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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Atendimento à saúde da população negra não é integral


Por Caroline Roque,
No mês de comemoração ao Dia da Consciência Negra (20) diversos assuntos são temas de mobilização de integrantes ou simpatizantes do Movimento Negro. Um deles é a saúde da população negra, questão importante mas também negligenciada pela rede pública de atenção à saúde.

De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51% da população brasileira se declara preta ou parda, dessa forma, mais da metade dos cidadãos do país está amparada pela Política Nacional de Saúde Integral da População Negra criada pelo Ministério da Saúde por meio da portaria nº 992, de 13 de Maio de 2009.

Com o objetivo geral de promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), o desafio é de fato colocar em prática as premissas que regem o Plano, que reconhece o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional como determinantes sociais e condições de saúde.

“A Política Nacional, que pode diminuir disparidades raciais na saúde, é pouco difundida. Existe a discriminação institucional, quando profissionais da área não estão preparados para atender a população negra ou até são preconceituosos, levando à diferenças e desvantagens no tratamento devido à raça”, explica a doutoranda da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Agnes Raquel Camisão.

Para Agnes Camisão, parte da população negra não se reconhece devido ao estereótipo negativo da raça,
 levando o negro a ser visto ainda pelo olhar do outro (Crédito: Caroline Roque)

Para Agnes, falta aos profissionais conhecer o Plano, por isso na academia precisa-se falar mais sobre o atendimento especializado à população negra, cujo tratamento deve ser diferenciado, considerando aspectos genéticos (responsáveis por maior incidência de algumas doenças em negros) e fatores sociais (como o racismo, gerador de diversas dificuldades desde o acesso à assistência até o encadeamento de enfermidades psicológicas).
“O preconceito é naturalizado e sendo o enfermeiro um educador por excelência, devemos ensinar o valor de uma raça para as pessoas”, afirma Agnes.

Foi considerando este cenário, que o Ministério da Saúde, lançou na terça-feira (25/11) a campanha contra o racismo no SUS. Com o slogan “Racismo faz mal à saúde. Denuncie!”, o objetivo é conscientizar a população de que o preconceito racial realmente afeta a saúde dos indivíduos. Para mais detalhes da campanha, você pode clicar neste link.

Dados do Ministério indicam que uma mulher negra recebe menos tempo de atendimento médico do que uma mulher branca. Os números mostram que, enquanto 46,2% das mulheres brancas tiveram acompanhante no parto, apenas 27% das negras utilizaram esse direito. Outro levantamento revela que 77,7% das mulheres brancas foram orientadas sobre a importância do aleitamento materno, enquanto 62,5% das mulheres negras receberam essa informação.

Segundo a pasta, as taxas de mortalidade materna infantil entre a população negra são superiores às registradas entre mulheres e crianças brancas. Os números mostram que 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34% entre mulheres brancas. Já na primeira semana de vida, a maioria das mortes é registrada entre crianças negras (47%) entre as brancas, o índice é 36%.

‘Doenças da pele’
As pessoas negras nascem com predisposição ao desenvolvimento de algumas doenças como, por exemplo, hipertensão arterial (pressão alta), diabetes, obesidade e anemia falciforme.

Porém, sabe-se também que a falta de atenção no acolhimento e tratamento, os índices de mortalidade mais alto e estresse psicossocial gerado pelo preconceito também afetam a saúde do grupo étnico, mas especificamente, a saúde mental, levando à doenças psíquicas.

“A população negra está adoecendo e morrendo por doenças da pele, algumas causadas pelos problemas de inferioridade”, alerta a psicóloga e educadora social Cinthia Cristina da Rosa Vilas Boas, militante do movimento negro há 10 anos.

Doenças predominantes na população negra exige a necessidade de um atendimento à saúde 
com equidade e igualdade (Crédito: Caroline Roque)

O racismo é uma violência que causa sofrimento psíquico e mexe com a emoção individual, que são definições internas, construídas a respeito de si e do mundo em que se vive.

Cinthia explica que o racismo paralisa ou mobiliza o indivíduo que é vítima do preconceito. Geralmente, em um primeiro momento, ele paralisa, o que pode acarretar em diversos resultados negativos em relação à saúde da pessoa, que no caso de reagir, passa a se mobilizar contra o que passou.

Segundo a psicóloga Cinthia Vilas Boas o ideal é não deixar que o racismo paralise o indivíduo,
 mas sim que o mobilize (Crédito: Caroline Roque)

“Para o profissional da saúde, é importante trabalhar a equidade do SUS, é importante que ele saiba trabalhar as diferenças. A população negra precisa saber dos direitos e as prioridades de tratamentos que têm”, ressalta a psicóloga.

“O mais importante é ser tratado como igual a partir das diferenças”, conclui Cinthia, ao alertar quanto à deficiência na rede básica de saúde quanto à assistência psicológica às vítimas de racismo e preconceito, que deixa a desejar em relação aos princípios do SUS.

A fim de avançar no tema, o Conselho Federal de Psicologia criou a resolução nº 018, em 2002, que estabelece normas de atuação para psicólogas e psicólogos em relação ao preconceito e discriminação racial.

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Editado por Jacqueline Fernandes.


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