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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Meu peito preto sangra – extermínio da juventude negra


Meninos negros: nunca suspeitos, sempre culpados
Em memória de:

Roberto Silva de Souza, 16 anos

Carlos Eduardo da Silva de Souza, 16 anos,

Cleiton Correa de Souza, 18 anos,

Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos

Wesley Castro Rodrigues, 25 anos

Pablo Nascimento, 17 anos

Mike Brown, 18 anos

Arão de Paula Santos, 23 anos

Luan Lucas Vieira de Oliveira, 20 anos

Elenilson Santana da Conceição, 22 anos



“Caminhando pelas ruas

Eu posso ver claramente

Oh Senhor

Outro corpo cai

Alguém foi atingido

Oh Senhor

Me diga, Você pode me ouvir?

Eu preciso saber, Você pode me ouvir?

Oh Senhor”


A CPI que objetivou apurar as denúncias sobre o genocídio da juventude negra no Brasil, concluiu que “essa parcela da população negra vem sendo vítima de um genocídio simbólico”. Mas não são símbolos que sangram. Não são corpos simbólicos caídos no chão. Não são hologramas as vidas retiradas em Salvador, em Belém, no Rio de Janeiro nem em Chicago. São corpos negros jovens que sangram e são expostos depois em lágrimas doloridas nos cemitérios. São peitos de mães negras que sangram e gritam em nome de algum deus que isso faça sentido. Não faz. Nunca fará!

Alguns dados deste “genocídio simbólico”:

Segundo dados do PNDU 33 mil pessoas negras foram mortas em 2010.

O Mapa da Violência publicado em 2015 afirma que o homicídio de jovens negros saltou de 17.499 para 23.160 entre 2002 e 2012.

Na última semana, 111 tiros disparados contra 5 jovens negros na Zona norte do Rio de Janeiro.


111 TIROS

São número que amendrontam, todos os dias, milhares de mulheres negras que temem entrar para essas estatísticas nacionais: de mães que tiveram seus filhos negros executados pelas forças repressoras do poder público, as polícias (militar, municipal, federal e civil) e pelas forças armadas. As ocorrências que são divulgadas pela grande mídia, nem passam perto das centenas de execuções diárias. As famílias negras que vemos chorando nas tvs e nos jornais, a cada vez que algum episódio é divulgado, representam as milhares de mães que passam dias e noites tensas enquanto seus filhos não estão em casa.

Os cinco jovens negros executados sábado passado (28/11) em Costa Barros, no Rio de Janeiro, são exatamente o resumo desse dolorido cenário e corriqueiro. Os cinco jovens estavam em comemoração, dentro de um carro, a caminho de um lanche. Era o primeiro salário de um deles, o primeiro emprego como Jovem Aprendiz. E os sábios de plantão insistem em dizer que basta querer mudar de vida, que as oportunidades estão aí para todos.

TODOS QUEM?

As fotos divulgadas da execução dos meninos dilacera e desestrutura a cabeça e o coração de qualquer mãe que tenha filho negro, por sabe que seu filho poderia estar ali dentro. Elas podem ser somadas aos álbuns de fotos das saudades que estas mulheres jamais deixarão de sentir, pois estes jovens jamais chegarão de novo.
“A DOR DE MANDAR PRA ESCOLA, DE SABER QUE PODE SER O PRÓXIMO, QUE ELE NÃO VAI CRESCER, E SE CRESCER O SENTIMENTO DE MEDO JAMAIS PASSARÁ”
(Maria Rita Casagrande, mãe de Pedrinho, de 9 anos)

A essa dor, unem-se a dona Tereza no Rio, dona Suzana em Belém, dona Glória em Manaus, dona Zilda em Barueri (SP) ou dona Marina em Salvador, são algumas destas mães de filhos negros que sequer tiveram a chance de se despedir dos moleques. Todos executados pela Polícia Militar e em situações diversas.

Diuturnamente, centenas de jovens negros, especialmente os meninos, são alvejados pelas polícias sem qualquer motivo que justifique tantas execuções, afinal, não estamos em guerra, certo?

SERÁ?

O cenário de execuções de jovens negros no Brasil é maior do que em muitos países que vivem oficialmente em guerras. Mas há quem diga que o movimento negro inventa ou aumenta essas informações, porém, feliz ou infelizmente, já existem instituições publicando dados qualificados e mostrando algo que vem sendo dito desde a abolição da escravidão negra no Brasil: os jovens negros não tem o luxo de planejar a vida, pois se depender do poder público, não haverá vida para o jovem negro brasileiro. 

Existe uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de São Carlos, com a Polícia Militar de SP, que evidencia bastante o racismo da instituição, pois os policiais consideram como suspeito o homem negro, de qualquer idade. A descrição física do criminoso suspeito tem a pele preta e isso é tão real que em 2013 a PMSP distribuiu um folheto com dicas de segurança pública no qual o criminoso era ilustrado como um homem negro.

Há quem diga que no Brasil não existe pena de morte. Mas o que se vê contra a juventude negra são penas de morte muito bem estruturadas. É jovem, é preto, é bala. E a PM tem autorização e legitimidade para a prática destas penas de morte por meio dos Autos de Resistência, que dá impunidade aos policiais homicidas. E a execução dos 5 garotos no Rio de Janeiro a PMRJ tentou forjar um auto de resistência, fraudando a cena do crime para implantar uma falsa prova. Por sorte, destas vez as testemunhas não calaram, não foram vencidas pelas repressões. 

O Brasil está na onda mundial para a militarização das polícias. A cultura do “atirar para matar” tem ganhado força e sido cada vez mais mais ampliada pelo poder público. É novamente o país se colocando em situação de guerra, sem estar em guerra oficialmente, pois a cultura do “shoot to kill” foi criada para o combate a homens-bomba em Tel Aviv.

As milícias estão autorizadas a matar onde a PM tem dificuldade de aparecer à luz do dia. E os noticiários cobrem as mortes como “guerra entre traficantes”, “vítimas do tráfico”, onde todas as provas são forjadas ou retiradas do local do extermínio, corpos são mutilados ou escondidos e as vítimas (negras e jovens) tem qualquer relação com o crime organizado.

Não é simbólico, prezados deputados. E real. E dói em cada peito preto desse país. A nossa denúncia vai continuar. E se o Estado brasileiro se recusar a reparar tudo o que temos perdido, nós cobraremos cada vez mais, não nos peçam retidão, porque o que nós temos é muita raiva. Mesmo sabendo que esses meninos não voltarão e mesmo entendendo que essa dor nunca passará.

Os Governos, a Polícia Militar, as Secretarias de Segurança PRECISAM ser acionadas junto aos órgãos internacionais e cobradas por esse extermínio. Continuaremos a lutar por vocês, meninas e meninos negros. Por todos vocês que tiveram suas vidas ceifadas, nos perguntando sempre quais eram seus sonhos, seus anseios e futuro. Não nos calaremos, não desistiremos nem por um segundo. Resistiremos.

A exemplo de que nunca deixaremos de cobrar, são alguns atos que acontecerão amanhã no Rio de Janeiro e em São Paulo e para os quais CONVOCAMOS o povo preto, essa dor é nossa, essa luta é nossa, a rua é nossa e temos o direito de exigir que este genocídio acabe.






Chacina de Costa Barros: por que são as famílias que têm de dar explicações?


“Meu filho terminou o curso técnico”. “Meu filho fazia inglês”. “Meu filho era estudante”. “Meu filho estava comemorando o primeiro salário no emprego”.

Ao acompanhar o noticiário sobre os cinco jovens negros mortos por policiais em Costa Barros no fim de semana, reencontro frases que ouvi tantas vezes, nas bocas de outras mães e outros pais que perderam seus filhos de modo semelhante.

“Meu filho era tão bom, era trabalhador, estudava…”, costumava dizer Euristeia Azevedo sobre o filho William Keller Azevedo, assassinado em outubro de 1998 no episódio que ficou conhecido como Chacina do Maracanã.

Entrevistei-a em reportagens sobre mães que cobravam justiça para mortes violentas no Rio. Eu estava num plantão de sábado quando, na ronda telefônica para hospitais e delegacias, soube das mortes. Na estatística, era mais um caso. Para Euristeia, era o filho dela, um filho bom, morto aos 24 anos.

Noutro plantão de sábado, em maio de 1999, mataram Rodrigo Marques da Silva, de 15 anos, numa operação da PM no morro da Coroa. A mãe, Edilamar da Silva, transformou-se em ativista contra a violência policial.

“Já estão até dizendo que acharam uma arma com meu filho”, ela dizia. “Não quero dinheiro do Estado, quero que tirem essa calúnia. Meu garoto não era traficante”.

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Image captionFamiliares e amigos levam caixão de um dos cinco jovens mortos no sábado no Rio

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Esqueci de lhe dizer que, se fosse, o filho teria de ser preso e julgado, não assassinado.

Em agosto e setembro de 2000, grávida, persegui pelo Rio o então relator da ONU contra a tortura, Nigel Rodley, até ele me confirmar o que eu já sabia: ao visitar um presídio do Rio, Rodley encontrou detentos que haviam sido espancados.

Sua grande crítica era ao fato de a polícia investigar a polícia: “Há um problema quando a iniciativa da investigação fica a cargo da polícia ou quando só a polícia tem autorização para investigar, principalmente quando é a polícia que está sendo investigada”.

Lembrei-me de ‘sir’ Nigel ao observar como demorou a cair o comandante do 41º Batalhão da PM, ao qual pertencem os policiais que deram ao menos 50 tiros no Palio em que estavam os cinco jovens de Costa Barros.

Era desse mesmo batalhão o sargento que, em outubro, atirou em dois mototaxistas ao confundir com uma arma o macaco hidráulico que um deles carregava. Os dois rapazes morreram.

Outra relatora da ONU, Asma Jahangir, especialista em execuções sumárias, impressionou-se com os relatos de violência policial no Estado ao visitar o Rio em outubro de 2003.

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Enterro de um dos jovens reuniu dezenas de pessoas no Rio

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Foi nessa época que conheci Márcia de Oliveira Silva Jacinto, mãe de Henri Gomes de Siqueira, morto aos 16 anos numa ação da PM no Lins. O rapaz tinha morrido já fazia quase um ano, e Márcia contava que ainda ouvia um “Mãe, cheguei!”, quando entrava em casa.

“Meu filho levou um tiro no peito. Disseram que ele tinha um revólver e maconha, mas sei que era inocente”.

Recém-chegada ao Rio, desde 1994 eu mergulhara na cidade pós-chacinas da Candelária e de Vigário Geral, ambas do ano anterior. Cobri a guerra entre traficantes e os assassinatos cometidos por policiais.

Em outubro de 1994, uma operação da Polícia Civil na favela Nova Brasília acumulou 13 mortos. Só três tinham antecedentes criminais, no mínimo dez levaram tiros na cabeça.

Nova operação policial, em maio de 1995, matou 14 na mesma favela. Na casa onde morreram dez das 14 vítimas, vi sangue escorrendo pelo chão e pelas escadas, paredes vermelhas de sangue, macabramente salpicadas de massa encefálica.

“Eles pediam para não morrer, diziam que iam se entregar”, segredou um morador.

Image copyrightReuters

Ecoam as vozes de mães, pais, irmãos e amigos de muitas épocas: era inocente; estudava inglês; fez curso técnico; era um bom garoto. Ouvi e ainda ouço justificativas e alegações, em defesa da honra dos filhos mortos.

Nas comunidades pobres, diante da escola que não atrai, à espera do emprego que custa a aparecer e sem chance frente a uma polícia que mata, os jovens convivem com a marginalidade. Muitos são tragados por ela. Alguns margeiam a delinquência, experimentando pequenos delitos. Outros, a maioria, ganham a vida honestamente.

As famílias sabem disso, e por isso o desespero de pais e mães que se sentem obrigados a provar a inocência dos filhos, exibindo o recibo do curso quase concluído, a carteira de trabalho recém-assinada, a apostila de inglês…

É digna e comovente a atitude das famílias. Porém, mesmo se fossem criminosos, os jovens de Costa Barros não podiam ter sido fuzilados. Estavam desarmados, não ameaçaram os policiais. Tinham de 16 a 25 anos.

Mas aceitamos, publicamos, seguimos, acostumados que estamos a uma argumentação torta, segundo a qual famílias devastadas pela tragédia da morte de um jovem é que têm que dar explicações.

Fonte: BBC.

Minha maternidade tem cor: mães negras na luta contra o racismo

Ainda grávida, a mulher negra sofre o racismo institucional
presente em muitas instituições públicas e privadas de saúde.
Parir essa criança e passar por um enfrentamento diário. 

por *Lorena Morais,
“Depois de colocá-la em uma escola particular, em menos de um mês de aula, minha filha – na época com cinco anos – queria ser branca, ficava procurando qual parte de sua pele era branca”. Para Meires Barbosa, universitária, esse tem sido um dos maiores desafios da maternidade negra: o enfrentamento ao racismo.

E ela tenta superá-lo mostrando a sua filha Sara, hoje com 8 anos, referenciais negras que vão da estética até aos produtos que consome. “Procuro sempre mostrar para ela que somos bonitas com nossos cabelos crespos. Falo o que passou com o nosso povo, procuro desenhos, brinquedos e livros relacionados à temática racial”, pontua.

Meires sofreu muito preconceito na infância e sua família até hoje não dialoga sobre racismo. Mas ela jurou que com sua filha seria diferente. Está pronta para lutar e “mostrar a beleza da cor, cabelo e traços negros sem abaixar a cabeça”.

O desafio da maternidade negra que começa desde a gestação e passa pelo aborto com um tema central: o racismo. Desde o institucional, que nega o acesso a serviços de saúde, expõe a mulher negra a diversos tipos de violência obstétrica e não garante informações como aleitamento materno.

A redução da morte materna ainda é um desafio que não foi superado no país e as estatísticas mostram que as mulheres negras são maioria em óbitos. O Relatório Socioeconômico da Mulher – Ano 2014, elaborado pelo Governo Federal, comprovou que a população negra é a que mais morre por causas obstétricas (62,8% de mulheres negras x 35,6% das mulheres brancas).

Racismo na escola

Diante dos dados que mostram o alto índice de mortalidade, para a mulher negra que sobrevive a esse fato, criar seus filhos e filhas significa lutar contra o racismo na família, na rua e, principalmente, na escola; local de frequente reprodução dessa violência.

“Meu filho ganhou um tênis de marca e o colega da escola perguntou se era falsificado. No dia seguinte ele não queria mais calçá-lo. Eu disse que ele tinha que ir”, enfatizou Jadsiane dos Santos, diarista, mãe de três meninos e uma menina.

Para ela, o racismo vem junto com o fator social já que sua família é de baixa renda. Os filhos estudam em colégios particulares custeados de forma colaborativa entre a família, mas não podem participar de todos os projetos e são o tempo todo ironizados pelos colegas de classe.

Casos de racismo na escola vem ganhando repercussão porque muitas mães não silenciam mais. Umas acionam o Ministério Público – principalmente quando a escola minimiza e abafa os casos – ou conversam com a diretoria, expõem o problema, buscam alternativas e sugerem temas e atividades para dialogar em sala de aula, já que muitos professores e professoras não se sentem preparados.

Mães como Meires, que encontrou um caminho para conversar sobre racismo com a turma de sua filha: “Dei algumas indicações de literatura infantil e a professora desenvolveu um trabalho com toda a turma”.

O que podemos fazer por nossas crianças?

Eu sou mãe e sei que meu filho não estará blindado contra o racismo o tempo todo, mas preciso prepará-lo de alguma maneira. Para nós é importante estabelecer este papel de reconhecimento da identidade racial com as crianças e trabalhar o enfrentamento e fortalecimento.

Referenciais são importantes: livros que tragam personagens negros/negras em papéis principais, convívio com pessoas que valorizem a estética negra, frequentar ambientes em que os negros/negras estejam em uma posição de destaque, assistir programas de televisão e filmes que mostrem uma realidade contra-hegemônica e de protagonismo negro, o diálogo diário e palavras de fortalecimento, dentre outros. Precisamos buscar conhecer e contar a história a partir do nosso ponto de vista, tendo a consciência que é um trabalho contínuo.

Esses referenciais são importantes para nosso fortalecimento e reforça o laço da maternidade na luta pelo enfrentamento diário. Representatividade é importante!

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*Lorena Morais é mãe, negra e jornalista

#meuamigosecreto e a impossibilidade do diálogo com abusadores


Há dois dias a campanha #meuamigosecreto começou a aparecer no Facebook e logo virou um dos assuntos mais comentados na imprensa e nas redes sociais. A hashtag tem sido usada por mulheres para denunciar comportamentos machistas praticados por amigos, familiares e até namorados.

Como toda iniciativa criada pelas mulheres, a campanha incomodou os antifeministas, em especial muitos homens. Alvos das denúncias, muitos deles vestiram as carapuças e passaram a destilar críticas aos depoimentos e a se apropriar da tag para desvirtuar a campanha para outros vieses. Como acontece sempre numa sociedade marcada pelo machismo como a nossa, os homens, com seus egos feridos, medo da exposição e da “ameaça” feminina, não aguentaram ter a atenção desviada de seus umbigos e sentiram a necessidade de silenciar as nossas declarações, como acontecera há algumas semanas com a hashtag #meaculpa.

Eles criticam, dizem que estamos generalizando. Nem todo homem é assim, afirmam como também querem que acreditemos que nem todo homem é um estuprador em potencial. Eles dizem que é exagero, assim como nos acham exageradas quando reclamamos dos assédios nas ruas. Eles acham que estamos dando indiretas, fomentando o ódio, criando intriga ou querendo chamar atenção. Dizem que fazemos isso para atingi-los. Mas o que eles se recusam a entender é que dessa vez isso não é sobre eles. Não. Isso é sobre nos amar, nos proteger, cuidar e respeitar. Isso tudo é para termos a certeza que nenhuma outra precise passar por situações de violência de gênero e machismo novamente. Aceitem, isso definitivamente não é sobre vocês.

Há também quem diga que desabafar no Facebook não dá resultado. Mas o que significa, então, essa rede de apoio que têm se formado nos grupos e conversas em que compartilhamos as nossas histórias e as identidades desses agressores? O que é isso, senão um espaço onde convergem as vozes femininas em prol de um bem maior? Isso não é nada? Não, isso é revolucionário! É um momento catártico em que muitas mulheres se dão conta que o inimigo a ser combatido é o mesmo para todas nós. Este é o momento em que deixamos de nos enxergar como rivais – lugar que o patriarcado prefere nos ver-, e estendemos as mãos umas para as outras, nos abraçando e nos unindo contra essa força tóxica e no combate ao racismo e ao capitalismo. E não há retorno.

Estamos lado a lado, tomando partido sim! Porque, se não nós, quem então? Quem entende melhor o que é ser desrespeitada por quem se ama? E quem, se não nós mesmas, para nos ajudar a abrir os olhos?

Parte desses sustentáculos surgidos nas redes sociais vem de grupos formados por mulheres fora dos padrões, aquelas cujas opressões e exclusões são normalizadas. São mulheres negras, gordas, lgbt, que compreendem mais que nenhuma outra as dores das violências diárias. As particularidades vividas por essas mulheres, em especial no que se diz respeito às relações afetivas, levaram algumas a incorporar a hashtag #meunamoradosecreto, já que os relacionamentos amorosos destas, quando existem, são mantidos a sete chaves pelos parceiros. 

Nesse caso, apesar de se tratar de uma questão individual, é impossível não perceber a influência do patriarcado, que segue controlando nossas vivências como indivíduos, mas também como coletivo.

E ao entendermos isso, nós mulheres, juntas, acordamos para a possibilidade que temos nas mãos de mudar o atual contexto.

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Imagem da página "Meu Amigo Secreto é:"




Júlia Freitas é Assessora de Juventude e Culturas Digitais

Há 60 anos, Rosa Parks se recusava a ceder lugar a um homem branco em ônibus


Há 60 anos, a costureira Rosa Parks se tornou referência na luta antirracismo nos Estados Unidos.

Por Andréa Martinelli,
Na década de 50, em Montgomery, no Alabama, as leis de segregação racial ainda regiam a vida das pessoas.

E era comum que uma mulher negra ficasse escondida e em segundo plano quando próxima de uma mulher ou homem branco em algum ambiente público ou até mesmo na rua. Mas em 1 de dezembro de 1955, Parks fez história.

Naquela época, as primeiras filas dos ônibus eram, por lei, reservadas para passageiros brancos. Atrás ficavam os assentos permitidos para negros.

Rosa Parks utilizava um desses ônibus para ir e voltar do trabalho. Neste dia, ela sentou-se em um dos lugares reservados aos brancos.

Quando o motorista exigiu que ela e outros três negros se levantassem para dar lugar a brancos que haviam entrado no ônibus, Parks se negou a cumprir a ordem.Ela continuou sentada e, por isso, foi detida e levada para a prisão.


A atitude de Parks motivou um boicote aos ônibus da cidade e milhares de negros se recusaram a tomar ônibus a caminho do trabalho o que provocou protestos em diversos locais do país. O The Guardian lembrou o momento em imagens.

Dez anos depois, o movimento negro ganhou ainda mais força ao lado de Martin Luther King — em 1965 aconteceu a marcha de Montgomery até a cidade de Selma, que virou até filme — ganhador do Oscar de melhor música em 2015 –.

A partir destas e outras ações, foram estabelecidas as Leis dos Direitos Civis, que trouxeram melhorias para a vida dos negros. Mas, ainda hoje, a disparidade social nos EUA é grande.

Fonte: Brasil Post .

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

ATO CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO (03/12)


Roberto de Souza Penha, 16 anos. Carlos Eduardo Silva de Souza, 16 anos. Cleiton Correa de Souza, 18 anos. Wesley Castro Rodrigues, 25 anos. Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos. Estes são os nomes dos cinco jovens assassinados pelo Estado, sem direito algum de defesa. 

Cinco famílias dilaceradas. Cinco sonhos interrompidos. 

Mais uma violenta ação policial no Rio de Janeiro atingiu jovens negros que "ousavam" se divertir, celebrar o primeiro salário de um deles. Exerciam o direito de ir e vir, quando o braço armado interrompeu o trajeto.

É urgente a necessidade de resistir ao genocídio praticado pelo Estado, principalmente por meio de forças policias, contra o povo negro brasileiro. Vamos para a ação!

Quinta-feira: 17h, concentração no Conic e caminhada pela Rodoviária do Plano Piloto.

Levem cartazes. Fotos. Megafones. Mas, principalmente, leve sua indignação e o seu BASTA. Vamos fazer barulho!

INFORMAÇÔES
Data: 03/12 - Quinta-feira
Hora: Concentração a partir das 17:00hrs
Local: SDS CONIC/DF

PMs são presos acusados de matar 5 jovens negros no Rio

Foto de rede social, tirada horas antes do fuzilamento (GuadalupeNews)

Por Douglas Belchior, com informações de Guadalupe News e Extra,
Quatro policiais militares do Rio de Janeiro foram presos acusados de terem assassinado cinco jovens negros na noite do último sábado 28. O crime foi cometido na comunidade da Lagartixa, no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, na zona norte da cidade. Segundo relatos de moradores, os garotos teriam ido fazer um lanche após voltar do bairro vizinho, quando foram surpreendidos por tiros disparados por policiais militares do 41º BPM (Irajá) na Estrada João Paulo. O caso foi registrado na 39ª DP, da Pavuna.


O Palio branco era dirigido por Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos. Ele estava acompanhado por Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, Cleiton Corrêa de Souza, de 18 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16 anos, e Roberto de Souza Penha, de 16 anos. Todos eram negros. Todos foram mortos.

Segundo o site GuadalupeNews, policiais militares usaram luvas para pegar a chave do veículo e tentar abrir o porta-mala. Como não conseguiram, colocaram uma arma de brinquedo sob o pneu esquerdo dianteiro com intensão de forjar a cena do crime.


Os policiais estão presos. Mas e a responsabilidade do Secretário de Segurança Pública? E do governador?

Quatro policiais do 41º BPM foram presos em flagrante. São eles Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos e Antonio Carlos Gonçalves Filho, presos por homicídio doloso e fraude processual, e Fabio Pizza Oliveira da Silva, autuado apenas por fraude processual. As informações são 39ª DP.

Sim, maus policiais devem ser presos e julgados conforme manda a lei. Mas é sempre bom lembrar que há outros responsáveis por esse tipo de ação policial, comuns no Rio e por todo país. Neste caso têm alguma responsabilidade o comandante do batalhão, o secretário de segurança pública e o governador do Estado.

Exagero dizer que se trata de ação comum? A ocorrência chegou à delegacia como “auto de resistência”. A novidade, ou procedimento incomum, está no fato de a Polícia Civil entender de pronto que houve fraude processual. Via de regra, há sempre a tentativa de livrar a corporação das acusações.


Guadalupe News

Jovens, negros, trabalhadores, comemoravam o primeiro salário. Agora estão mortos.
Segundo familiares, em relato feito ao Jornal Extra, os garotos foram comemorar o primeiro salário de Roberto como jovem aprendiz no Atacadão da avenida Brasil. Tinham programado também ir à praia no domingo.

O grupo de jovens estava em um carro com documentação em dia, motorista habilitado e desarmados. O que havia ali que pudesse justificar a ação dos policiais? Serem todos negros?
Para além disso, resta a perplexidade ante a inacreditável capacidade da sociedade brasileira em conviver com o genocídio negro. Perguntaria eu, se pudesse, à tranquilidade coletiva: E se fossem brancos de padrão globo-zona-sul os corpos fuzilados e sem vida?


O rosto do Rio de Janeiro hoje é o de Jorge, pai de Roberto. O rapaz de 16 anos foi fuzilado por PMs quando comemorava 1o emprego com quatro amigos. A polícia matou ao menos 3.400 pessoas no estado desde 2010, 79% eram negras, como esses jovens.

Dia do Samba será comemorado com roda na Rodoviária nesta quarta (2/12)


Em celebração ao Dia Nacional do Samba, comemorado nesta quarta (2/12), a Rodoviária será palco de uma roda de samba com os integrantes dos grupos Adora-Roda, Filhos de Dona Maria, Bom Partido, Samba da Comunidade, Samba na Rua e Samba do Compositor.

A nona edição do projeto vai receber ainda os instrumentistas Lucas de Campos, Vinícius Magalhães e os intérpretes Teresa Lopes, Cris Pereira, Anna Cristina, Marquinhos Benon, Ana Reis, Kris Maciel, Cássia Portugal, Alessandra Terribili, Nanan Matos, Fernanda Jacob, Milsinho, Naiara Lira, entre outros.

Quarta-feira (2/12), das 16h às 20h, na Plataforma Inferior da Rodoviária do Plano Piloto ( 9293-1685/9979-3002). Entrada franca. Classificação indicativa livre. 


INFORMAÇÕES
Data e horário: quarta-Feira, 02/12/2015
Horário: das 16h às 20h
Local: Rodoviária do Plano Piloto,
Ingressos: De graça
Classificação indicativa: livre

Fonte: metropoles

Jovens cobram o fim do racismo no 1º encontro Crespo do DF e Entorno


A ordem foi ressaltar a beleza dos fios crespos e abrir espaço para que pessoas que sofrem com o racismo pudessem compartilhar vivências

por Raquel Martins Ribeiro,
É tempo de empoderar mulheres e homens para assumirem e valorizarem sua estética negra, caracterizada, por exemplo, pelos cabelos. No 1º Encontro Crespo do DF e Entorno, realizado no Eixão Sul durante todo o domingo (29), a ordem foi ressaltar a beleza dos fios crespos e abrir espaço para que pessoas que sofrem com o racismo pudessem compartilhar vivências.

“É importante ocupar o centro de Brasília para reivindicar os nossos direitos. Principalmente em um evento organizado basicamente por mulheres negras, que são quem mais sofre com esse padrão que quer nos embranquecer”, ressalta Janaina Candido, publicitária e uma das organizadoras.

Para Janaina, essa é uma ótima oportunidade para que as negras vejam que não estão sozinhas. “Nós não nos vemos na televisão nem nas capas de revista. Aqui, temos representatividade e fortalecemos nossa resistência”, considera. 

O encontro foi inspirado na Marcha do Orgulho Crespo de São Paulo. Neomisia Silvestre, uma das organizadoras do evento paulista, lamentou que questões burocráticas tenham impedido que o formato da ação na capital federal fosse, de fato, uma marcha. “São muitas dificuldades e embargos sempre que tentamos fazer algo. É necessário questionar isso também. Mas levaremos como um aprendizado, e no ano que vem, a marcha de Brasília acontecerá’, promete.

Identidade

Ao todo, cerca de 60 pessoas participaram de atividades como oficina de turbantes, maquiagem e pinturas africanas, além de aula de charme, estilo musical que remete ao R&B. “Talvez essa troca tenha mais valor que a marcha em si”, conclui Neomisia.

Para os participantes, manter o cabelo crespo é também um ato político ao desafiar um padrão de beleza que exclui e diminui a autoestima das pessoas. “Precisamos ter representatividade em todos os lugares. Queremos a aceitação sem diminuição ou objetificação. Que cada negro se sinta lindo da forma como é”, afirma Neomisia.

A servidora pública Sônia Palhares, 54 anos, é militante negra há mais de 20 anos. Para ela, houve avanços, mas a verdadeira igualdade ainda está longe: “A evolução é lenta. É um processo de acúmulo. Mas hoje, pelo menos, nosso movimento tem mais espaço, e conseguimos atingir mais pessoas. Devemos essa visibilidade muito às redes sociais. Não só para divulgar, mas até para captar recursos”.

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*Raquel Martins Ribeiro
raquel.martins@jornaldebrasilia.com.br

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

Médico que chamou técnica de ‘pretinha da senzala’ é condenado


Ele cuspiu e deu tapa na profissional, além de ficar de cueca na delegacia. Incidente aconteceu em Taguatinga/DF em 2010; indenização é de R$ 8 mil

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal condenou um médico a três anos e três meses de prisão por ofender uma técnica em enfermagem com as palavras “neguinha, burrinha, sujinha e pretinha da senzala”. O incidente aconteceu quando ele acompanha a mulher em uma cesariana, depois de a profissional pedir ajuda para passar a paciente da maca para uma cama. Levado à delegacia, o homem abaixou as calças até os joelhos e ficou só de cueca na frente dos policiais. Cabe recurso à decisão.

Pela sentença, o médico também deverá indenizar a técnica em R$ 8 mil. O crime ocorreu em uma clínica de Taguatinga. Na sentença, o juiz disse que o homem deveria estar preparado para conviver com situações adversas.

“Outros agravantes considerados foram o fato de o crime ter sido praticado no ambiente em que a vítima trabalhava e, além de o acusado xingar a vítima, cuspiu e bateu em seu rosto. Provas demonstraram que a técnica em enfermagem sofreu abalo psicológico, tendo feito, inclusive, uso de medicamento.”

O caso aconteceu em 22 de maio de 2010. Inconformado com o pedido para ajudar a técnica, o homem disse que estava pagando e que a profissional deveria chamar outra pessoa para ajudá-la. Ao sair do quarto para buscar ajuda, a vítima foi seguida pelo médico, que passou a xingá-la e a agrediu.

De acordo com o Código Penal, a pena por injúria varia entre 1 e 3 anos de prisão. Se a investigação apontar que houve racismo, a suspeita pode responder pelos crimes previstos na Lei 7.716, de 1989. Há várias penas possíveis, entre elas prisão e multa. O crime de racismo não prescreve e também não dá direito a fiança.

Por meio do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação, o Ministério Público moveu 43 denúncias de injúria racial no primeiro semestre de 2015. O primeiro caso aconteceu em fevereiro, entre dois servidores do Hospital Regional da Asa Norte.

Campanha
O governo do Distrito Federal lançou neste mês campanha nas redes sociais para conscientizar a população a repensar sobre o uso de “frases [que] parecem engraçadinhas e inofensivas”, mas têm origem racista. Entre os exemplos dados pelo Executivo estão “a coisa tá preta”, “lista negra”, “não sou tuas negas”, “beleza exótica”, “humor negro” e “cabelo ruim”.