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terça-feira, 6 de maio de 2014

Para pesquisador, leis precisam ser mais duras contra o racismo


Um protesto objetivo, imediato, espontâneo e irônico. É dessa forma que especialistas definem a atitude do lateral direito da seleção brasileira Daniel Alves. O jogador comeu uma banana jogada por torcedores do Villareal, em partida disputada no domingo, 27, pelo Campeonato Espanhol, quando o Barcelo venceu por 2 a 1. A atitude foi pouco antes da cobrança de um escanteio.

Para o professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós Graduação de Sociologia da UFSCar, Valter Roberto Silvério, a atitude imediata do jogador foi positiva, entretanto, o ato não resolve a gravidade do problema. “A repercussão tem uma lado positivo, significa que as pessoas de alguma maneira não querem o racismo, parte delas se sensibilizam no sentido de dizer que essa atitude não é admissível. Agora, do ponto de vista pedagógico o ato não equaciona o problema, as crianças negras irão continuar sofrendo bullying e a violência psíquica nas escolas, nas ruas, tudo em função do que representa sua cor”.

Silvério afirma que o racismo chega a ser mais grave do que qualquer tipo de preconceito. “Racismo tem a ver com você considerar uma outra pessoa ou um outro grupo inferior do ponto de vista de suas capacidades. O preconceito de alguma maneira todos nós temos de alguma coisa, agora o racismo é uma forma da gente ver o mundo”.

O professor disse que o racismo existe em todos os lugares do mundo, porém, para ele isso é um problema grave, uma espécie de doença mundial que deve ser combatida. “Já passou da hora dos países colocarem o assunto nas grades curriculares, é fundamental que as crianças aprendam cedo sobre o mundo que elas vivem, sobre as diferenças das pessoas, das culturas, isso é fundamental. O sofrimento psíquico dessas crianças é imenso”.

Outro problema grave é a falta de punição para quem comete esses atos. No caso do jogador Daniel Alves houve uma punição severa devido à repercussão nas redes sociais. Na ocasião, o torcedor acabou sendo banido do estádio. “É importante que as autoridades educacionais e autoridades da área de direito se preocupassem mais em medidas educativas e punitivas efetivas para quem pratica esse ato. No Brasil, infelizmente temos dificuldade de registrar um Boletim de Ocorrência caracterizado como racismo. Isso é muito grave, pois fica difícil punir quem pratica esses atos”, relatou o professor.

MOBILIZAÇÃO

O Presidente do Conselho da Comunidade Negra de São Carlos, Caio Gustavo dos Santos, vê a atitude do jogador Daniel Alves de forma objetiva e irônica. “O próprio jogador comentou que vive com isso há mais de 11 anos. O que ele fez foi ignorar e rir da atitude do torcedor”.

Já para ele, a mobilização nas redes sociais teve mais a ver com uma campanha publicitária do que com um real ato contra o racismo. “Foi puro oportunismo de uma agência de publicidade Essa é uma campanha a qual eu não poderia aderir por vários motivos, mas o mais simples deles é: Não sou macaco. Sou uma pessoa, um ser humano”.

Para Caio, a ação também não resolve a gravidade do problema. “Só o negro sabe o sofrimento e a dor de carregar insultos apenas pela sua cor. O mundo precisa punir efetivamente quem pratica esses atos, não somente pelo racismo, mas por qualquer tipo de preconceito”.

O presidente ainda afirma que os casos de racismo dentro dos estádios já acontecem há anos e para ele faltam punições mais severas, principalmente no Brasil. “Antigamente não se aceitavam negros em times de futebol no nível nacional, inclusive, quando o Pelé veio na cidade de Jaú ele foi impedido de jogar no estádio apenas pelo fato de ser negro. Essas atitudes precisam ser combatidas”.

Questionado se considera São Carlos uma cidade racista e preconceituosa, o presidente do Conselho da Comunidade Negra da cidade foi taxativo. “Com certeza. Preconceituosa e racista, muito racista, de todas as maneiras e em todos os lugares”.

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