Páginas

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Do próprio bolso, professora produz conteúdo afrocentrado


 Joaninha Dias, professora e pedagoga, desenvolve atividades afrocentradas nas unidades de ensino da rede municipal Arthur Souza/LeiaJáImagens
 
A professora e pedagoga Joaninha Dias explora os mais diversos conteúdos produzidos por pessoas negras em classe e impacta famílias
por Maya Santos,
Vinda de uma família majoritariamente negra, Joana de Angelis Dias da Silva, 36, ou Joaninha Dias como prefere ser chamada, exerce sua função como professora e pedagoga contando aos estudantes um outro lado da história brasileira, a história do povo afro-brasileiro.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros (pretos e pardos) representam 54% da população brasileira. Esse dado nos leva ao ano de 2003, que marca um passo importante para a luta da população afro-brasileiro, quando entra em vigor a Lei 10.639/03. Ela versa sobre a inclusão, em todo conteúdo programático escolar, o ensino da história, da cultura e da luta afro-brasileira, além da contribuição do negro na formação da sociedade nacional.

As aulas são ministradas especialmente nas áreas de educação artística, literatura e história brasileira. E, para Joaninha Dias, a lei pauta um viés para luta antirracista na rede de ensino da Região Metropolitana do Recife (RMR), mas que ainda precisa de aprimoramento para tratar dos temas de forma mais eficiente.

A pedagoga revela que o ensino de conteúdo afrocentrado, confeccionado por ela, ajuda “as crianças negras a conhecerem a própria história e também crianças brancas conhecerem a história do povo negro”, enfatiza. Além disso, o material ainda tem a proposta de um futuro com maior respeito e igualdade entre as raças, além de elevar a autoestima das crianças negras.

O início de tudo

Em 2014, foi realizada a feira literária “Erês e Curumis: Pequenos Leitores, Grandes Escritores”, na Escola Municipal Nossa Senhora da Conceição, localizada em Jaboatão dos Guararapes. A feira resultou no “Manual de Atividades com Contos Africanos”, que a pedagoga confeccionou e destinou a profissionais da educação básica trabalharem em classe, uma vez que, segundo ela, o Estado demonstra carência na entrega de material didático pronto para desenvolvimento em sala.

Em contrapartida, a gestora da Gerência de Políticas Educacionais de Educação Inclusiva, Direitos Humanos e Cidadania (GEIDH), Vera Braga, diz que foi instituído pela Secretaria de Educação de Pernambuco (Seduc-PE) um plano para as relações étnicos-raciais, em meados de 2014, junto aos grupos da sociedade civil organizadas, como o Movimento Negro Unificado (MNU).

Braga ainda reforça que, desde 2015, os profissionais das áreas de ensino no Estado passam por capacitações realizadas por equipes, que circulam em 16 gerências regionais para ministrar formações técnicas que capacitem os professores e professoras. Durante o ano, são realizados encontros quinzenais, mensais e trimestrais.

A gestora do GEIDH, Vera Braga, revela que existe um calendário na gerência com sugestões de material a serem trabalhados nas escolas, mas não dispõe de materiais didáticos próprios. A ausência desse conteúdo seria para dar maior liberdade para atuação pedagógica dos professores, principalmente da educação básica. “Apenas damos sugestões. O professor tem autonomia para conduzir a sua aula. Apenas estabelecemos um diálogo, uma parceria com o professor a fim de lhe fornecer mais subsídios”, disse a gestora do GEIDH ao LeiaJá.

A relação entre escola e comunidade

A linguagem simples e dinamizada gera interesse nos pequenos, assim a pedagoga Joaninha ganha a confiança e aprovação dos pais e gestão das escolas em que é professora. A iniciativa influencia outros profissionais para exercitar as atividades propostas em classe, promovendo uma valorização as contribuições intelectuais do povo negro brasileiro.

Os pais que antes não entendiam a importância da inclusão de conteúdo afrocentrado nas aula agora mudam os hábitos de consumo midiático, como explica a pedagoga. “Agora está procurando conteúdo no YouTube mesmo, que sejam de crianças negras, que sejam de mulheres negras, porque ela viu o quanto os olhos da filha brilharam quando ela se viu representada”.

A docente também comemora a repercusão do trabalho realizado em classe para a comunidade, ao ouvir uma das mães identificar a presença de corpos negros em conteúdos consumidos pela filha. “Ela fez a reflexão e isso pra mim foi muito impactante. É o resultado na comunidade, nas coisas que a gente vem fazendo, no trabalho em sala de aula todo dia”. 


Em outros territórios brasileiros

Em outros estados brasileiros, professoras e professores negros implementam conteúdos afrocentrado. Como é o caso de estudantes no Distrito Federal, que participam de palestras e atividades artísticas que geram a valorização da história e cultura afro-brasileira, estabelecendo como forma de avaliação dos aprendizados apresentações de trabalhos.

O material de Joaninha alçou voos altos, chegando até a França, além de demarcar o território nordestino, como no estado de João Pessoa e outras cidades da RMR. A professora disponibiliza o material aos interessados, por e-mail, a fim de promover a popularização do conhecimento e melhores práticas de abordagem da pauta. Quem tiver interesse basta mandar um e-mail para joaninha.dias@yahoo.com.
Fonte: leiaja

Negros são 82% dos resgatados do trabalho escravo no Brasil

Por Daniela Penha,
 
 
Alta porcentagem de negros entre escravizados resgatados é sintoma da realidade vivida pelos negros ainda hoje, segundo pesquisador de História Afro-Brasileira (Foto: Sergio Carvalho – Subsecretaria de inspeção do trabalho do Ministério da Economia)

Uma família de homens e mulheres negras. Nenhum dos quatro filhos conseguiu terminar o ensino médio. Cresceram na roça e começaram a trabalhar ainda crianças. João (nome fictício), de 26 anos, deixou a escola na sexta série, por volta dos 12 anos. Desde então, trabalha cortando cana ou colhendo café. Em agosto de 2018, foi um dos 18 trabalhadores resgatados em situação análoga à de escravo em uma fazenda de café em Minas Gerais.

João é parte dos números que, para especialistas, comprovam a marginalização das populações negras. A cada cinco trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão entre 2016 e 2018, quatro são negros. Pretos e pardos representam 82% dos 2,4 mil trabalhadores que receberam seguro-desemprego após resgate. Entre os negros resgatados estão principalmente homens (91%), jovens de 15 a 29 anos (40%) e nascidos em estados do Nordeste (46%). O levantamento foi feito pela Repórter Brasil, com base em dados obtidos da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, por meio da Lei de Acesso à Informação.


O chamado “seguro-desemprego trabalhador resgatado” é um auxílio temporário destinado às vítimas de trabalho escravo. Entre 2016 e 2018, de 2.570 trabalhadores resgatados, 2.481 receberam auxílio (96%), sendo que 343 se autodeclararam brancos e 2.043 negros (soma de pretos e pardos). Os demais se autodeclararam amarelos (18), indígenas (66) ou não fizeram declaração de raça.

“Ser negro é igual a estar sujeito a situações diversas em que sua vida é desvalorizada, você é um ser desqualificado socialmente e sua cultura é deslegitimada”, afirma Sérgio Luiz de Souza, professor da Universidade Federal de Rondônia e pesquisador de História Afro-brasileira e Africana, mostrando como os números são sintomas da realidade vivida pelos negros ainda hoje. “As populações negras, que são metade da população brasileira, não têm acesso ao ensino superior, ao Parlamento, têm menos acesso à saúde, à educação, são os mais pobres, vivem menos.”

Os dados desta reportagem vêm do cadastro do seguro-desemprego preenchido pelos trabalhadores resgatados pelo governo. O processo de coleta de dados vem passando por aprimoramento para garantir que todas as entradas sejam baseadas em autodeclaração – condição necessária para a validade do registro. Portanto, a possibilidade de variações estatísticas deve ser considerada. Isso não afeta, contudo, a ordem de grandeza da representação de negros e não-negros entre os resgatados.

Os dados também revelam que a maioria dos resgatados, assim como João, não concluíram o ensino fundamental: 56%. Entre o total havia ainda 14% de analfabetos.

“Sinal gritante da desigualdade”, na avaliação de Gildásio Silva Meireles, agente do Centro de Defesa da Vida de Açailândia, no Maranhão, onde auxilia trabalhadores explorados, após ser resgatado 12 anos atrás. “É uma questão de sobrevivência. A maioria de nós [negros] não tem estudo e se sujeita a qualquer situação para tirar o sustento da família”, afirma.

Do total de negros resgatados, 62% eram trabalhadores rurais, florestais e da pesca; 29% atuavam na indústria. O estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado no último dia 12, mostrou que a população negra representa 64% dos desempregados e 66% dos subutilizados, além de ganhar menos do que os brancos.
“O dinheiro que sobra é só para comer. Queria estudar melhor para não ficar passando por isso. Mas não tive oportunidade”, diz João.
Mas educação é a solução? Para Jorge Ferreira dos Santos, coordenador da Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (Adere-MG), não nos moldes atuais. “Qual modelo de educação ajuda a libertar nosso povo? Esse modelo que está aí nos prepara para sermos escravos do sistema. As oportunidades que temos hoje são o trabalho doméstico, a roça, a construção civil”, afirma Santos. “Continuamos acorrentados, senão pela corrente física, pela lei que mais exclui do que inclui.”

João continuou trabalhando na colheita do café, mesmo depois do resgate feito pelos auditores fiscais do então Ministério do Trabalho, atual Ministério da Economia. Diz que a situação em que foi resgatado em Minas foi a pior pela qual já passou. A casa onde dormia estava cheia de ratos; a caixa d´água, infestada de morcegos; o pagamento não era adequado. “Mas é sempre sofrido.”

A fazenda de onde ele foi resgatado exibia certificações internacionais renomadas, entre elas a C.A.F.E. Practices, selo da Starbucks em parceria com SCS Global Services, e a certificação da UTZ, a maior da indústria cafeeira.

Para o professor Souza, há uma naturalização da desigualdade. “Escravizar um negro, tomar a terra de um indígena ou de um quilombola, matar uma negra, é irrelevante e socialmente aceitável. São seres invisibilizados.”

 
 
Maioria dos 2.043 pretos e pardos encontrados em situação análoga à escravidão é de jovens, nordestinos e sem escolaridade (Foto: Sergio Carvalho – Subsecretaria de inspeção do trabalho do Ministério da Economia)

Em 2007, quando foi resgatado, Meireles conheceu o Centro de Defesa da Vida de Açailândia (MA). Passara cinco meses e meio trabalhando em uma fazenda, na roçada de pastos, sem receber um real. Fazia parte de um grupo de 18 trabalhadores que contraía dívidas ao chegar na propriedade, passava o dia vigiados e vivia em condições insalubres: sem água potável, sem banheiro, dormindo com os animais da propriedade. Meireles conseguiu fugir, buscou ajuda e voltou para resgatar os demais. Após cinco meses sem notícias suas, a esposa quis o divórcio. Sem ter para onde voltar após o resgate, ficou em Açailândia e decidiu trabalhar na causa. Hoje, atua em Monção (MA). “Os casos existem, mas são mais camuflados do que antigamente.”

O caminho para um país com equidade e voltado para a diversidade social, étnica, racial e de gênero passa, segundo o professor Souza, por ações do Estado e da sociedade. Para ele, o governo deve implementar políticas como ampliação de universidades e instituições de pesquisas, cotas e leis pró-diversidade, mas a sociedade civil e grupos que conseguem chegar ao governo também precisam agir. “Não existe a implementação de políticas públicas e de instrumentos do Estado sem luta social. A sociedade é dinâmica”, afirma.

______________________________________________________
Nota de redação: a matéria foi atualizada no dia 25 de novembro de 2019 às 15h46 para incluir um parágrafo que explica a metodologia utilizada para extrair os dados que esta reportagem se baseou.

Esta reportagem foi realizada com o apoio da DGB Bildungswerk, no marco do projeto PN: 2017 2606 6/DGB 0014, sendo seu conteúdo de responsabilidade exclusiva da Repórter Brasil
 

Ellen Oléria canta Nina Simone (07 e 08/02)


Ellen Oléria chega em Brasília com show em homenagem à cantora estadunidense Nina Simone (1933-2003). O espetáculo é composto pelas canções imortalizadas na voz de Nina como “Ain’t got no, I got life”, “Felling good” e “My baby just cares for me”. A admiração da artista por Nina Simone, uma referência pra nova geração de intérpretes pelo mundo, fez com que esse show fosse idealizado.

A proposta do encontro de Oléria com Rodrigo Bezerra (guitarra), Jhoninha Medeiros (baixo), André Braz (bateria) e Serge Frasunkiewicz (teclados) é atualizar as canções de Nina em seu tom político, enquanto ativista pelos direitos civis de negras e negros em décadas de resistência e luta anti-racista. Também visitar o lado romântico da artista que fez do amor o fundamento de sua resistência discursiva.

++++++ Discotecagem com Dj Pezão
++++++ Visuais jazzísticos inebriantes com Vj Nibêra

Show inédito em Brasília.
A gente nem sabe o que dizer, só sentir ♥
Então bora pro jazz!

Ingressos antecipados disponíveis no link>>>>>
https://www.sympla.com.br/ellen-oleria-canta-nina-simone__766267

//Jazz no Porão e Cervejaria Criolina apresentam//
BIG JAM: Ellen Oléria canta Nina Simone
Dias de 7 e 8 fevereiro (dia 7 - INGRESSOS ESGOTADOS)
na Cervejaria Criolina
Abertura da casa às 20h / Show às 22h30
(sujeito à lotação)

*Os preços estão sujeitos a alteração sem aviso prévio

Aniversariantes do dia tem entrada gratuita!
Basta apresentar a identidade na entrada e ser feliz. ;)
Entrada de menores de 18 anos somente acompanhados pelo responsável legal.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Moradores enfrentam falta de água na Cidade Estrutural em Brasília/DF

 
por Francisco Dutra,
Moradores dos setores Leste e Oeste da Estrutural estão enfrentando falta de água. Segundo eles, torneiras e chuveiros secaram às 17h do domingo (02/02/2020). Até as 10h30 desta segunda-feira (03/02/2020), o problema persistia.

“Não teve qualquer comunicado”, disse o pedreiro Verinaldo Guedes de Souza, 44 anos. De acordo com ele, a falta de água ocorre regularmente. Geralmente, quando as torneiras estão secas no Setor Leste, o abastecimento fica normalizado no Oeste. E vice-versa.

“Donos de mercados, padarias e restaurantes não estão conseguindo lidar com essa falta de água toda hora”, afirmou.

O empresário Evanildo da Silva Macedo, 43, conta que os moradores estão sem saber o que ocorreu. “Quando começou o problema, disseram que a rede da cidade estava migrando do reservatório de Santa Maria para o do Descoberto. Depois, falaram que o problema começou com ligações clandestinas, furto de água”, pontuou.
O outro lado

A Caesb informou que está trabalhando para regularizar o abastecimento da região. “Periodicamente, equipes da companhia retiram ligações clandestinas do Setor Santa Luzia, que são responsáveis pela diminuição da pressão da rede de água das áreas regulares da Estrutural”, afirmou a estatal, em nota.

Ainda de acordo com a Caesb, o Setor Santa Luzia não está dentro da rede regular de fornecimento da empresa. Por questões sociais e humanitárias, a companhia fornece caminhões-pipa para o local.
____________________________________________________
francisco.dutra@metropoles.com

Fonte: metropoles

'Constranger os racistas é mais que necessário', afirma psicólogo




por Clarissa Pacheco,
Há uma semana, as gêmeas Verena e Valentina, de apenas 3 anos, enfrentaram uma situação de racismo enquanto passaram pela estação Rodoviária do metrô de Salvador. Um segurança branco exclamou, assim que as viu: "Misericórdia! Bucha 1 e bucha 2". A expressão preconceituosa se referia ao cabelo das duas crianças. Modelos, as meninas nunca tinham vivido situações assim e a reação foi inevitável. No dia seguinte, queriam prender os cabelo, contou a mãe, Sandre Weydee.

O CORREIO conversou com Valter da Mata Filho, coordenador do Grupo de Trabalho Psicologia e Relações Raciais do Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-03), sobre os efeitos do racismo na infância. Confira:

De que forma o racismo vivido na infância pode mudar a relação da criança com o corpo, com a autoestima?

Pense que o racismo é uma ideologia que hierarquiza os grupos humanos a partir da noção de raça. A criança é um ser altamente indefeso e dessa forma não possui desenvolvimento cognitivo para entender esse tipo de ideologia. A tendência dessa criança é experimentar e compreender o mundo com o código vigente na sociedade. Dessa forma todas as expressividades de valores aprendidas pelas crianças, deverão ser as mesmas difundidas pela sociedade. Num país que valoriza a cultura europeia, assim como o padrão de beleza e normalidade, a criança negra passa a se sentir deslocada, não existe representações positivas de pessoas com a sua estética, seu corpo, ao contrário, as representações são negativas e subalternas. A saída é reivindicar um ideal de ego branco para si (quando isso é possível, quando são mais claras) ou resignar-se a esse local de inferioridade, acarretando aí a baixa autoestima. Ela se avalia enquanto sujeito e não gosta do que vê.

Qual a importância de se manter um acompanhamento psicológico diante de episódios como o vivido pelas duas crianças no metrô?

O que as crianças sofreram foi discriminação racial, é um crime. A discriminação racial é um comportamento manifesto geralmente cometido por alguém preconceituoso. Essa discriminação pode ter um efeito traumático, porque normalmente ocasiona uma grande humilhação. Os efeitos dessa humilhação terão danos diferentes em indivíduos diferentes, pois depende de uma série de fatores situacionais que estão sujeitos. Posso elencar o suporte social, principalmente da família, como os valores e crenças parentais são passados a essas crianças, seu desempenho nos diversos cenários a que estão submetidos. Um trauma pode comprometer o desenvolvimento cognitivo de uma criança e ter repercussão em diversos componentes subjetivos como o desempenho escolar e a socialização.

Que comportamentos podem decorrer de episódios como esse?

Primeiro é não querer passar mais pela dor que passou. A dor ensina e condiciona determinados comportamentos. Ela pode querer fazer de tudo para se afastar dos marcadores que fizeram com que elas fosses discriminadas. No caso do metrô, foi o cabelo. Então elas poderão pedir para seus pais que normatizem seus cabelos, através de processos estéticos geralmente invasivos como o alisamento. A autoestima é atingida diretamente pois a criança passa a ter noção que sua imagem é negativa, é tida como exótica e não como bonita. A autoimagem é importante para a construção de uma identidade positivamente afirmada.

De que forma as pessoas que convivem com as vítimas podem contribuir para diminuir um trauma?

As pessoas próximas tem um papel crucial na vida dessas crianças. Não podem legitimar as agressões que elas sofreram através da domesticação de corpos e mentes. Uma criança que cresce achando que há alguma coisa errada do ponto de vista estético (seu cabelo, sua cor,seu nariz, etc), pode desenvolver um complexo de inferioridade que vai influenciar sua autoconfiança. Os adultos precisam mostrar que existem outras possibilidades de ser e estar no mundo. Que existem outras estéticas, outras formas que não as que foram convencionalizadas enquanto “certas”.

O caso das meninas no metrô foi explícito, mas há outras formas mais 'sutis', se pode dizer assim, de minar a autoestima de crianças negras, como a comparação com colegas, amigos, pessoas que convivem. Como lidar com isso?

O brasileiro é um ser esquisito. Tem vergonha de dizer que tem preconceito, mas não tem vergonha de se comportar como se o tivesse. O racismo se esconde em muitas práticas cotidianas. Exclusões de círculo de amizade, exclusão para determinados cargos institucionais, preferências afetivas, sem falar do racismo recreativo que é aquele no qual o indivíduo racista, classifica seu comportamento como se fosse uma brincadeira. Geralmente os encontramos nos apelidos pejorativos e piadas de péssimo gosto. É preciso enfrentar essas pessoas, causar mal estar mesmo, não achar que esse tipo de comportamento possa ser aceito. Constranger os racistas é mais que necessário.

E como tratar dessas questões com as pessoas quem impõem esse racismo?

Racismo é crime e assim deve ser tratado. A naturalização por parte da sociedade prejudica a percepção do mesmo, assim como seu potencial de dano. Ouvimos muitos humoristas afirmando que o mundo está chato demais, porque não se pode fazer piadas com grupos subalternizados. Mas essa é a ideologia corrente: as pessoas querem licença para discriminar. 
 

Kabengele Munanga, o antropólogo que desmistificou a democracia racial no Brasil

Professor recebe homenagens pela luta contra todas as formas de discriminação racial: "Todos os racismos são abomináveis e cada um faz as suas vítimas a seu modo. O brasileiro não é o pior, nem o melhor, apenas tem suas peculiaridades"

 Créditos da foto: O professor Kabengele Munanga: ''Não há democracia racial no Brasil'' 
(Cecília Bastos/USP Imagens) 
 
Por Lilian Milena,
O professor dr Kabengele Munanga, antropólogo brasileiro-congolês, é uma das principais referências na questão do racismo na sociedade brasileira. Seus estudos, realizados desde a década de 1970, foram responsáveis por romper a visão eurocêntrica da antropologia, repensar a participação dos negros na história do país e, ainda, consolidar os estudos preparatórios para a Constituição de 1988, no eixo que tange os Diretos Humanos e combate à toda a forma de racismo no Brasil.

Por conta desse engajamento, Munanga vem recebendo ao longo de sua vida diversos reconhecimentos. Em 2018, a Universidade de São Paulo concedeu a ele o Prêmio USP de Direitos Humanos.

O mais recente reconhecimento aconteceu neste 13 de maio, quando a Área de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da USP realizou um encontro para marcar também os 50 anos da assinatura, pelo Brasil, da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.

Em entrevista ao GGN, Munanga comentou sobre a importante articulação da sociedade e movimentos civis para não permitir o retrocesso dos avanços já conquistados contra as diferentes desigualdades.

“A luta pela mudança, da transformação da sociedade, demora muito. Já tivemos no Brasil algumas conquistas, sobre a questão da igualdade entre branco, negro, indígenas e outros diferentes e isso foi luta de gerações do movimento negro que vem desde Zumbi dos Palmares até agora”, explicou.

Kabengele defende ainda que o embate por justiça social não pode ser levada adiante apenas por meio do discurso.

“As palavras são importantes, mas a luta se faz com políticas e essas políticas estão sendo destruídas. A consciência está lá, o discurso está lá, mas não as políticas públicas, que estão sendo destruídas por uma conjuntura onde parece que não se entendeu”, nota o antropólogo em relação às posturas políticas do governo Bolsonaro.

“A gente se pergunta o que está por trás disso, porque a questão para mim não é ser de direita ou ser de esquerda, a questão importante é saber como se viver em uma sociedade que tem problemas, onde você deve construir políticas sociais”, destaca.

A grande preocupação do antropólogo é que, enquanto a formação e consolidação de políticas públicas de afirmação e combate às desigualdades partem de um processo de anos, a destruição desses mecanismos, pelo contrário, pode acontecer em um curto espaço de tempo. Em outras palavras, o que está em andamento no país é o desmonte de um processo de conquistas históricas.

“A luta pela liberdade não tem preço. A única saída é a população se mobilizar para defender seus direitos, para que esse retrocesso não aconteça mais e que possamos recuperar o que está sendo perdido rapidamente, construindo mais do que o que já foi feito”, concluiu.
 



No caminho do bem


Presente na homenagem ao professor Munanga, o fundador da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, explicou que a luta contra o preconceito racial tem como particularidade o fato de ser uma luta civilizatória: “é uma luta de homens e mulheres em qualquer lugar do planeta, uma luta pelo bem, elevação, engrandecimento e pela plenitude do indivíduo humano em qualquer parte do nosso globo”, ressaltou.



A seguir, os principais trechos do discurso da Kabengele Munanga realizado durante o evento em sua homenagem:

O silêncio e o não dito sobre o racismo brasileiro marca o preconceito da educação e da formação da cidadania em toda as direções. Como escreveu Eliane Cavalleiro, esse silêncio começa no lar e se prolonga na educação infantil, desde a escola.

Foi com essa consciência, com a consciência dessa lacuna, que organizei o livro Superando o racismo na escola, a pedido do Ministério da Educação, cuja a primeira edição, em 1999, contou com o prefácio do então Ministro da Educação Paulo Renato Souza, e a segunda impressão, em 2001, com o prefácio do então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Outras edições certamente vieram no governo do ex-presidente Lula.

Desde então, os convites começaram a chover de várias escolas, para dar palestras e conferências sobre o tema. Me lembro de uma aula marcada com educadores de uma escola pública da periferia de São Paulo, acho que era em Capão Redondo, se não me falha a memória. Me chegou um convite da Unesco, para ir à Paris, na Semana da África, que cai em maio de cada ano, para participar de uma mesa sobre a negritude, por causa de um pequeno livro que escrevi a respeito do Brasil.

A data da minha aula na periferia coincidia, infelizmente, com a data do embarque para Paris. Naquele dia pesou a consciência. Eu preferi declinar o convite da Unesco para honrar meu compromisso com os educadores da escola da periferia de São Paulo.

Não conto isso como autopromoção, mas apenas como exemplo de como a consciência pode pesar quando se trata de escolher entre interesses individuais e coletivos.



Sem dúvida, todos os racismos são abomináveis e cada um faz as sua vítimas do seu modo. O brasileiro não é o pior, nem o melhor, mas ele tem as suas peculiaridades, entre as quais o silêncio, o não dito, que confunde todos os brasileiros e brasileiras vítimas e não vítimas.

Como disse Ali Wiesel, judeu Nobel da Paz, o carrasco sempre mata duas vezes, a segunda é pelo silêncio, prática característica do racismos brasileiro que sempre mata duas vezes: mata fisicamente, como mostra as estatísticas sobre a genocídio da juventude negra em nossas periferias; mata na inibição da manifestação da consciência de todos, brancos e negros, sobre a existência do racismo em nossa sociedade. É por isso que eu costumo dizer que o racismos brasileiro é um crime perfeito.



Eu poderia ficar indiferente, me esconder no mundo dos brancos onde tenho amigos, não apenas no Brasil, mas também em outros países ocidentais. Digo com muito orgulho que minhas relações de amizade não têm fronteiras raciais, mas nem por isso vou negar uma realidade crua e chocante que, infelizmente, muitos brasileiros não enxergam pois confundem mitos e realidades.

É claro que as coisas estão mudando, a consciência vem crescendo, como mostrado aqui nas falas do ministro Lewandowski, do ministro José Gregório e professor Celso Lafer.



Num trecho de entrevista em minha homenagem, publicado na revista USP de agosto de 2017, as intelectuais pesquisadoras Silvia Dantas, Lígia Pereira e Maura Véras, me consideram como um intérprete africano no Brasil, porque perceberam que eu tenho um olhar diferente, uma leitura diferente de muitos brasileiros sobre a questão racial no país.

Mas esse olhar não é distante, frio, neutro (como diriam alguns, um olhar objetivo), é um olhar subjetivo, engajado, afetivo e apaixonado, um olhar de solidariedade que me acompanha cotidianamente no meu estilo de vida, nas minhas aulas e, sobretudo, nos meus textos.



O mito da democracia brasileira, apesar de já ter sido destruído política e cientificamente, tem uma forma inercial difícil de desmantelar. Se perguntarmos hoje aos norte-americanos, sul-africanos, europeus e brasileiros sobre a existência de preconceitos e discriminação racial em suas respectivas sociedades, teremos respostas diferentes a serem interpretadas de acordo com a época, a história de cada país e sua estrutura de poder.

Os norte-americanos, brancos e negros, poderão dar respostas claras e diretas. Atualmente alguns deles podem até dizer que os preconceitos raciais recuaram porque elegeram um presidente negro, além de apresentar hoje mobilidade social, na qual nota-se uma pequena burguesia. O sul-africano também não teria dificuldade para confirmar a existência do racismo e de suas práticas em sua sociedade. Alguns podem até dizer que esse fenômeno recuou com a supressão das leis do apartheid e pelo fato de os negros estarem no comando político do país.

Alguns franceses, alemães poderão dizer que em sua sociedade exista apenas a xenofobia em relação aos imigrantes e, não necessariamente, o preconceito racial.

A mesma pergunta feita aos brasileiros pareceria inconveniente, incômoda e até mesmo perturbadora. Muitos, comparativamente aos americanos, sul-africanos, não teriam respostas claras e diretas, suas respostas seriam ambíguas e fugitivas.

Para muitos, o Brasil não é um país preconceituoso e racista, sendo as violências sofridas pelos negros e não brancos, em geral, apenas uma questão econômica ou de classe social, que nada tem a ver com os mitos de superioridades e de inferioridade racial. Nesse sentido, os negros, indígenas e outros, não brancos, são discriminados porque são pobres. Em outros termos, negros, brancos e pobres, negros e brancos da classe média, negros e brancos ricos (não sei quantos negros ricos tem nessa sociedade), não se discriminam entre si, tendo em vista que eles pertencem todos à mesma classe social. Uma bela mentira.



Para algumas pessoas mais esclarecidas, e mais sensíveis ao cotidiano brasileiro, existe sim preconceitos e práticas discriminatórias no Brasil, em relação aos negros, povos indígenas e outros.

No caso dos resultados de uma pesquisa realizada pelo Datafolha, de 1995, que resultou na edição do livro Racismo Cordial, de Cleusa Turra e Gustavo Venturi, publicado pela Ática, seria interessante interrogar-se como o racismo pode ser cordial apenas no Brasil, e não em outro canto do mundo.

Nessa pesquisa, 89% dos brasileiros aceitaram a existência do racismo no país, embora apenas 10% tivesse confessado que conhecem pessoas que discriminam, ou que eles mesmo já teriam sido discriminados.

Perguntaram para as mesmas pessoas se elas não se importariam se suas filhas, seus filhos se casassem com uma pessoa negra. As respostas revelaram contradições até entre as pessoas que declararam que não são racistas, na medida em que não viam com bons olhos casamento inter-racial entre pessoas brancas e negras. Elas mostraram preocupação em ter netos negros ou mestiços que sofrerão também preconceitos raciais na sociedade. Reprovaram o casamento inter-racial deixando claro a ambiguidade que permeia a apologia da mestiçagem como símbolo da identidade nacional brasileira.



A dificuldade de combater o racismo brasileiro está justamente nas suas peculiaridades, que o diferenciam de outras formas de manifestação de racismo, conhecida na história como, por exemplo, o regime nazista ou o apartheid na África do Sul, para citar apenas os mais conhecidos. Nesses modelos, o racismo foi explícito, institucionalizado e oficializado pelas leis naqueles países. Praticou-se o racismo do estado.

No Brasil o racismo é implícito. De fato, ele nunca foi oficializado nos princípios da pureza de sangue, da superioridade e da inferioridade racial. Por causa dessa ausência de leis segregacionistas, os brasileiros não se consideram racistas, quando se comparam aos demais países.

Os brasileiros se olham nos espelhos sul-africanos, americanos e nazistas e se percebem sem nenhuma mácula, em vez de se olharem em seu próprio espelho. Assim ecoa, dentro de muitos brasileiros, uma voz muito forte que grita ‘não somos racistas! racistas são os outros!’. Essa voz forte e poderosa é o que chamo inércia do mito da democracia racial.

Kabengele Munanga, em 1977 enquanto apresentava sua tese de doutorado na USP

Veja ainda trechos das falas de autoridades que participaram da homenagem ao professor Kabengele Munanga:

– Nós [o estamos homenageando neste encontro] não só pela sua importância acadêmica na área da antropologia, nos estudos e na contribuição bastante destacada que nos trouxe do conhecimento global na área de seus estudos [sobre a questão racial no Brasil], mas principalmente pela honra que ele nos brindou de ser um professor integrante no nosso programa de Direitos Humanos – destacou Floriano Azevedo Marques, diretor da Faculdade de Direito da USP.

– O professor Kabengele Munanga é um exemplo de acadêmico e foi, como todos nós sabemos, um pioneiro do estudo científico da questão do negro em nosso país, com a sua expertise científica -, compartilhou o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski.

– É importante repetir o quanto seus estudos são relevantes, particularmente, na esfera do direito, porque nós, por mais que tenhamos nos esforçado, a implementação de políticas públicas e de inclusão ainda é muito limitada. E os estudos do professor Kabengele nos mostraram duas coisas: primeiro, a dureza da realidade, como a realidade não se amolda aos nossos belos princípios; e, segundo, é sua própria figura, além dos estudos do professor Kabengele, e tudo o que foi feito por ele numa sociedade em que, nós sabemos, criam limitações em matéria racial -, ponderou o professor dos cursos de pós-graduação da Faculdade de Direito da USP, Calixto Salomão.

– O professor Kabengele Munanga reúne duas condições extremamente salientes para que sua vida se tornasse absolutamente emblemática: o fato de ser um estudioso profundo, alguém especializado com um alto gabarito na questão da desigualdade e discriminação racial; e alguém que, pelo seu exemplo de vida, pela sua atitude concreta consegue, e conseguiu, continuamente acender uma luz para que nós possamos ver mais longe no âmbito da discriminação racial e tomar medidas efetivas com base na sua eliminação -, prosseguiu Alberto Amaral Jr, coordenador da área de Direitos Humanos dos cursos de pós-graduação.

– É uma oportunidade prestarmos homenagem a um grande professor que tem com seu conhecimento ampliado a nossa percepção de problemas demonstrando, uma vez mais, qual é o papel das ciências humanas para o entendimento da sociedade e sua melhoria -, reforçou o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer.

– O professor Munanga é um símbolo do significado dessa luta política de tornar o Brasil democrático e mais igualitário -, pontuou o ex-ministro da Justiça e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo José Gregório.

– Acho que quem não está aqui não está apenas marcando uma ausência, mas um ato de omissão histórica. O Brasil vai ser outro, mas por obra de pessoas como o senhor [Kabengele], do que aqueles que detém um poder extremamente frágil, temporário e não entendeu da missa a metade, pensando que nós fizemos alguma coisa com intuitos meramente ornamentais -, continuou Gregório, concluindo:

– Eles não sabem que nós plantamos fundo, temos raízes e essas raízes não vão se soltar a nenhum tipo de oposição que acontecer. Portanto, os Direitos Humanos estão vivos, dispostos e sem dúvida nenhuma símbolos como do professor Munanga nos propele a ter cada vez mais fé nesses direitos -.

– O professor Kabengele rompeu com a epistemologia eurocêntrica, quando trabalhou com antropologia na África, sobre os colonialismos. Essa é uma importância crucial, diz respeito ao conhecimento e nós somos tributários dele. O caminho que o professor Kabe criou é um caminho, até certo ponto, solitário ou até mesmo com poucos acompanhantes -, refletiu Leila Maria Gonçalves Leite Hernandez, atual chefe do Centro de Estudos Africanos da USP.

– Não menos importante é o fato de lembrar que, desde 1950, pensa-se muito no Brasil a questão do negro, então são estudos vários e, mais uma vez, os estudos do professor Kabe também propiciam uma ruptura com o eurocêntrico, a partir do protagonismo desses estudos, com acento muito claro nos movimentos negros, na participação dos negros na história do Brasil, do nosso país. Mais uma vez, é uma postura que põe em questão a produção que se fazia, até então, com outras indagações -, explicou a pesquisadora lembrando ainda que os estudos e trabalhos de Munanga contribuíram para a construção das pautas incluídas pelos movimentos negros na Constituição de 1988.

– Nessa manhã, celebramos em grande medida também Zumbi dos Palmares, as nossas heroínas, Luiza Mahin e Dandara dos Palmares. Eles, sem equipamentos da tecnologia, conseguiram resistir e nos entregar uma nação em gestação, no que diz respeito aos seus valores estruturantes, e nós aqui em pleno início do milênio ainda temos todas as dificuldades de consolidar aquilo que era os sonhos dos nossos fundadores – avaliou o sociólogo e fundador da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente.

– De modo que, pensar Kabengele Munanga, é pensar que essa construção foi uma construção de grandes heróis que, tendo todas as adversidades contra si, ainda assim puseram como compromisso e propósito a criação de uma pátria justa. Foram heróis aqueles que fizeram isso no passado e são heróis os que fazem isso no presente, e por conta disso nós estamos, a bem da verdade, homenageando um herói brasileiro, um herói de todos nós que é o professor Kabengele Munanga -, completou Vicente.

Participaram também da homenagem Eunice Aparecida de Jesus Prudente, professora doutora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, e que coordenou os trabalhos da mesa; além de Laura Arantes Quintino dos Santos, a quarta mulher a presidir o Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito da USP.

*Publicado originalmente no Jornal GGN

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

ÍNDIO PANKARA E PIPIPÃ PASSA EM 2° LUGAR PARA MEDICINA NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

 
O jovem Elison Edilson Santos da Silva, de 22 anos, filho de dona Eliana Justina dos Santos, sua mae índia Pankara, Carnaubeira da Penha PE. E do seu Edilson Franquelino, seu pai, índio Pipipã Floresta PE. Ambos agricultores. 
 
O guerreiro que se identifica como índio Pankara e Pipipã, passou em 2° lugar na Universidades de Brasília ( UNB ) para o curso de Medicina, ele irá ingressar no 1° bimestre de 2020. Um sonho para muitos, realidade para pouco, disse Elison, estou concretizando o sonho, mais essa conquista não seria possível, sem a luta constante das lideranças indígenas dos povos indígenas de Pernambuco, em especial meu povo Pankara e Pipipã.
 
Tenho um desafio enorme a partir de agora, afirmou Elison, estarei diante de outra realidade, nesse novo mundo que me espera, eu serei um representante do meu povo, uma liderança, essa é minha responsabilidade. Mais junto comigo estará sempre minha cultura, meu ritual, minha tradição.
 
Fonte: tvcamarotte

Rap, pedagogia e transformação Heitor Valente expande atuação na cultura hip-hop

Foto: Coletivo DUCA

Além de compositor e músico, Heitor apresenta uma aptidão natural para a pedagogia e projetos sociais, o rapper de Ceilândia dedica-se a atividades voltadas para o desenvolvimento social a partir de projetos que tem a finalidade de profissionalizar, construir e compartilhar experiências e aprendizados com as comunidades por meio da cultura e educação, vista por ele como instrumento de transformação, libertação e principalmente emancipação.

Foi nesse contexto que nasceu a AREA (Associação Respeito e Atitude), uma organização não governamental na qual ele é presidente, e que tem o objetivo de organizar, criar e unificar ações voltadas para a juventude à partir de projetos sociais.

O principal expoente dessa gama de programas, foi o Projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo), que utiliza esse estilo musical como uma ferramenta pedagógica de diálogo e estabelece uma relação profissional e colaborativa com os jovens em situação de vulnerabilidade nas unidades de internação e nas escolas do DF.

Foto: Dona Filmes

As atividades vinculadas ao projeto RAP são bem diversas, as ações que ja atenderam mais de mil jovens incluem saraus, festivais de música, debates, oficinas, rodas de conversa, cursos profissionalizantes como os de barbearia e manutenção de aparelhos celulares, além de ser responsável pela confecção de três produções literárias, um cd musical e um vídeo clipe que chegou a ser transmitido no festival de cinema de Brasília.

Em 2018 o Projeto RAP foi premiado pela UNICEF, órgão da Organização das Nações Unidas que tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, um reconhecimento importantíssimo aos trabalhos realizados e que qualificam a ong como uma das mais relevantes organizações não governamentais a nível nacional.

Hoje, além de presidir a AREA, Heitor é membro do conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico do Distrito Federal (CODESE), integrante do projeto LÍDER do Sebrae DF e educador no Instituto Ajax, funções que exerce com profissionalismo, responsabilidade e compromisso com as origens.

Foto: Thaís Batalha

Apesar de tantas atribuições, ele ainda é um rapper e não deixou a música de lado, neste ano ainda pretende lançar seu segundo álbum intitulado “O Presságio”, que contará com algumas participações especiais que ainda serão divulgadas, portanto, para ficar ligado nas novas produções, procure por Heitor Valente nas principais plataformas de streaming e fique por dentro. 
 

Hospital do Gama/DF recebe superpediatra que alegra crianças nas consultas

Médico usa jalecos de super-heróis como Homem-Aranha, Capitão América, Batman e Super-Homem durante os atendimentos

Por Redação Jornal de Brasília
 
 
No Hospital Regional do Gama (HRG), o pediatra Ricardo Fonseca decidiu abandonar a tradicional vestimenta branca para usar jalecos de super-heróis. Não é preciso dizer que a mudança de visual foi um sucesso total entre as crianças, transformando as consultas em um momento de alegria para os pacientes.

“Nos atendimentos, eu via como as crianças tinham medo do jaleco branco. Principalmente as maiores, porque no primeiro ano elas tomam muitas vacinas e acabam associando a dor ao jaleco branco. Então, em 2018, tive a ideia de usar os jalecos de super-heróis para ‘quebrar com esse vilão’. Depois disso, as crianças adoraram”, conta o “superpediatra”, que é como Ricardo se intitula nas redes sociais.

A novidade já era adotada por ele nas visitas médicas e sociais que fazia em creches da Estrutural e na rede privada, onde atuava. A receptividade das crianças foi tão boa que Ricardo aumentou sua coleção de jalecos, adquirindo também os do Homem-Aranha e Capitão América, além de Batman e Super-Homem. Todos são feitos por encomenda em uma loja no Rio Grande do Sul.

Chamado no concurso público da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, o “super pediatra” começou a atuar no HRG a partir de janeiro deste ano. “Vi os bons resultados e resolvi usar aqui também. É engraçado porque, com eles, se quebra aquele gelo da consulta entre médico e paciente. Acabamos indo para uma área mais lúdica e humanizada do atendimento”, diz Fonseca.

Além dos trajes de super-heróis, a parte lúdica do atendimento de Ricardo inclui, ainda, truques de mágica e figurinhas coloridas, para a alegria dos pacientes.

A pequena Ana Clara, 6 anos, se impressionou na consulta, quando soprou a caixinha vazia trazida pelo médico e, em um passe de mágica, apareceu dentro dela um boneco do Super-Homem. “Gostei muito”, comentou a pequena, sorridente, enquanto acompanhava a consulta do médico com seu irmão mais novo, Nicolas, de apenas um mês.

Quem também gostou do atendimento foi a assistente de vendas e mãe das crianças, Juliana de Medeiros. “Muitas crianças têm medo ao falar de médicos, hospitais e consultas. Quando um pediatra atende assim, acaba divertindo a criança e, no processo, acalmando a mãe. É muito bom”, elogia Juliana.

As consultas pediátricas no HRG ocorrem entre terça e sexta-feira, nos períodos matutino e vespertino, para pacientes agendados e marcados pelas unidades básicas de saúde (UBS), por meio da regulação da Região de Saúde Sul.

Com informações da Agência Brasília. 
 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

"A saída para o negro é a luta"


A cor da pele marca as distâncias e a forma como o Estado lida com seus cidadãos e estabelece uma hierarquia racial. Mesmo que ascenda e ocupe espaços de privilégio e poder, como o Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte de Justiça do País, o negro é visto como exceção à regra e ponto fora da curva. Não é muito pensar que, na desigual sociedade brasileira, aos negros é dado o papel subalterno. “Isso precisa ser desconstruído”, defende Thula de Oliveira Pires, professora de direito constitucional da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Com mestrado e doutorado na área, e estudando a interface entre direito e racismo, Thula é mulher negra, criada em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde mora até hoje, mãe de Dandara, como assim se definiu em conversa com a reportagem da Radis, em junho. Para a pesquisadora, o racismo histórico brasileiro é uma questão de direitos humanos, e, enquanto esses não contemplarem as demandas e especificidades da população negra, servirão somente para poucos. Thula acredita que, para mudar esse quadro, é preciso pensar sobre como os códigos do racismo operam — e buscar estratégias eficazes para lidar com ele.

Em sua tese de doutorado você tratou da criminalização do racismo na Justiça. O que concluiu?

Temos dificuldade em pensar racismo institucional no Brasil dentro de uma perspectiva estrutural. Junto com alunos, levantei, de 1989 a 2011, todos os casos que envolviam questões raciais julgadas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. O que vimos é uma vergonha. Os juízes não interpretam fatos explícitos de racismo como racismo. Algumas decisões são bizarras. Em um caso o juiz estava tão mal informado que não viu racismo no black face [maquiagem teatral na qual pessoas brancas são pintadas de negras para imitá-las de forma caricata], que marcou um dos maiores episódios de racismo dos Estados Unidos. Isso é ignorância e cinismo. Na decisão que condenou Rafael Braga [preso nas manifestações de junho de 2013 por portar uma garrafa de desinfetante e condenado a 11 anos e três meses de prisão], o juiz diz que próprio réu deu provas significativas de que estava envolvido e que apresentava “marcas” de crime. A imagem é evidente: o corpo do Rafael era a prova gritante do tráfico. Mas, no depoimento, Rafael negou o cometimento do crime. Então, como ele mesmo pode ser a prova cabal de que o crime aconteceu?

A marca é seu corpo negro?

Só dá para entender essa sentença usando um marca-texto na expressãozinha que fala dessa marca. É o corpo que está sendo usado como prova mais bem-acabada de tráfico de drogas. A pesquisa investigou a questão do racismo institucional e mostrou as entrelinhas dos processos. Um dos grandes problemas é que os juízes sequer se dão ao trabalho de argumentar, de explicitar ou não o racismo — o que não ocorre em casos envolvendo judeus, quando boa parte dos casos são considerados racismo e há uma argumentação tratando o caso. Não peço que um juiz faça uma tese sobre a questão racial, mas apenas que ele dê conta do que está no processo

Como você encara as acusações de que há “vitimismo” e “racismo reverso” nas ações do movimento negro?

A inserção do negro nos espaços sempre é vista como a conquista de alguém que honra por ser a exceção, por ser de primeira linha, por ter estudado em Paris. Mas o racismo nem sempre é explícito, então há um esforço para tentar demonstrá-lo. É daí que surgem as acusações de “vitimismo” ou “mimimi”. Quando a pessoa assume o discurso do racismo reverso, eu uso um raciocínio lógico dedutivo que desmonta seu argumento. Se alguém disser “me chamou de branquela e fui discriminada”, pergunto: no que chamar de “branquela” inviabilizou sua trajetória numa sociedade como a brasileira? Qual é o seu prejuízo por ser “branquelo”? Você perdeu a oportunidade de emprego ou de acesso a algo? Conotação de respeito? Não! Então fica mais fácil para a gente discutir.

Recentemente, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, se referiu ao ex-colega Joaquim Barbosa como “negro de primeira linha”. O episódio ilustra esta situação?

O episódio explicita a maneira pela qual o racismo também opera nos lugares privilegiados. A possibilidade de o negro estar num local de poder está condicionada a sua aproximação com o padrão branco e masculino. A fala do ministro denuncia muita coisa, mas nada traz de novo. E o pedido de desculpas também. É sempre “uma piada”, um “mal- -entendido”, um “eu não quis fazer assim” ou “eu queria ter aprendido a falar em outros termos, mas é o inconsciente”. Eu prefiro tratar a questão racial a partir das estruturas: não personalizo os episódios ou busco intenções particulares. Se há efeitos desproporcionais de violência, de não acesso e desrespeito em relação à população negra, há racismo. Pelas repercussões desse episódio, há caminho para alguma repactuação. O ministro não é algoz, apenas verbalizou a maneira pela qual os códigos do racismo operam no Brasil. É por isso que a intenção não importa. Nós temos que pensar como esses códigos operam para entender o mundo que herdamos e buscar ferramentas que sejam eficazes contra eles.

Há uma naturalização deste “mal-entendido”?

Não é confortável para ninguém se defrontar com imagens construídas a vida inteira. Uma pessoa comprometida com os direitos humanos só se dá conta do seu nível de racismo quando discute branquitude. E é natural que a primeira reação seja de resistência: “não é nada disso, eu sempre me coloquei ao lado de vocês”. É por isso que prefiro quando botam o capuz. E também entendo que num determinado momento não ter conversa é do jogo. Mas se existe alguma potência nesse estado de absoluto retrocesso que vivemos, é a de instaurar um conflito real. Acho que a população negra tem recursos escassos e vai continuar disputando permanentemente, porque sempre vai ter gente de fora. E enquanto tiver gente de fora, tem que ter disputa.

De que modo o racismo afeta a saúde da população negra?

O povo negro está adoecendo de tudo e o genocídio é a chave para entender essa situação. Genocídio não é só extermínio. Ele também se manifesta nas estruturas do Estado, no cárcere, na escola e no sistema público de saúde. O racismo acontece no sistema de saúde quando a pessoa não tem acesso, não é reconhecida como sujeito ou demora a receber atendimento — o que nem sempre está relacionado à enfermidade que carrega. Há um arquétipo sobre o corpo negro de que ele aguenta dor e é mais forte, e que pode ser atendido num segundo momento. A precarização do SUS também afeta a saúde. Ainda que os profissionais de saúde queiram oferecer o melhor tratamento possível, ele é inviabilizado devido às condições, medicamentos, falta de materiais e acesso às cirurgias que são necessárias.





Como é possível mudar esse cenário?

O racismo se reinventa e se readequa. Eu acho que a formação profissional é um momento em que é possível perceber como operam as estruturas do racismo. Não creio que ela consiga alterar o racismo nesses grupos, mas pode indicar que o exercício da função pública exige algumas condutas. Ainda que seja racista, o agente do Estado é obrigado, pelo menos, a obedecer à impessoalidade e à moralidade administrativa. Mas eu não tenho a esperança de que é possível sensibilizar essas pessoas para que um dia venham a olhar o outro de maneira não hierárquica. Por isso acho necessário investir na formação permanente como um todo, nas faculdades de Medicina e Enfermagem, nos cursos de técnico de Enfermagem, dos profissionais que atuam dentro do hospital.

A formação mais humanista daria conta de mudar essa concepção?

Esse humanismo hegemônico não nos humaniza. Só um outro humanismo que atribua humanidade a todos os corpos humanos. O pensamento pós-colonial e decolonial ajuda a entender esse novo humanismo. Entendo que a formação vai além do caminho instrumental do direito. Uma saída é fomentar modelos distintos de atuação do direito com modelos alternativos de justiça restaurativa, modelos autônomos de mediação de conflito, longe de um direito técnico-formal, institucional.

Você tem usado em artigos e palestras o conceito de “amefricanidade”. Você poderia explicar do que se trata?

Essa categoria político-cultural foi cunhada pela historiadora Lélia Gonzalez [1935/1994], uma das principais articuladoras do movimento negro. Ela quis pensar os reflexos do projeto colonial escravista sobre a vida de uma mulher negra no Brasil. Lélia entendia que, apesar das especificidades e de contextos que forjam diferenças entre populações afrodescendentes na América Latina, existe uma unidade marcada pela experiência da escravidão e que permite pensá-la em termos diaspóricos [deslocamento normalmente forçado ou incentivado]. É uma categoria que inclui a experiência ameríndia, mas que não pretende determinar tudo aconteceu com esta população. Lélia falava em primeira pessoa e não tinha a pretensão de falar em nome da mulher afroboliviana ou afroperuana, por exemplo. Eu vejo o pensamento de Lélia reverberando nos processos recentes de articulação e de ação política das mulheres.

Qual a contribuição que este conceito traz para o momento atual?

A de que temos que pensar em ferramentas que deem conta do que nós, mulheres negras brasileiras ou latinoamericanas, herdamos desse legado. Não temos que tentar adaptar uma solução pensada para outra realidade. Não dá para achar que na rubrica dos direitos humanos, por exemplo, será produzido algum resultado mais interessante. Se vamos falar sobre a violência obstétrica, temos de observar nossas especificidades. Não dá para ficar discutindo se a anestesia dificulta ou não o parto natural, se a nossa principal demanda talvez seja o acesso à anestesia. Não dá para continuar a sermos vistas como aquelas que aguentam dor. Temos que disputar e repactuar nos nossos termos.

Por que falar de direitos humanos em um contexto de desmonte de tantos direitos?

Esse momento é uma oportunidade política para a gente disputar um lugar. Nós sempre estivemos excluídos do acesso aos direitos. Agora, que a ameaça de corte é para muitos, é possível colocar os nossos termos à mesa para dar conta da nossa realidade. Creio que tem que haver uma repactuação ou os direitos humanos vão continuar disponíveis para poucos. No Brasil, os direitos humanos sempre foram tratados de maneira não racializada. Quando a realidade de pessoas negras emerge, somos obrigados a disputar categorias que determinam sua subalternização ou sua precariedade. Não creio que teremos uma organização política de massa se não permitirmos que a articulação pelos direitos envolva todos os que são diretamente afetados.

Qual o papel da comunicação na mudança deste cenário? Você vê algum impacto positivo no uso das novas tecnologias pelos movimentos sociais?

Acho esses movimentos impactam nos lugares onde se constituem. O corpo negro esteve sempre muito isolado. Sempre foi visto como um que fura o funil, e é difícil produzir uma articulação de fôlego sozinho, ou com poucos. Quando juntos, eles se fortalecem, conseguem se articular e se capacitar. A conversa fica maior. Em boa parte desses coletivos há um compromisso histórico das articulações negras no Brasil de unir teoria e prática. Mas não dá para saber o que podem atingir e até onde podem ir. Eu vejo que há uma geração em que alguns têm se articulado por vias tradicionais, e outros optam por formas mais alternativas, digo, autônomas. É essa pluralidade de articulação que vai produzir uma disputa política nova. A luta dos negros sempre foi imbricada e geralmente tem um compromisso que vai além da questão racial e de gênero. Há sempre uma luta contra o legado colonial escravista. São movimentos decoloniais, pós-coloniais. A comunicação pode reverberar outras possibilidades. Nessas experiências alternativas as próprias pessoas produzem e reproduzem suas narrativas. Só que essas experiências não aparecem ou aparecem de maneira deturpada e hierarquizada na mídia. É importante informar e trazer à luz essas experiências nos termos daqueles que as experimentam.

O que você prevê para o futuro?

Luta. Luta. Eu não tenho otimismo nas lutas internas do direito. Mas se eu não tivesse otimismo, eu estaria deprimida. Tem que ter algum grau de otimismo para manter a chama da luta acessa. A população preta não tem outra alternativa: ou luta ou sucumbe. O otimismo serve para levantar e botar a armadura antes de sair de casa. A saída é a luta, o conflito, a disputa. Não vejo outro caminho ou perspectiva.
 
____________________________________________________
 
Fotografia: Eduardo de Oliveira.

Entrevista com Thula de Oliveira Pires 16 Agosto 2017 | por Adriano De Lavor e Liseane Morosini

Tempo de leitura: 6 - 12 minutos 
 
Fonte: fiocruz