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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A INVISIBILIDADE DO MASSACRE NA NIGÉRIA

Foto I Estadão

por Taciana Gacelin, para o Portal Correio Nagô*,
A pouca repercussão dada aos ataques terroristas praticados na cidade de Baga, região nordeste da Nigéria, chama a atenção do diretor da Casa da Nigéria na Bahia, Misbak Akani. Em entrevista ao portal Correio Nagô, Akani revelou sua preocupação com a situação do seu país. Segundo dados divulgados pela Anistia Internacional, na madrugada do dia 03 de janeiro, foram mortos pelo grupo Boko Haram, facção supostamente ligada ao Al Qaeda, cerca de 2 mil nigerianos. O governo do país africano afirma que o número de mortes é de aproximadamente 200 vítimas. Para Misbak Akani, não faz diferença a quantidade de assassinados no atentado. “São vidas perdidas. Porém, o fato não é muito importante para as autoridades internacionais. A cidade de Baga não interessa a eles, porque a região não afeta a economia mundial. Eles acham que o problema foi criado por nós e somos nós que temos de resolver”, frisa o diretor da Casa localizada no Centro Histórico de Salvador.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que se pronunciou, imediatamente, no caso envolvendo os atentados na França, demorou dias para falar sobre o ocorrido na África. “Nós nos comprometemos a trabalhar com a Nigéria e os países vizinhos para pôr fim à praga do Boko Haram e solicitamos que tomem medidas para conter a milícia”, afirmou o Departamento de Estado americano, em nota. “A vida de um francês vale muito mais do que a vida de um nigeriano. Os Estados Unidos dizem que dão apoio financeiro, econômico, militar, mas não vemos isso efetivamente”, pontua Akani.

Vinicius Gomes, da Revista Fórum, comenta que, ainda na terça-feira (13), 10 dias após o acontecimento, muitos corpos continuavam “estirados” no chão. Segundo ele, “um sobrevivente narra que não conseguiu andar por cinco quilômetros sem pisar em algum cadáver”. Em seu comentário, Vinicius aponta sobre o fato de líderes africanos não abordarem o assunto da tragédia que aconteceu em um país do continente deles. “No domingo (11), diversos líderes africanos voaram para Paris a fim de participar da marcha pela liberdade de expressão e contra o terrorismo, apesar de muitos não terem conseguido sair na foto principal. Não noticiou-se nenhuma prestação de condolência por parte deles em relação ao episódio que ocorreu em seu próprio continente – na realidade, nem mesmo o presidente do país, Goodluck Jonathan, se pronunciou sobre o massacre em Baga”, diz o jornalista.

De acordo com o diretor da Casa da Nigéria, Goodluck Jonathan está dando mais atenção ao fato agora, meses antes das eleições. Até o dia 08 de janeiro, o presidente não tinha dito nada a respeito do atentado. “No domingo (11), o presidente apareceu sorridente em fotos que circularam nas redes sociais celebrando o casamento de sua filha, Ine, realizado na véspera”, revela o G1.

Guga Chacra, comentarista internacional do jornal Estado de São Paulo e da Globo News, enumera cinco motivos que, segundo ele, não possibilitaram tanta visibilidade ao massacre na Nigéria como aconteceu com o país europeu. Ele fala que a questão se deve ao fato de que a França “ficou na vanguarda do ataque ao terrorismo”; pontua sobre a hipocrisia do ser humano, que não se comove tanto com “mortes de africanos”; cita a falta de informação das pessoas sobre o caso nigeriano; menciona a ‘familiaridade’ que as pessoas possuem com a França; faz referência à falta de jornalistas especializados em África e “pelo problema de não ter ocorrido manifestações envolvendo Baga”.

Misbaki Akani revela que há protestos no local onde aconteceu o ataque terrorista. “Elas podem não ser do nível do que acontece na França, mas existem’. Desde abril, quando o Boko Haram sequestrou cerca de 200 meninas, que há manifestações. As organizações internacionais enviaram agentes para investigar o caso, mas, até hoje, não se tem nenhum dado sobre o ocorrido”, fala.

O BOKO HARAM E A TRAGÉDIA NA NIGÉRIA

Boko Haram significa, em haussá, língua local, “educação ocidental ou não islâmica é um pecado”. Segundo eles, a culpa dos males existentes no mundo está ligada à cultura ocidental. O grupo tem como objetivo acabar com a democracia na Nigéria e não admitem que mulheres estudem.

Na madrugada do dia 03 de janeiro, o Boko Haram invadiu a cidade de Baga. Segundo relatos, o grupo chegou atirando granadas na população. Muitas pessoas que conseguiram fugir para suas casas foram incendiadas pela facção. Para fugir do atentado, alguns nigerianos tentaram atravessar o Lago Chade nadando, mas a maioria se afogou.

Fonte: Correionago

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