No planeta Skol, um jovem negro, livre, leve e solto, atravessa a faixa de pedestre. O jovem sorridente representa o “desconhecido”, o “novo”. No anúncio, a cerveja Skol desafia os consumidores a, deixando seu quadrado, interagir com a diversidade.
O aparecimento de jovens negros no planeta Skol é muito recente, ainda não tiveram tempo de multiplicarem-se, e o planeta Skol permanece dominado pelos brancos, os quais, portanto, dão ainda os primeiros passos no inusitado diálogo com o “outro”, esse desconhecido subjugado há mais de quinhentos anos.
A rigor, o planeta Skol não está sendo submetido a mudanças que o desfigurem mais profundamente. Suas representações da tolerância e da diversidade são simplificadas, um papo de cerveja, e essas representações correspondem a um mundo de que, a sério, todos duvidam da existência.
Na real, os personagens sabem que possuem o direito de vida e morte sobre o descolado recém-chegado. Ele é a manifestação e o símbolo daquilo que os demais foram educados para considerar indigno de convivência.
No entanto, os mecanismos que permitem ao discurso da propaganda tratar o negro como “novo” e “desconhecido” ajudam a afastar a história do país, na qual o negro se faz presente desde o início do século XVI, do produto anunciado, a cerveja Skol, e a sugestão, bem ao gosto da mídia, é a de um jogo que começa agora.
Começa agora também na Bayer do Brasil. Num estalo, seu presidente executivo decidiu contribuir com a luta contra a discriminação dos negros: “Preciso tomar alguma atitude para ampliar a presença de negros aqui, mas não sei como começar”.
A Bayer tem representantes no Brasil desde o final do século XIX e seu atual presidente angustia-se, em texto para a revista “Veja” ( edição 2543, 16 de agosto de 2017), porque quer tomar iniciativas que assegurem a inclusão de negros nos cargos mais altos. Finalmente, Theo, parabéns. Theo Van Der Loo é brasileiro e declara que a Bayer planeja adotar meta de 20% de estagiários negros até 2020!
Imagino que, nesses termos, o tema não tenha sido abordado antes nem marginalmente. Em seu relato, Theo Van Der Loo afirma que procurou alguns funcionários negros para ouvi-los a respeito, criou um grupo de afinidades para “organizar o pensamento sobre o assunto dentro da Bayer” e estabeleceu “uma parceria com uma empresa que tem um banco de candidatos negros”.
A frase “organizar o pensamento dentro da empresa sobre o assunto” sinaliza para as dificuldades com outros setores e executivos da empresa. Theo desabafa: “A maior ajuda que recebi foi de profissionais negros que trabalhavam na Bayer”.
Vocês que me leem podem achar que a angústia de Van Der Loo se cura com muito pouco, mas ele se diz inspirado pelo desejo de fazer o bem.
Pelo que entendi de uma entrevista de Celso Athaíde a Mario Sergio Conti (17/08/2017), na Globonews, a respeito da criação do Partido Frente Favela Brasil, um partido de negros e favelados que contará com o apoio indispensável de brancos desejosos de fazer o bem, Theo da Bayer seria uma presença significativa no Partido Frente Favela Brasil.
Celso Athaíde disse ainda a Mario Conti que o protagonismo no partido será de negros e favelados e os brancos deverão, numa analogia invertida e no limite do delírio, empurrar o carro no desfile da escola, para os negros brilharem.
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Edson Lopes Cardoso
Jornalista e Doutor em educação pela Universidade de São Paulo
Edson Lopes Cardoso
Jornalista e Doutor em educação pela Universidade de São Paulo
Fonte: bradonegro
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