estamos lado a lado, tomando partido sim! Porque, se não nós, quem então? Quem entende melhor o que é ser desrespeitada por quem se ama? E quem, se não nós mesmas, para nos ajudar a abrir os olhos?

Parte desses sustentáculos surgidos nas redes sociais vem de grupos formados por mulheres fora dos padrões, aquelas cujas opressões e exclusões são normalizadas. São mulheres negras, gordas, lgbt, que compreendem mais que nenhuma outra as dores das violências diárias. As particularidades vividas por essas mulheres, em especial no que se diz respeito às relações afetivas, levaram algumas a incorporar a hashtag #meunamoradosecreto, já que os relacionamentos amorosos destas, quando existem, são mantidos a sete chaves pelos parceiros. 

Nesse caso, apesar de se tratar de uma questão individual, é impossível não perceber a influência do patriarcado, que segue controlando nossas vivências como indivíduos, mas também como coletivo.

E ao entendermos isso, nós mulheres, juntas, acordamos para a possibilidade que temos nas mãos de mudar o atual contexto.

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Imagem da página "Meu Amigo Secreto é:"




Júlia Freitas é Assessora de Juventude e Culturas Digitais

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