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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Religiões de origem africana sofrem com a intolerância


No DF, só neste ano, a Sepir registrou 10 casos de violência contra casas afrorreligiosas. Tema será debatido quarta-feira na Câmara Legislativa

por Rafael Campos,
Cinco de agosto não sai da memória do babalorixá Babazinho de Oxalá. Enquanto fazia compras no mercado, ele foi avisado pela mulher de uma ligação da vizinha, que dizia: “Volte agora para o terreiro. Mas não venha sozinha, chame a polícia”. Ao chegar lá, a cena era desoladora: a maior parte dos materiais usados nos rituais de candomblé, sua religião, estava destruída, portas e janelas arrombadas e vários objetos de uso da casa haviam sido roubados. “A situação, aqui, era de chorar. Tudo arrombado, furtado, quebrado. Os bens materiais, vamos repor. O que dói é ver o sagrado ser tratado dessa forma.”

Há cinco anos como sacerdote do terreiro, que fica em Santo Antônio do Descoberto, município do Entorno, Babazinho disse que jamais havia sofrido ato de violência religiosa tão extremo. Apesar dos prejuízos financeiros terem ficado próximos dos R$ 30 mil, ele garante que nada se compara a ver sua fé tratada dessa maneira. “Para quem não é do candomblé, o que foi destruído pode não ter valor algum. Para nós, é de muita importância. Isso nos agrediu demais.” Embora a Constituição Federal garanta a liberdade de religião como direito fundamental, o ato não é isolado.

De acordo com Coordenação de Enfrentamento ao Racismo da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Sepir), em 2015, já foram pelo menos 10 crimes contra centros religiosos de matrizes africanas praticados no DF e Entorno. O número pode ser maior, já que episódios dessa natureza são registrados dentro dos crimes comuns, independentemente de onde ocorreram. “Fazer essa classificação desses delitos não é tão simples, pois é preciso exortar a crença do outro. A prática do proselitismo religioso é um acinte, mas não é fácil categorizá-la como violência”, diz Carlos Alberto Santos de Paulo, chefe da coordenação.

O poder das bancadas fundamentalistas nos Legislativos espalhados pelo país tem estimulado discussões sobre a laicidade do Estado. No Distrito Federal, audiência pública, marcada para a próxima quarta-feira, debaterá o tema. De acordo com Patricia Zapponi, diretora da Central Organizada de Matriz Africana (Afrocom), a audiência permitirá que representantes das mais variadas crenças exponham as preocupações acerca do que ela chama de política de ódio, que vem sendo estimulada no DF por um grupo de parlamentares ligados a movimentos religiosos.

“Atualmente, há parlamentares querendo equiparar o poder religioso ao político. O Brasil é um país laico, signatário do Tratado da Paz Global da ONU e, desde as Constituições de 1968 e de 1988, o Estado é separado da religião. Por que essa preocupação? Porque o poder político está se confundindo com o religioso.” Patrícia, também candomblecista, explica que os atos de hostilidade não ficam restritos às invasões de terreiros, que são mais de 6 mil em todo o DF. “Um pastor já ficou orando atrás de mim, num dia em que vim trabalhar de torso. Já cantaram hinos de louvor. Está havendo um estreitamento no pensamento das pessoas.”

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Lançamento do documentário "Ah, Branco! Dá um tempo!"







Senhoras e senhores, depois de quase 2 meses a espera acabou!

O projeto multimídia "Ah, branco! Dá um tempo!" explora a experiência de estudantes negr@s. A campanha deu vida a um documentário em parceria com a Pupila Audio-visual.

O objetivo do documentário é dar a voz aos participantes da foto campanha. O projeto publicado no Tumblr, obteve mais de 500 mil visualizações, comentários e compartilhamentos em todo Brasil. A campanha também se espalhou por universidades de todo Brasil

Disponibilizaremos o documentário no Youtube (Neggata), na página da idealizadora da campanha no dia 14/08/2015. Se você estiver em Brasília, contamos com a sua presença no Auditório do IPOL a partir das 18:00 na UnB - Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte.

No mesmo dia também teremos em Brasília o projeto Negras do Brasil com uma edição especial com: Oficina de Turbante e Maquiagem.

SERVIÇO
Data: 14/08 - Sexta-feira (Hoje)
Hora: às 18hrs
Local: Auditório do IPOL, Universidade de Brasília - UnB

Coisa de Preto | 3ª Edição


3° edição chegaaaaando!!!
já vai confirmando e convidando geral

Música - Moda - Feijoada - Vatapá - arte - beleza - amor 

Expositores presentes:

Quer expor??
Contato: feiracoisadepreto@gmail.com

SERVIÇO
Data: 16/08 - Domingo
Hora: De 11:00 às 19:00hrs
Local: Bar Raizes, SCLRN 408 - Bloco D - Loja 40 - Asa Norte

Noite do Acarajé do Grupo Obará










O Grupo Obará convida a todos para uma noite com muito dendê, embalada com os toques da cultura popular Afrobrasileira. 

Os tambores do Obará abrem espaço para os amigos do Boi do Seu Teodoro, Mambembrincantes e os sambistas Kris Maciel, Luciano Ibiapina e Grupo Karamba. 

A quadra da Acadêmicos da Asa Norte vai ter muito samba, e também vai ter ritmos tradicionais da nossa cultura popular como Ciranda, Cateretê, Catira, Samba de Roda, Samba-Reggae, além dos ritmos originários do candomblé Vassi, Agueré, Tonibodé, Savalu, Ilu, Batá. 

Ninguém pode ficar parado nem perder essa festa!

O dinheiro arreacadado será usado para fortalecer as ações de valorização da cultura negra do Grupo Cultural Obará, em oficinas gratuitas de dança afro, percussão, capoeira, canto e teatro na Sala de Dança do Teatro Nacional Cláudio Santoro, nas escolas do DF e no Espaço Cultural Quilombo no P Norte na Ceilândia. Participe e Contribua!

Ingressos antecipados a R$ 10, com direito a um Acarajé. 
Bebidas e outras comidas à venda no local. 
Os ingressos estão sendo vendidos pelos integrantes do Grupo ÓBará
Para mais informações: 61 9134 0826/ 61 8151 3831

SERVIÇO
Data: 15/08 - Sábado
Hora: às 22hrs
Local: Acadêmicos da Asa Norte, Scen Trecho 02 | lote 09

Sarau no Beco


Sarau de inauguração do novo espaço do artista Miguel Mariano Mariano + Estudio de Felipe Rdoze Graffiti Tattoo juntamente com a loja do Espaço Cultural Mercado Sul

SERVIÇO
Sarau no Beco
Data: 15/08 - Sábado
Hora: Das 20hrs à 00hrs.
Local: Mercado Sul, Taguatinga Sul/DF.

CORPOLÍTICA transgride: "Nossa FAMÍLIA vai ser militante, sim!"


Chegou um momento muito esperado de nossas reuniões: Nós vamos chamar nossa FAMÍLIA para discutir com a gente GÊNERO e SEXUALIDADE!

Vamos fazer uma dinâmica muito linda, e logo depois, nós vamos conversar com nossos papais, mamães, vovós, titios, padrastos, irmãos e cachorrinhos sobre o que é ser BIXA, GAY, SAPATÃO, BISSEXUAL, TRANSGÊNERO, TAVESTI, além de falarmos muiiito sobre novas noções de família, saída do armário, afeto, sexo, medo, religião, preconceito e muito mais!

A militância vai se expandir para tocar outros espaços, outras mentes e outros corpos! A militância vai chegar em casa!

Tá na hora da nossa família colocar a cara no sol, erguer a bandeirinha arco-íris, bater cabelo e debater com a gente sobre o que NÓS somos e nossas especificidades!

Vem com tuuudo corpoliticar!

Chame seus parentes, seus amigos/as! Chame geral!
VAI SER BOMBA!

SERVIÇO
Data: 15/08 - Sábado
Hora: às 14hrs
Local: Caseso, Universidade de Brasília - UnB

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Conversando com Lélia Gonzalez


Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2015

Querida Lélia,

Estou falando com você no Centro Cultural Branco do Brasil, do Rio de Janeiro. É o Tributo em sua homenagem e aproveito para agradecer e parabenizar à REDEH – Rede de Desenvolvimento Humano, na pessoa de Schuma Schumaher, que fez o convite para eu dar esse depoimento.

Essa carta é o meu depoimento!

Aliás, as cartas foram abolidas de nossa cultura. Isso mesmo, hoje nossas correspondências são todas na Internet. Lembra-se do Boletim do N’ZINGA? Quando enviávamos pelos Correios? Hoje tudo está no portal, no zap, no link, site … modernidade!

Recentemente assisti a uma palestra de Ângela Davis, que dizia não ter a dimensão do que, aquela ação dos Panteras Negras, representava na época que militava. Hoje, falo o mesmo em relação à nossa atuação no N’ZINGA e à minha convivência com você, na Ladeira dos Tabajaras e em Santa Tereza.

Então me lembrei daquele evento organizado pela Universidade Cândido Mendes, em 1983: Encontro Brasil – África, quando nos depararmos com as fotos sensuais de mulheres negras sambistas, de um jantar de confraternização entre os participantes na noite anterior. Ficamos IRADAS, então algumas mulheres negras que participavam redigiram uma MOÇÃO DE REPÚDIO. O desafio era saber quem leria aquele documento, que expressava nossa indignação. Você aceitou o desafio na hora, já que estaria na mesa.

Foi lindo! Nos sentimos representadas por você. Vimos que nossas falas saiam de sua boca durante o evento.

Você era assim, aliada das mulheres independente do lugar que estivesse ocupando. À época, por ter 23 anos, eu não tinha a dimensão do grande papel que você já representava. Hoje, você precisa saber, não há um Centro Acadêmico, não existe uma militante que não faça referência à sua pessoa e, às suas obras. Virou nossa griot do combate ao racismo e a situação da mulher negra em nosso país e no mundo.

E as coisas aqui não vão tão bem assim, temos tido muito trabalho e muito sofrimento diante de tanta intolerância e racismo. Várias bananas foram jogadas nos gramados de futebol, assassinatos de mulheres negras, estupros, violência obstetrícia, genocídio de jovens negros, potencialização dos xingamentos de “Macaco”, “Crioulo”, “Neguinha”, prisões injustificadas …

E o pior é que imaginávamos o fim do racismo, no entanto a sensação é que estamos “enxugando gelo”… Todos os dias um novo ataque racista acontece.

E isso cansa. E muito!

Poderia citar outros e inúmeros episódios de racismo, mas isso a entristeceria demais e você sempre foi otimista e acreditava nas mudanças das relações raciais no Brasil. Você esperava, como a gente ainda espera e luta, por uma Nação que trabalhasse unida, para acabar com essa prática que tem excluído mulheres e homens negros do acesso aos bens culturais, econômicos, sociais e políticos.

E como você era uma acadêmica política, então teria uma grande decepção em ver os partidos políticos – de esquerda, centro e direita – tentar enrolar nosso povo.

Isso mesmo!

Após anos de reivindicações por políticas específicas, foram criados Organismos de Promoção da Igualdade Racial, que não promovem quase nada, salvo raríssimas exceções. A maioria sem poder, sem dinheiro e sem credibilidade. Usaram – e usam – nossas bandeiras. Se apropriando com fins eleitoreiros e eleitorais, só para ganharem votos.

Tentam calar nossa voz e encarcerar nossa ação!

Mas continuamos resistindo!

Avançamos em alguns pontos: como a Lei das Cotas, que hoje possibilita a inserção de negros nas Universidades e Institutos Federais. E isso me fez lembrar os momentos que me chamava de “tinta fraca”. Você nem imagina, como tem “tinta fraquíssima” e, até “sem tinta” burlando essa lei para obter o benefício.

Pasme, o Brasil ficou muito mais negro, que engloba até os brancos em determinados momentos. Só falta falar “pretuguês”!

Avançamos ainda, na Lei que torna obrigatório o ensino da Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas, mas você sabe como é, essa coisa de lei no Brasil: poucos cumprem. Por isso a luta continua!

Você iria adorar, pois estamos organizando a Marcha das Mulheres Negras – 2015: Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver, que acontecerá em Brasília no dia 18 de novembro de 2015, para reivindicar mais e lutar mais, por políticas públicas sérias e comprometidas com as mulheres negras do Brasil. Negras de todo o país estão se movimentando, discutindo, formando, capacitando e… incomodando bastante!

Estaremos reafirmando nossas bandeiras, nossas esperanças, nossas lutas e você, certamente, estaria conosco nessa!

Vou terminar, pois o tempo é curto, sabe como é, né? Três minutos!

Fica meu abraço, minha admiração e meu lamento por sua ausência aqui, mas eu sei que sempre estará caminhando com a gente.

E fico imaginando você aí, dizendo: “Vamos lá, negadinha!”.

Beijos e saudades! 

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Rosalia de Oliveira Lemos - Doutoranda em Política Social/UFF – Professora do IFRJ - Instituto Federal do Rio de Janeiro - Fundadora da É'LÉÉKÒ - do Disque Racismo/RJ – da CODIM/Nit - Feminista Negra.